Atos 4.23 a 37 “Quando foram soltos, Pedro e João voltaram
para os seus companheiros e contaram tudo o que os chefes dos sacerdotes e os
líderes religiosos lhes tinham dito. Ouvindo isso, levantaram juntos a voz a
Deus, dizendo: Ó Soberano, tu fizeste os céus, a terra, o mar e tudo o que
neles há! Tu falaste pelo Espírito Santo por boca do teu servo, nosso pai Davi:
Por que se enfurecem as nações, e os povos conspiram em vão? Os reis da terra
se levantam, e os governantes se reúnem contra o Senhor e contra o seu Ungido.
De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com o povo de
Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem
ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão
que acontecesse. Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus
servos para anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua mão para
curar e realizar sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus.
Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam reunidos, todos ficaram cheios
do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus. Da multidão dos
que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua
coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande
poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e
grandiosa graça estava sobre todos eles. Não havia pessoas necessitadas entre
eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da
venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a
necessidade de cada um. José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o
nome de Barnabé, que significa “encorajador”, vendeu um campo que possuía, trouxe
o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos”.
Bandeirantes é a denominação dada aos desbravadores do
período colonial, que penetraram nos sertões do que é hoje a nossa pátria.
Tidos como heróis por alguns e vilões por outros, os
bandeirantes saiam em expedições com pelo menos três propósitos:
1 - Em busca de riquezas minerais, sobretudo o ouro e a
prata, abundantes no interior do país.
2 - A caça de índios para escravização.
3 - A procura de quilombos com o objetivo de exterminá-los.
Os mais famosos bandeirantes nasceram no que é hoje o estado
de São Paulo. Foram em parte responsáveis pela conquista do interior e extensão
dos limites de fronteira do Brasil para além do limite do Tratado de
Tordesilhas (acordo firmado entre Portugal e Espanha com a intenção de dividir
a posse das terras do Novo Mundo). Com isso todo o Centro Oeste passou a
pertencer ao Brasil, sendo criadas, em 1748, as capitanias de Goiás e de Mato
Grosso.
Quando penso nos primeiros cristãos, gosto de fazer um
paralelo entre a força e a coragem deles com as mesmas dos bandeirantes
brasileiros, só que com significativas diferenças.
Por exemplo:
A bandeira dos bandeirantes da fé era Cristo (Atos 4.12).
As riquezas que eles buscavam eram vidas convertidas, isto
é: A fé em Cristo muito mais valiosa do que o ouro que perece (1 Pedro 1.7).
Em vez de caçar para escravizar, os bandeirantes da fé se
entregavam para salvar e libertar cativos do pecado (Atos 16.16 a 18).
Iam às primeiras comunidades de fé, às igrejas
recém-estabelecidas, não para destruí-las, mas para encorajar os crentes a
permanecer na fé (Atos 14.21 e 22), gosto de pensar nas igrejas como “quilombos
espirituais” (lugar de pouso, utilizado por populações nômades ou em
deslocamento, paragens e acampamentos, acampamento guerreiro, capital,
povoação, união, comunidades autônomas de escravos fugitivos, do pecado).
A expansão conquistada pelos bandeirantes da fé não foi
territorial, mas espiritual, através deles, o reino de Deus chegou aos confins
da terra. Gosto de pensar nos primeiros cristãos como os bandeirantes da fé:
Eles eram fortes e corajosos, espiritualmente ambiciosos (no melhor sentido do
termo, pois queriam ver pessoas salvas e discipuladas, sonhavam com a conquista
do mundo pelo evangelho), tinham o coro duro e o coração mole.
O texto de hoje nos revela o espírito desses primeiros
crentes, e ao estudá-lo nós podemos encher nossos cantis de coragem, carregar
nossas bagagens com fé e nos preparar para trilhar o caminho, desbravando a
selva de pedras que temos diante de nós para ser conquistada para Jesus Cristo.
O que nos ensinam os bandeirantes da fé?
