Atos 11.1 a 30
Atos 11.25 e 26 “Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo.
Quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Ali permaneceram com a igreja um
ano inteiro, ensinando a muitas pessoas. Foi em Antioquia que os discípulos foram
chamados de cristãos pela primeira vez”.
Distintivo de honra
O significado que hoje se dá para o adjetivo cristão é bem
diferente daquele usado pelas Escrituras. Em nossos dias, qualquer um que diz
acreditar em Deus e julga pertencer a uma religião denominada “cristã”, mesmo
que não a frequente com regularidade, acha-se no direito de dizer que é
cristão. Para eles, não importa o conteúdo da fé, o compromisso com a
comunidade local nem a conduta de vida que adotam. Aliás, alguns são tão
depravados em sua forma de viver que de maneira alguma fazem justiça ao nome.
A primeira vez que os discípulos de Jesus foram chamados de
cristão foi na cidade de Antioquia, conforme nós acabamos de ler no relato de
Lucas. O termo significa “do partido de Jesus” e, provavelmente, foi usado pela
primeira vez como forma de desdém ou de escárnio. Mas parece que os discípulos
de Jesus gostaram do “apelido”.
Pedro, por exemplo, quando escreveu para encorajar os
eleitos de Cristo que viviam dispersos, como estrangeiros e peregrinos, por
causa da perseguição, disse assim:
1 Pedro 4.14 a 16 “Se vocês forem insultados por causa do
nome de Cristo, abençoados serão, pois, o glorioso Espírito de Deus repousa
sobre vocês. Se sofrerem, porém, que não seja por matar, roubar, causar confusão
ou intrometer-se em assuntos alheios. Mas, se sofrerem por ser cristãos, não se
envergonhem, louvem a Deus por serem chamados por esse nome”.
O termo que foi usado para desdenhar havia se tornado um
distintivo de honra para a igreja primitiva. O historiador Eusébio (século 4
a.C.), falando de um certo mártir da igreja cujo nome era Sanctus, relata que
aos seus torturadores, quando eles o provocavam ou o indagavam, ele
simplesmente respondia: “Eu sou um cristão”.
O nome “cristão”, portanto, era e ainda deve ser um
distintivo de honra para os discípulos de Jesus Cristo. Sendo assim, convido
você para investigarmos o capítulo 11 de Atos e juntos descobrirmos como os
discípulos viviam e o que eles faziam que fez os moradores de Antioquia
chamá-los de “cristãos”.
Há três qualidades naqueles discípulos que desejo destacar
com vocês. Elas juntas fizeram o mundo chamá-los de cristãos. Veremos que
cristãos são um povo de braços abertos, boca aberta e bolso aberto. Simples
assim, mas profundamente impactante e revolucionário.
Veja
1 - Um povo de braços abertos
A primeira coisa que nós observamos sobre os discípulos de
Jesus e que deve ter impressionado a população de Antioquia é eles eram pessoas
de braços abertos para receber pessoas diferentes, eles não eram fechados para
outros povos e raças, a fé que eles proclamavam era para todos. Essa
diversidade impressionava o mundo antigo. Porém, não se engane achando que
nunca houve necessidade de alguns ajustes internos, para que eles pudessem
abrir os braços para outros povos e raças. Veja o texto.
Atos 11.1 a 3 “Logo chegou aos apóstolos e a outros irmãos
da Judeia a notícia de que os gentios haviam recebido a palavra de Deus. Mas,
quando Pedro voltou a Jerusalém, os discípulos judeus o criticaram, dizendo:
Você entrou na casa de gentios e até comeu com eles”.
Lembrem-se de que Pedro havia sido convencido pelo próprio
Deus de que a fé cristã era também para outros povos e raças, não apenas para
os judeus. Foi o que nós vimos na última mensagem, quando estudamos Atos 10.
Agora, porém, o “Conselho” de Jerusalém e da Judeia precisava ser, igualmente,
convencido.
Pedro, então, de boa vontade, passa a justificar as suas
ações. Como ele o faz?
O apóstolo narra como Deus trabalhou, ao mesmo tempo, nos
dois lados, mostrando tanto a ele como a Cornélio que deveriam se encontrar.
Pedro precisaria apresentar a Cornélio o evangelho, e Cornélio precisaria abrir
o coração para a mensagem de Pedro.
Atos 11.4 e 5 “Então Pedro lhes contou exatamente o que
havia acontecido. Disse…. Ao narrar Tim-Tim por Tim-Tim os fatos, até o final
do verso 18, Pedro manteve a ordem cronológica. Seu relato foi tão preciso e
tão detalhado que os irmãos de Jerusalém e da Judeia tiveram a chance de
reviver a experiência com Pedro.
