Atos 4.1 a 22
O capítulo quatro de Atos registra a primeira perseguição da
igreja.
Cheios do Espírito Santo, os primeiros discípulos estavam
aprendendo a conviver dentro da igreja (Atos 2) e a compartilhar a fé fora de
seus portões (Atos 3). Ainda nas primeiras oportunidades que tiveram de falar
de Cristo e de fazer discípulos, aqueles crentes se depararam com o principal
adversário do cristianismo: A religião. Pedro e João, a caminho do cárcere,
devem ter se lembrado e sido encorajados pelas palavras proféticas de Jesus:
Marcos 13.9 a 11 “Fiquem atentos, pois vocês serão entregues
aos tribunais e serão açoitados nas sinagogas. Por minha causa vocês serão
levados à presença de governadores e reis, como testemunho a eles. E é
necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as nações. Sempre que
forem presos e levados a julgamento, não fiquem preocupados com o que vão
dizer. Digam tão-somente o que lhes for dado naquela hora, pois não serão vocês
que estarão falando, mas o Espírito Santo”.
Pedro e João foram presos por causa do judaísmo. Foi à
religiosidade fanática dos judeus que trancou os apóstolos atrás daquelas
grades. Toda religião possui a mesma característica fundamental: Seus
seguidores estão tentando chegar a Deus, achar Deus ou agradar a Deus através
de méritos ou de sacrifícios pessoais. Enquanto na religião o homem tenta ir na
direção Deus, no cristianismo Deus vem na direção do homem.
O cristianismo reivindica que o homem é incapaz de encontrar
a Deus, mas Deus o encontra; o homem é incapaz de desejar a Deus, mas Deus
escolhe os seus e os atrai graciosamente.
A religião vive obcecada com um único pensamento: Ser bom o
bastante para merecer o favor de Deus. Ela coloca o ser humano sobre uma
esteira de exercícios religiosos, sugando sangue e suor, na expectativa de se
obter as medidas exatas que renderão a aprovação de Deus. No entanto, o
resultado é sempre o mesmo: Fracasso e frustração. Além de massacrar seus
adeptos, a religião hostiliza, persegue, fere e até mata todos os que
contradizem seu sistema. Charles Swindoll bem resumiu o ataque da religião ao
cristianismo ainda em sua nascente:
A religião zombou da afirmação que Cristo fez de sua
divindade. Ela tremeu de raiva quando ele disse que o pecado bloqueia o nosso
caminho para Deus. Ela cerrou seus punhos quando os seguidores de Cristo
pregaram que ele é a única ponte para a vida eterna. Então, quando ela se
deparou com a liberdade que Jesus Cristo provê, a religiosidade legalista
estava pronta para combater.
É sempre assim, meus irmãos, a religião sempre rejeita
Cristo como único e suficiente Deus salvador, ela não admite a depravação total
que o pecado nos legou com todas as suas consequências espirituais, emocionais
e sociais, ela abomina o fato maravilhoso de que nós só amamos porque Deus nos
amou primeiro e o que de nós se requer é tão somente fé ou a alegria da fé
(Filipenses 1.25).
O meu objetivo para hoje é olharmos para a igreja perseguida
de Atos 4, buscando aprender com o ataque da religião e com o contra-ataque dos
cristãos. Esse quadro pintado por Lucas serve muito bem de paradigma para a
caminhada dos crentes em todas as épocas.
O ataque da religião
Desde a chegada do Espírito Santo no dia de Pentecoste, o
cristianismo seguia ganhando os corações das pessoas. Tudo estava acontecendo
bem debaixo dos narizes dos líderes religiosos de Israel, que pensaram ter dado
um jeito naqueles “perturbadores” da paz quando mataram Jesus na cruz. Só que
não!
Atos 4.1 a 4 “Enquanto Pedro e João falavam ao povo,
chegaram os sacerdotes, o capitão da guarda do templo e os saduceus. Eles
estavam muito perturbados porque os apóstolos estavam ensinando o povo e
proclamando em Jesus a ressurreição dos mortos. Agarraram Pedro e João e, como
já estava anoitecendo, os colocaram na prisão até o dia seguinte. Mas muitos
dos que tinham ouvido a mensagem creram, chegando o número dos homens que
creram a perto de cinco mil”.