1 - Perseguidos, mas não abandonados
Quando chegamos ao capítulo quatro do livro de Atos nós
descobrimos que perseguição e sofrimento foi um fator chave para o
aperfeiçoamento de qualidades na vida dos bandeirantes da fé. Oposição gerou
neles força, pois aprenderam a resistir firmes em suas convicções, a depender
de Deus para sobreviverem e uns dos outros para se encorajarem.
É digno de nota o texto que revela que, apesar de perseguidos,
o Senhor jamais nos abandona. A presença dele em nossas vidas faz toda a
diferença, para nós e para os outros que nos assistem. Interrogados pelas
autoridades que os haviam prendido, e após anunciar o evangelho aos
perseguidores, Pedro e João testemunham do cuidado de Deus com a vida deles.
Atos 4.13 “Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo
que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que
eles haviam estado com Jesus”.
2 - Pressionados, mas não desanimados
Após interrogarem e ouvirem a Pedro e João, as autoridades
se reuniram e tomaram uma decisão sobre o caso:
Atos 4.18 a 22 “Então, chamando-os novamente, ordenaram-lhes
que não falassem nem ensinassem em nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam:
Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e
não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos. Depois de
mais ameaças, eles os deixaram ir. Não tinham como castigá-los, porque todo o
povo estava louvando a Deus pelo que acontecera, pois, o homem que fora curado
milagrosamente tinha mais de quarenta anos de idade”.
Tamanha pressão, apesar da coragem inicial dos dois
apóstolos (versículo 19) e após os ânimos se esfriarem, tinha potencial o
bastante para fazer Pedro, João e os demais se desanimarem. Graças a Deus,
porém, não foi esse o caso. Por quê? O que os dois bandeirantes da fé fizeram a
seguir? Como aquele “quilombo espiritual” reagiu? Como a igreja se portou?
Respostas a essas perguntas nos ensinam como viver pressionados,
mas não desanimados. Observe as três atitudes seguintes daquele povo de fé.
2.a - Compartilharam
Atos 4.23 “Quando foram soltos, Pedro e João voltaram para
os seus companheiros e contaram tudo o que os chefes dos sacerdotes e os
líderes religiosos lhes tinham dito”.
O adjetivo companheiros não está no original grego, foi
adicionado ao texto português pelos tradutores para dar maior clareza à frase.
Na verdade, o versículo simplesmente diz que Pedro e João voltaram para os
seus, para aqueles que lhes pertenciam, para aqueles que, por serem deles, os
receberiam.
Lá, junto aos seus, o que eles fizeram? Eles compartilharam,
falaram do ocorrido, relataram o que ouviram, abriram e expuseram os seus
corações.
Compartilhamento é fundamental para não desanimarmos. Por
isso é que precisamos de pequenos grupos, de relacionamentos discipuladores,
amigos de alma, gente com quem se abrir e falar, pessoas que possam responder e
nos encorajar. Pressionados, mas não desanimados são aqueles que compartilham
com os seus companheiros.
2.b - Oraram
Os ouvidos de todos estavam antenados nas palavras dos
apóstolos Pedro e João. O resultado natural foi que eles se voltaram para Deus
em oração. Sobre a oração desses bandeirantes da fé, note o que segue.
A oração era coletiva, natural e espontânea, Atos 4.24
“Ouvindo isso, levantaram juntos a voz a Deus, dizendo…” oração foi ancorada na
soberania de Deus, Atos 4.24 a 28 “Ouvindo isso, levantaram juntos a voz a
Deus, dizendo: (Deus criador) Ó Soberano, tu fizeste os céus, a terra, o mar e
tudo o que neles há! (Deus no controle) Tu falaste pelo Espírito Santo por boca
do teu servo, nosso pai Davi: Por que se enfurecem as nações, e os povos
conspiram em vão? Os reis da terra se levantam, e os governantes se reúnem
contra o Senhor e contra o seu Ungido. De fato, Herodes e Pôncio Pilatos
reuniram-se com os gentios e com o povo de Israel nesta cidade, para conspirar
contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. (Deus com propósitos) Fizeram o
que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse”.