Quatro pontos são marcantes na revisão que Pedro fez de sua
história com os gentios:
A - A visão sobre a queda das barreiras étnicas veio de Deus
Atos 11.5 a 10 “Eu estava na cidade de Jope e, enquanto
orava, num êxtase, tive uma visão. Algo semelhante a um lençol grande foi
baixado do céu, preso pelas quatro pontas, vindo até onde eu estava. Quando
olhei dentro do lençol, vi toda espécie de animais domésticos e selvagens,
répteis e aves. E ouvi uma voz dizer: Levante-se, Pedro, mate e coma. Eu
respondi: De modo nenhum, Senhor! Jamais comi coisa alguma que fosse
considerada impura ou imprópria. Mas a voz do céu falou novamente: Não chame de
impuro o que Deus purificou. Isso aconteceu três vezes, antes que o lençol, com
tudo que ele continha, fosse recolhido ao céu”.
B - A ordem para seguir os servos de Cornélio também veio de
Deus
Atos 11.11 e 12 “Nesse momento, três homens que haviam sido
enviados de Cesaréia chegaram à casa onde eu estava hospedado. O Espírito me
disse que eu fosse com eles, sem nada questionar. Esses seis irmãos me
acompanharam, e logo entramos na casa do homem que havia mandado nos buscar”.
C - A ação preparatória de Deus
Atos 11.13 e 14 “Ele nos contou como um anjo havia aparecido
em sua casa e dito: Envie mensageiros a Jope e mande buscar Simão, também
chamado Pedro. Ele lhe dirá como você e toda a sua casa podem ser salvos”.
D - A vinda do Espírito Santo
Atos 11.15 a 17 “Quando comecei a falar, o Espírito Santo
desceu sobre eles, como ocorreu conosco, no princípio. Então me lembrei das
palavras do Senhor, quando ele disse: João batizou com água, mas vocês serão
batizados com o Espírito Santo. E, uma vez que Deus deu a esses gentios a mesma
dádiva que concedeu a nós quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era eu
para me opor a Deus”.
Lucas, então, nos conta como foi a reação dos judeus
convertidos ao cristianismo:
Atos 11.18 “Ao ouvirem isso, pararam de levantar objeções e
começaram a louvar a Deus, dizendo: Vemos que Deus deu aos gentios o mesmo
privilégio de se arrepender e receber a vida eterna”.
Agora todos estavam no barco de Pedro,
de braços abertos para receberem os convertidos de todas as tribos, povos,
línguas e nações. Pois bem, barreiras derrubadas, como eles procedem? De que
forma eles abrem os braços para acolher e abençoar os novos crentes?
Atos 11.22 a 26 “Quando a igreja de Jerusalém soube do que
havia acontecido (o grande número de conversões em Antioquia atos 11.19 a 21),
enviou Barnabé a Antioquia. Ao chegar ali e ver essa demonstração da graça de
Deus, alegrou-se muito e incentivou os irmãos a permanecerem fiéis ao Senhor.
Barnabé era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. E uma grande
multidão se converteu ao Senhor. Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo.
Quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Ali permaneceram com a igreja um
ano inteiro, ensinando a muitas pessoas. Foi em Antioquia que os discípulos
foram chamados de cristãos pela primeira vez”.
Observe comigo algumas atitudes de quem tem braços abertos
para acolher:
A - Oferece-se o que se tem de melhor para abençoar, não foi
enviado um apóstolo, mas o melhor pastor que eles tinham: Barnabé (Atos 11.22).
B - Alegra-se com o mover de Deus na vida dos outros,
Barnabé, ao chegar em Antioquia e ver (note o que ele viu) a “demonstração da
graça de Deus”, ficou muito alegre (Atos 11.23).
C - Derrama-se bondade e amor na vida dos outros, Barnabé
era bom (Atos 11.24).
D - Divide-se o
trabalho com outras pessoas, mesmo que elas sejam melhores, Barnabé buscou
Paulo e o colocou no centro do palco da obra missionária (Atos 11.25).
E - Gasta-se tempo com as pessoas para poder discipulá-las,
Barnabé e Paulo “permaneceram com a igreja um ano inteiro, ensinando a muitas
pessoas” (Atos 11.26).
Os cristãos precisam ser conhecidos como um povo de braços
abertos para receber, acolher, cuidar e discipular o pecador. Não podemos ser,
por exemplo, como foi determinada igreja na vida de Mahatma Gandhi.
Li que, em sua autobiografia, Gandhi registra que em seu
tempo de estudante na Inglaterra ele foi profundamente tocado pela leitura dos
Evangelhos e, portanto, considerou seriamente a possibilidade de tornar-se
cristão. Sua impressão era que a fé cristã poderia oferecer uma verdadeira
solução para o sistema de castas que dividia o povo da Índia. Então, num
domingo, decidiu participar do culto de uma igreja e pedir ao pastor que lhe
esclarecesse algumas coisas sobre salvação e outras doutrinas. Mas quando ele
entrou no santuário, alguém da equipe de introdução se recusou a levá-lo a um
assento e sugeriu que Gandhi fosse a outro lugar para adorar com seu próprio
povo. De lá ele saiu e nunca mais voltou. A declaração dele para si mesmo, após
o episódio, foi a seguinte:
Se entre os cristãos também há diferenças de casta, eu posso
muito bem permanecer como um hindu!
