25/08/2020

Atos dos apóstolos 02- Trinta anos que mudaram o mundo

 

Atos 1.8 “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.

A expansão da fé cristã

Atos dos Apóstolos é um livro fascinante. Lendo a sua história, nós encontramos uma dezena de temas cruciais e cativantes, tais quais:

Cristianismo, igreja, ministério, pregação, conversão, salvação, Espírito Santo, missões, evangelização, discipulado, plantação de igreja, formação de líderes, estilo de vida cristã, perseguição e martírio, oração, compaixão e graça e muitos, muitos outros assuntos estimulantes. Como nós precisamos desse tônico divino para reacender a chama de Cristo em nossos corações!

Além do estímulo que nos traz, Atos dos Apóstolos apresenta a expansão do cristianismo, de Jerusalém a Roma, de Jerusalém, passando por Judeia e Samaria, até chegar aos confins da terra. Tudo isso em apenas três décadas!

O impacto do cristianismo

A história narrada por Lucas aconteceu, aproximadamente, entre os anos 33 e 64 depois de Cristo. Aqueles trinta anos iniciais do cristianismo mudaram o mundo. A Igreja, de lá para cá, cresceu ao ponto de se tornar o maior grupo religioso que o mundo jamais conheceu, transformando as vidas de centenas de milhares de pessoas ao redor do globo. Atualmente, com mais de dos bilhões de adeptos, o cristianismo representa pouco mais de um terço da população mundial e é indiscutível o impacto por ele causado na civilização, na cultura, na família, na educação, na medicina, na liberdade e nos direitos sociais, etc.

A necessidade que temos de Atos dos Apóstolos

Você sabe o que é mais impressionante? A sementeira de tudo isso, o período quando essas conquistas fincaram raízes decisivas, foram os 30 anos narrados pelo livro de Atos dos Apóstolos. Nós precisamos dessa história!

O que nós podemos aprender desses cristãos que em tão pouco tempo conseguiram virar o mundo de cabeça para baixo? Deixando de lado as diferenças culturais e as singularidades históricas, o que as atitudes e o estilo de vida da Igreja Primitiva trazem hoje de implicações?

Precisamos abraçar, individual e coletivamente, o padrão de como Deus age e intervém para fazer o seu Reino avançar. Para continuar escrevendo a história da Igreja com a mesma paixão e a mesma dedicação encontradas nos primeiros crentes, nós precisamos do livro de Atos dos Apóstolos.

A situação histórica de Atos dos Apóstolos

Para compreendermos alguma coisa da magnitude das conquistas dos primeiros cristãos, antes de mergulharmos no livro de Atos, precisamos entender duas coisas:

1 - Quais eram as forças que os ajudavam.

2 - Quais as forças que agiam contra eles na cultura em que estavam.

Eram substanciais, ambas as forças.

1 - Três vantagens para os primeiros crentes

Na importante obra: Evangelização na Igreja Primitiva, Michael Green traça, já no primeiro capítulo, “Os caminhos da evangelização”. Ele argumenta que havia a conjugação de três elementos (forças) que beneficiaram a expansão da Igreja.

1.a - A paz romana

Durante quase 100 anos, o império romano foi rasgado por sucessivas guerras civis até a ascensão de Augusto César, em 31 a.C. Desde então, a paz reinou pelo império, trazendo estabilidade e boas comunicações, através das grandes estradas romanas que facilitaram muito a disseminação do Evangelho. Lucas relata viagens que antes teriam sido impossíveis. Ficou rápido e seguro viajar.

1.b - A cultura grega

Outro fator que ajudou no avanço da Igreja de Cristo foi à cultura grega.

A língua grega: embora o latim fosse à língua oficial, a maioria falava grego. É importante notar que Paulo discursou aos oficiais romanos em grego. Esse foi o motivo por que o Novo Testamento foi escrito em grego, o que assegurou uma compreensão universal.

O pensamento grego: Não se pode separar a língua grega do pensamento grego. Pensadores gregos começaram a atacar as crueldades, os adultérios, as traições, as guerras e as mentiras atribuídas aos deuses gregos, e os criticavam. Os cristãos, portanto, não foram os primeiros a atacar o grosseiro politeísmo antropomórfico do povo. Os filósofos gregos tinham no desmascarado muito tempo antes. Platão e Aristóteles, por exemplo, impulsionaram esse movimento em direção ao monoteísmo.

