Atos 6.1 a 7 “Naqueles dias, crescendo o número de
discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala
hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de
alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: Não é certo
negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas.
Irmãos escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e
de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao
ministério da palavra. Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão,
homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom,
Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia.
Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as
mãos. Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de
discípulos em Jerusalém, também um grande número de sacerdotes obedecia à fé”.
Iceberg
“Algumas igrejas são como icebergs”, afirmou Charles R.
Swindoll. Iceberg é uma grande massa de gelo flutuante que se desprendeu da
geleira, e que flutua sem rumo nos mares ou, às vezes, encalha junto à costa. A
parte imersa é, em média, sete vezes mais alta que a emersa.
Por que algumas igrejas são como icebergs
Primeiro, porque são grandes. Certamente era grande a igreja
primitiva reunida em Jerusalém. A última contagem, em Atos 4.4, revela que só o
numero de homens chegava “perto de cinco mil”. Juntando mulheres e crianças
congregadas, John MacArthur Jr. contabiliza 20 mil pessoas.
Segundo, porque icebergs, ao se romperem da geleira, flutuam
na direção da maré. Vão aonde o vento toca. A igreja primitiva estava a ponto
de se desprender do essencial, daquilo que ancora e sustenta (palavra de Deus e
oração, Atos 6.2 a 4) para flutuar sem rumo nos mares dos interesses pessoais.
O crescimento exponencial estava quase desviando a igreja do curso.
Terceiro, algumas igrejas são como icebergs porque a maior
parte do que elas realmente são não pode ser vista, pois está submersa em águas
profundas. O que se enxerga é apenas a ponta do iceberg e os detritos que
aquela massa poderosa acumula e arrasta consigo.
Em Atos 6.1 a 7 nós podemos ver sinais perturbadores de que
aquela igreja tão jovem já tinha acumulado detritos de ciúme, desconfiança e
preconceito. A lua de mel havia acabado. Não era mais só flores. Apareceram
espinhos os problemas começaram a vir à tona. Na medida em que novas pessoas
chegavam e se juntavam a eles, elas somavam aos deles os pecados que traziam.
Quanto mais gente, mais problema. Assim é que se aqueles detritos não fossem
descartados com urgência, muito em breve a igreja se partiria ao meio.
Eles precisavam se organizar, precisavam de organização
espiritual.
Atenção!
Igrejas, na medida em que crescem e os anos vão passando,
precisam se atentar para alguns perigos que rondam toda e qualquer organização
eclesiástica.
Vejamos quatro desses perigos antes de examinarmos a solução
que a igreja de Jerusalém adotou.
Perda do propósito - Reuniões, negócios, decisões e as
pressões das necessidades diversas tendem fazer a igreja perder o seu
propósito. Prédio e programas tomam o lugar das pessoas. A treliça se sobrepõe
à videira.
Desperdício de energia - Quanto maior a igreja tanto maior
as demandas. Resultado: as prioridades vão sendo deixadas de lado (Palavra,
oração, relacionamentos, discipulado), pois há incêndios hoje, aqui e agora,
que precisam ser apagados. Então, a igreja começa a desperdiçar energia com coisas
urgentes e deixa de lado as coisas importantes ou essenciais.
Terceirização do ministério - Muita gente, muita coisa e
poucos para trabalhar. O que fazer? A igreja começa a contratar pessoas para
fazer o serviço, para tocar o ministério. Os membros tornam-se expectadores,
sócios remidos que veem, usufruem e vão embora. Quem é pago para fazer o
trabalho que se vire e quem “paga” pelo serviço exige controle de qualidade.
Indiferença com o outro - É muito fácil se acomodar na
tradição e se perder na multidão. Quem está há muito tempo na igreja não quer
perder “direitos adquiridos” e quem chega não consegue se encaixar. Resultado:
saem e procuram outro lugar ou ficam e brigam para fazer prevalecer a sua
vontade ou aprendem a conviver sem se importar.
Quais são os riscos que corremos? Perda do propósito,
desperdício de energia, terceirização do ministério e indiferença com o outro.
No caso da igreja primitiva foi o último perigo que precisou ser combatido,
eles precisaram se organizar para combater a indiferença com o outro: As viúvas
de fala gregas.
Organização espiritual
Quando se fala em organização, as igrejas, geralmente, caem
em um de dois extremos. Algumas, não se organizam e desprezam estruturas, pois
entendem que devem seguir o Espírito Santo. Já outra, organizam-se e se
estruturam de tal forma que mais se parecem com uma corporação comercial do que
com o corpo de Cristo. Ambos os extremos devem ser evitados, evidentemente.