Há um pequeno poema adaptado por Edwin Markham que bem
expressa a realidade de algumas “castas” que se denominam cristãs em contraste
com a graça de Jesus Cristo: Alguns desenham um círculo que deixa outros de
fora, Status e posição é tudo pelo que se implora, Mas Cristo, em amor, com
todos se importa, Ele desenha um círculo e abre-lhes a porta! Os cristãos devem
ser um povo de braços abertos.
2 - Um povo de boca aberta
Quando eu era menino, havia uma expressão popular bastante
usada para definir o indivíduo que por tudo se admira, o indivíduo simplório,
ou a pessoa lerda: “boca-aberta”.
Não é dessa forma que estamos usando a expressão “boca
aberta”. Boca aberta para nós significa falar de Jesus para todo mundo, não se
conter com o evangelho da graça, falar e não se calar por onde quer que se vá.
Dessa forma, os primeiros cristãos eram sim um bando de boca aberta.
Observe:
Atos 11.19 a 21 “Enquanto isso (enquanto Pedro se explicava
em Jerusalém), os discípulos que haviam sido dispersos na perseguição depois da
morte de Estêvão chegaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria. Pregaram
a palavra, mas somente aos judeus. Contudo, alguns dos discípulos que foram de
Chipre e Cirene até Antioquia começaram a anunciar aos gentios as boas-novas a
respeito do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles, e muitos desses
gentios creram e se converteram ao Senhor”.
Os cristãos, sob quaisquer circunstâncias, são chamados a
falar do amor de Deus. Irmãos, se não vemos nossas igrejas mais cheias, talvez
seja porque não estamos abrindo muito a boca para falar da graça de Jesus
Cristo aos que cruzam os nossos caminhos.
Certa feita, em Corinto, tomado pelo medo, Paulo ouviu o
Senhor lhe dizer:
Atos 18.9 a 11 “Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa
visão: Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, pois estou com você, e
ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me
pertence. Então Paulo permaneceu ali um ano e meio, ensinando a palavra de
Deus”.
A Timóteo, Paulo, anos mais tarde, escreveu:
2 Timóteo 4.1 a 5 “Eu lhe digo solenemente, na presença de
Deus e de Cristo Jesus, que um dia julgará os vivos e os mortos quando vier
para estabelecer seu reino: pregue a palavra. Esteja preparado quer a ocasião
seja favorável, quer não. Corrija, repreenda e encoraje com paciência e bom
ensino. Pois virá o tempo em que as pessoas já não escutarão o ensino
verdadeiro. Seguirão os próprios desejos e buscarão mestres que lhes digam
apenas aquilo que agrada seus ouvidos. Rejeitarão a verdade e correrão atrás de
mitos. Você, porém, deve manter a sobriedade em todas as situações. Não tenha
medo de sofrer. Trabalhe para anunciar as boas-novas e realize todo o
ministério que lhe foi confiado”. Os cristãos devem ser um povo de boca aberta.
3 - Um povo de bolso aberto
Além de braços abertos e de boca aberta, os cristãos são um
povo de bolso aberto.
Atos 11.27 a 30 “Durante esse tempo, alguns profetas
viajaram de Jerusalém a Antioquia. Um deles, chamado Ágabo, pôs-se em pé numa
das reuniões e predisse, pelo Espírito, que uma grande fome viria sobre todo o
mundo romano. (Isso se cumpriu durante o reinado de Cláudio.) Então os
discípulos de Antioquia decidiram enviar uma ajuda aos irmãos na Judeia, cada
um de acordo com suas possibilidades. Foi o que fizeram, enviando as doações
aos presbíteros por meio de Barnabé e Saulo”.
Veja que Ágabo, com discernimento divino, faz um
diagnóstico: haverá uma grande fome. A profecia não era para assustar, mas para
mobilizar. Os discípulos, por sua vez, abrem o bolso e ofertam com amor aos
seus novos irmãos de fé que moravam na Judeia, seus “pais” na fé.
Nossos braços abertos para acolher o pecador fazem expandir
a obra de Deus, já a boca aberta, falando do evangelho, consolida a obra de
Deus, e nossos bolsos abertos, abençoando e sustentando, autenticam a obra de
Deus através das obras de nossas mãos. Os cristãos devem ser um povo de bolso
aberto.
A origem do nome “cristão”
O nome cristão foi pela primeira vez aplicado aos discípulos
de Jesus porque aquela gente tinha os braços abertos para acolher o pecador, a
boca aberta para falar do evangelho e o bolço aberto para abençoar pessoas e
sustentar a obra de Deus.
Você é assim?
Tem seus braços abertos, abre a boca para falar, abre o
bolso para dizimar e ofertar?
Nossa igreja é assim?
Somos um povo de braços abertos para os que nos visitam ou
chegam aqui?
Abrimos a boca para anunciar o evangelho e para convidar as
pessoas?
Dizimamos e ofertamos como nos convém fazer?
Sejamos também chamados de cristãos, o mesmo tipo de
cristãos que havia em Antioquia: com braços abertos, boca aberta e bolsos
abertos.
Façamos justiça ao nome de cristão.
Que o Senhor nos abençoe com graça, misericórdia e paz.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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