Tentaram caçar a palavra de Pedro e João, mas não
conseguiram. As portas do inferno não prevalecem contra a igreja. Através do
primeiro sermão de Pedro, foram três mil pessoas (Atos 2.47) e agora, no
segundo, mais cinco mil que o Senhor acrescentava à igreja (Atos 4.4). A
história da igreja revela que quanto mais se tranca os mensageiros, mais o
Senhor destranca a sua Palavra. Apesar de tentar, a perseguição não para o
progresso do evangelho.
Observem comigo, em primeiro lugar, as características do
ataque religioso.
Quando ameaçada, a religião exercita intimidação. Observe
quantas pessoas e quanto poder foram mobilizados para calar três cristãos
indefesos, sendo que um deles era um ex-aleijado e recém-convertido.
At 4.1 a 6 “Enquanto Pedro e João falavam ao povo, chegaram
os sacerdotes, o capitão da guarda do templo e os saduceus. Eles estavam muito
perturbados porque os apóstolos estavam ensinando o povo e proclamando em Jesus
a ressurreição dos mortos. Agarraram Pedro e João e, como já estava
anoitecendo, os colocaram na prisão até o dia seguinte. Mas muitos dos que
tinham ouvido a mensagem creram, chegando o número dos homens que creram a
perto de cinco mil. No dia seguinte, as autoridades, os líderes religiosos e os
mestres da lei reuniram-se em Jerusalém. Estavam ali Anás, o sumo sacerdote,
bem como Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da família do sumo sacerdote”.
Mobilizaram todo tipo de gente que puderam, de todas as
classes, da classe política, militar e religiosa, para fazer calar o
cristianismo. Quando ameaçada, a religião exercita intimidação. Quando
insegura, a religião enfatiza tradição. Observe que entre os dignatários
presentes estavam homens cujas linhagens retrocediam até às dos sumos
sacerdotes do antigo Israel.
Atos 4.6 “Estavam ali Anás, o sumo sacerdote, bem como
Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da família do sumo sacerdote”.
Esse corpo de veneráveis teve suas origens nos tempos do
Antigo Testamento, quando Moisés chamou para perto de si 70 homens que pudessem
ajudá-lo a julgar questões civis e religiosas em Israel. Ao longo dos anos,
tudo aquilo desaguou na figura do sinédrio. Quando insegura, a religião
enfatiza tradição. Quando suspeita, a religião emprega interrogatório. Observe
a postura, a petulância e o pouco caso dessa casta religiosa.
Atos 4.7 “Mandaram trazer Pedro e João diante deles e
começaram a interrogá-los: Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram
isso?”
Gente, é sempre assim, os religiosos, tanto os de fé como os
seculares, quando ameaçados, exercitam intimidação, quando inseguros, enfatizam
tradição, quando suspeitos, empregam interrogatório. Normalmente, intimidação,
tradição e interrogatório desencorajam os cristãos a perseverarem na
proclamação, mas não foi esse o caso de Pedro. O apóstolo sabia que, não
importa quão portentosa ou prodigiosa, a religião tem as suas limitações. Tendo
observado as características do ataque religioso, agora observem comigo as suas
limitações.
A religião não tem o enchimento do Espírito Santo. Note como
e por que Pedro, diante de tamanha intimidação, da pressão da tradição e da
humilhação do interrogatório prosseguiu falando corajosamente.
Atos 4.8 e 9 “Então Pedro, cheio do Espírito Santo,
disse-lhes: Autoridades e líderes do povo. Visto que hoje somos chamados para
prestar contas de um ato de bondade em favor de um aleijado, sendo interrogados
acerca de como ele foi curado”.
A religião é cega para a obra de Jesus Cristo. Aqueles
religiosos não tinham como negar o milagre, e a única explicação para aquela
cura fabulosa era a obra poderosa do Cristo ressurreto. Eles, no entanto, cegos
e preconceituosos que eram, não conseguiam enxergar.
Atos 4.10 e 11 “saibam os senhores e todo o povo de Israel
que por meio do nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem os senhores
crucificaram, mas a quem Deus ressuscitou dos mortos, este homem está aí curado
diante dos senhores. Este Jesus é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram,
e que se tornou a pedra angular”. A religião fica estática diante da mensagem
do evangelho. Pedro estava pregando salvação através de Jesus Cristo.
Observe:
Atos 4.12 “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do
céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos”.