Nesse ponto, a reação da igreja de Jerusalém ao problema nos
apresenta uma forma equilibrada de construirmos uma organização espiritual.
John MacArthur Jr., em seu comentário no livro de Atos, escrevendo sobre esta
passagem, anotou assim:
O crescimento explosivo da igreja trouxe consigo necessidade
de maior organização. Ela já era, de alguma forma, organizada. Sabiam quantos
eram, reuniam-se em locais específicos, celebravam batismos e a ceia do Senhor,
supriam as necessidades uns dos outros… Todas aquelas atividades requeriam
algum tipo de organização. Isso ilustra um princípio importante: Organização
bíblica da igreja sempre responde as necessidade e ao que o Espírito já está
fazendo. Organizar um programa e, então, esperar que o Espírito Santo se
envolva naquilo é colocar o carro na frente dos bois.
Não ousemos forçar o Espírito a se adaptar ao nosso molde. A
organização nunca é um fim em si mesma, mas apenas um meio de facilitar o que o
Senhor está fazendo em sua igreja.
A organização espiritual dos apóstolos revela quatro
princípios de sábia liderança e atuação da igreja, bem como o resultado que
sempre se espera no meio e através de povo de Deus.
Observe
Encarando o problema
Atos 6.1 “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos,
os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica
(murmuravam contra os apóstolos), porque suas viúvas estavam sendo esquecidas
na distribuição diária de alimento”.
Definindo a prioridade
Atos 6.2 a 4 “Por isso os Doze reuniram todos os discípulos
e disseram: Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim
de servir às mesas, ...Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração
e ao ministério da palavra”.
Selecionando as pessoas
Atos 6.3 a 6 ‘Irmãos, escolham entre vocês sete homens de
bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria (espirituais e práticos).
...Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e
do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau,
um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens
aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos”.
Executando o plano
Atos 6.7 “Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia
rapidamente o número de discípulos em Jerusalém, também um grande número de
sacerdotes obedecia à fé”.
Princípios de valor atemporal
O que teria ocorrido se os apóstolos não tivessem sabiamente
conduzido à igreja através daquele momento turbulento? Os cristãos gregos
poderiam ter dividido a igreja, os apóstolos poderiam ter abandonado a
prioridade da palavra de Deus e da oração (deixado o importante para cuidar do
urgente), enfim, o movimento inicial da grande comissão teria se enfraquecido e
a chama se apagado.
Graças a Deus, porém, o oposto ocorreu, a chama ardeu ainda
mais forte e o evangelho chegou aos confins da terra. Desse episódio, portanto,
podemos aprender lições valiosas que poderão nos ajudar quando formos
confrontados com problemas em nossa igreja.
Boa liderança não nos exime de problemas. Imagine uma igreja
pastoreada pelos doze apóstolos. Mesmo assim aquela igreja enfrentaria
dificuldades.
Somos todos pecadores.
Crescimento explosivo não desculpa a falta de cuidado com as
pessoas. Gente capacitada deve exercer seus dons e servir outras pessoas. Fomos
salvos para servir. Necessidades urgentes não requerem que se perca o que é
prioritário. Capacitando e delegando, pastores não devem se sobrecarregar e
negligenciar a Palavra e a oração.
Igreja grande não precisa ser fria e indiferente. Através de
uma estratégia bíblica e inteligente, os relacionamentos discipuladores e os
pequenos grupos multiplicadores poderão criar uma atmosfera de fé, de esperança
e de amor.
Organização espiritual
A organização espiritual que transforma a igreja na potência
explosiva que foi a igreja primitiva requer membros com mentalidade totalmente
diferente da que estamos acostumados a cultivar.
Pregação e ensino que sejam bíblicos, não do tipo
especulativo, filosófico, psicológico, entretenimento ou autoajuda. Atividades
que enfatizem pessoas, não programas, que sejam realizadas com base nos dons
espirituais e não no calendário eclesiástico. Pessoas que vivam para Deus e
para o próximo, não para si mesmas, seus desejos e suas realizações pessoais.
Igreja com membros que pensem no todo, não no seu grupo de interesse.
Fundamentada nesses princípios, organizada dessa maneira e
cultivando uma mentalidade dessa natureza, a igreja primitiva cresceu para
alcançar Jerusalém, Judeia, Samaria e chegar aos confins da terra.
Deus abençoa a nossa igreja.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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