A oração foi guiada pelas Escrituras (Salmo 2)
Atos 4.25 a 30 “Tu falaste pelo Espírito Santo por boca do
teu servo, nosso pai Davi: Por que se enfurecem as nações, e os povos conspiram
em vão. Os reis da terra se levantam, e os governantes se reúnem contra o
Senhor e contra o seu Ungido. A oração foi para a glória do nome de Jesus
Cristo Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para
anunciarem a tua palavra corajosamente. Estende a tua mão para curar e realizar
sinais e maravilhas por meio do nome do teu santo servo Jesus”.
Pressionados, mas não desanimados são aqueles que oram com
os seus companheiros.
2.c - Anunciaram
Além de compartilharem e de orarem, aqueles bandeirantes da
fé não se calaram, eles anunciaram a Palavra de Deus.
Atos 4.31 “Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam
reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a
palavra de Deus”.
A pressão vem para nos desanimar, visando nos calar. O povo de
Deus, porém, busca no compartilhamento e na oração o enchimento do Espírito
Santo para continuarem anunciando corajosamente a palavra de Deus.
Pressionados, mas não desanimados são aqueles que compartilham, oram e anunciam
com os seus companheiros de fé.
3 - Perplexos, mas não desesperados
Os bandeirantes da fé eram perseguidos, mas não abandonados.
Pressionados, mas não desanimados. Ficavam perplexos, mas não desesperados.
A perplexidade da igreja primitiva vinha da perseguição
crescente que os assolava. Hebreus, por exemplo, nos dá um pequeno vislumbre do
ponto a que em breve chegaria à situação dos crentes em Jerusalém e de lá
dispersos.
Hebreus 10.33 e 34 “Algumas vezes vocês foram expostos a
insultos e tribulações, em outras ocasiões fizeram-se solidários com os que
assim foram tratados. Vocês se compadeceram dos que estavam na prisão e
aceitaram alegremente o confisco dos seus próprios bens, pois sabiam que
possuíam bens superiores e permanentes”.
Qualquer pessoa, naquela mesma situação, ficaria perplexo.
Graças a Deus, pois é possível ficar perplexo, mas não desesperado. Qual foi a
reação deles? Nada de desespero. O que vemos na vida dos bandeirantes da fé é
que quanto mais perseguidos, quanto mais pressionados, quanto mais perplexos,
mais eles se uniam, se amavam e cuidavam um do outro.
Afinal, para isto existe e igreja, o nosso quilombo
espiritual nesta vida passageira. Veja…
Atos 4.32 a 37 “Da multidão dos que creram, uma era a mente
e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse,
mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande poder os apóstolos continuavam
a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre
todos eles. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam
terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés
dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. José, um
levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa
“encorajador”, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos
pés dos apóstolos”.
Perplexos, mas não desesperados, pois tinham Deus, tinham o
Senhor Jesus Cristo e também tinham uns aos outros.
4 - Abatidos, mas não destruídos
Haviam necessitados entre eles, não somente pela pobreza
causada pelas desigualdades sociais, mas, principalmente, pelas injustiças
cometidas contra cristãos. Eles eram confiscados, demitidos, maltratados e
perseguidos. Alguns perdiam a vida e outros perdiam tudo o que tinham. Diante
desse quadro, todo mundo se abatia, tanto os necessitados quanto os que a tudo
assistia e vendiam suas coisas para ajudar.
Ficavam abatidos, mas não destruídos. Perplexos, mas não
desesperados. Pressionados, mas não desanimados. Perseguidos, mas não
abandonados.
Impressionante, pois, quanto mais eles sofriam, mais eles
engrossavam o coro e amoleciam o coração. Ficavam mais fortes sem perder a
doçura. Valentes sem deixar a ternura e o amor. Qual é o segredo desses
bandeirantes da fé?
Eles tinham a Deus e uns aos outros, Cristo e comunhão, o
resto era para ser gasto, investido e entregue no reino de Deus, produzindo
vida eterna.
Que o espírito dos bandeirantes da fé seja também o nosso
espírito, carreguemos a bandeira de Cristo, busquemos as riquezas da fé em
Cristo, libertemos os cativos do pecado, encorajemos uns aos outros ao amor e
às boas obras, espalhemos o reino de Deus por onde formos.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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