As religiões quase sempre caminham pela estrada do amor e
das boas obras. Eventualmente todas elas se deparam com uma encruzilhada no
caminho:
Seguir a Cristo ou permanecer no sistema religioso. Essa
verdade sempre ofende os religiosos porque eles creem que salvação se obtém com
atos intrínsecos de bondade. Ficam, portanto, estáticos diante da mensagem do
evangelho e da sua necessidade de salvação. Negam o nome de Jesus.
A religião é silenciada pelas vidas transformadas. A fala de
Pedro não derreteu os corações dos membros do Conselho, mas todos eles ficaram,
de alguma forma, impressionados.
Atos 4.13 e 14 “Vendo a coragem de Pedro e de João, e
percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e
reconheceram que eles haviam estado com Jesus. E como podiam ver ali com eles o
homem que fora curado, nada podiam dizer contra eles”.
Aqueles religiosos podiam argumentar teoricamente, debater
lei e teologia, mas eles não tinham como refutar os fatos: Homens comuns e sem
instrução falavam articuladamente e um homem que foi aleijado de nascença agora
podia andar. O que dizer? Disseram nada. A religião é silenciada pelas vidas
transformadas com o poder do evangelho.
Sem desejo de aceitar, sem condições de explicar e sem
palavras para descrever o poder do evangelho, a religião segue seu rumo com
politicagem, pressão e perseguição. Note que Lucas só narrou o que vem a seguir
porque alguém que um dia foi parte daquele sistema se converteu e relatou tudo
o que se passou.
Atos 4.15 a 22 “Assim, ordenaram que se retirassem do
Sinédrio e começaram a discutir, perguntando: Que faremos com esses homens?
Todos os que moram em Jerusalém sabem que eles realizaram um milagre notório
que não podemos negar. Todavia, para impedir que isso se espalhe ainda mais
entre o povo, precisamos adverti-los de que não falem com mais ninguém sobre
esse nome. Então, chamando-os novamente, ordenaram-lhes que não falassem nem
ensinassem em nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: Julguem os senhores
mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. Pois
não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos. Depois de mais ameaças,
eles os deixaram ir. Não tinham como castigá-los, porque todo o povo estava
louvando a Deus pelo que acontecera, pois o homem que fora curado
milagrosamente tinha mais de quarenta anos de idade”.
O contra-ataque dos cristãos
A forma como Pedro e João reagiram ao ataque dos religiosos
ensina como os cristão devem contra-atacar em caso de perseguição. Aliás, o que
temos aqui é uma pequena amostra de como nós devemos viver neste mundo.
1 - Andar com Jesus sem se envergonhar
Atos 4.13 “Vendo a coragem de Pedro e de João, e percebendo
que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que
eles haviam estado com Jesus”.
Letrar-se na Bíblia. Seguir Jesus. Ser discípulo. Viver pela
fé a vida de Cristo.
2 - Buscar o enchimento do Espírito Santo para falar
Atos 4.8 “Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes”.
Ler, estudar, conhecer e falar as Escrituras. Pedro explica
como isso se dá, escrevendo em sua primeira carta.
1 Pedro 4.11 “Se alguém fala, faça-o como quem transmite a
palavra de Deus. Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que
em todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo”.
3 - Praticar o amor sem se intimidar
Atos 4.9 e 20 “Visto que hoje somos chamados para prestar
contas de um ato de bondade em favor de um aleijado, sendo interrogados acerca
de como ele foi curado”, “Pois não podemos deixar de falar do que vimos e
ouvimos”.
4 - Destacar o nome de Cristo para o exaltar
Atos 4.10 a 12 “saibam os senhores e todo o povo de Israel
que por meio do nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem os senhores
crucificaram, mas a quem Deus ressuscitou dos mortos, este homem está aí curado
diante dos senhores. Este Jesus é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram,
e que se tornou a pedra angular. Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo
do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos”.
5 - Viver na comunhão da igreja para não desanimar
Atos 4.23 e 24 “Quando foram soltos, Pedro e João voltaram
para os seus companheiros e contaram tudo o que os chefes dos sacerdotes e os
líderes religiosos lhes tinham dito. Ouvindo isso, levantaram juntos a voz a
Deus”
A igreja sob ataque
Igreja e crentes estão sob ataque. Você já percebeu? Sente a
perseguição? Como você contra-ataca?
Você anda com Jesus? Os outros notam? Como? Envergonha-se
dele?
Como você busca o enchimento do Espírito Santo?
De que forma você pratica o amor?
Com quem você está compartilhado o nome de Cristo?
Como é a sua comunhão na igreja?
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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