As religiões gregas: Religiões emotivas e entusiásticas, para o bem ou para o mal, já existiam no mundo greco-romano. Elas se propunham a ajudar as pessoas em seus problemas cotidianos, dar-lhes imortalidade e fazê-los compartilhar suas vidas com os deuses. Ou seja: ao mesmo tempo que estavam abertos para a espiritualidade, eram totalmente pagãos.

O mundo de Atos dos Apóstolos estava inundado de religiões esotéricas, ocultistas e de mistério. Havia os cultos de Cibele (Ásia Menor), Dionísio (Grécia), Ísis e Osíris (Egito), Mitras (Pérsia). Todos prometiam perdão, pureza, prosperidade (segurança) e imortalidade. Todos tinham seus rituais e sacrifícios.

Portanto, com a paz romana e a cultura grega, com estradas, paz e segurança romanas; também com a língua, o pensamento e as expressões de fé gregas, o cristianismo estava servido de “pontes” para continuar avançando com a chama do evangelho de Cristo. Mas, havia algo mais…

1.c - A fé judaica

Os romanos nunca entenderam os judeus, mas muitos os respeitaram e foram atraídos ao judaísmo, especialmente por causa do seu monoteísmo, do seu livro sagrado (o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, a Septuaginta, no século 2 a.C. em Alexandria) e do seu tipo de culto.

 Aplicação

Paulo tinha consciência dessas vantagens para o cristianismo do primeiro século (paz romana + cultura grega + fé judaica). Aos Gálatas, ele escreveu:

Gálatas 4.4 e 5 “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos”.

O apóstolo reconhece o momento histórico exato, preparado por Deus Pai, para o Filho nascer, crescer, morrer, ressuscitar e enviar seus discípulos a pregar. Quando depende do Espírito de Deus, o cristão descobre que Deus é quem abre as portas para ele testemunhar e iniciar um relacionamento discipulador de sucesso com as pessoas que vão surgindo em seu caminho.

A “plenitude do tempo”, que foi o período de Cristo e de Atos dos Apóstolos, revela que Deus mesmo é quem constrói as pontes adiante de nós, fazendo-nos chegar aos que precisam ouvir e receber de nós o ensino do Evangelho. Essas pessoas estão sendo preparadas por Deus neste exato momento para que, fruto do nosso trabalho, sejam colhidas para a salvação e a comunhão da igreja.

2 - Duas barreiras para os primeiros crentes

Além das vantagens, os primeiros crentes encontraram grandes barreiras no caminho para a evangelização, o discipulado e a plantação de igrejas. Era uma tarefa árdua a que tinham os primeiros cristãos. Para os gregos, a mensagem do Evangelho era louca; para os romanos, era fraca (pois, ao ser confrontado, dava a outra face!); e para os judeus, escandalosa. Crentes em toda parte enfrentaram oposição, foram criticados e perseguidos como antissociais, ateístas, promíscuos, desordeiros e esquisitos.

2.a - O Evangelho era escandaloso para os judeus

Não era fácil, e não é até hoje, para um judeu seguir a Cristo.

Os mensageiros eram, na maioria, iletrados e incultos (Atos 4.13). Os judeus estavam acostumados com os rabis eruditos.

A mensagem soava como afronta ao judaísmo. A proclamação do nome de Jesus, como o Messias, o mesmo carpinteiro de Nazaré que tinha nascido de uma mulher fora do casamento, era algo incompreensivelmente escandalosa para o judeu. Pior ainda, o livro da lei dizia que “o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus” (Deuteronômio 21.23). Então, Jesus, pela sua morte na cruz, falhou e foi maldito. Era ridículo e ofensivo sugerir que tal indivíduo era o Messias prometido.

A maneira de ser da igreja era algo blasfemo. Os crentes não observavam o antigo sistema sacrifical, não praticavam circuncisão e não frequentavam o templo. Não é para ficar surpreendido com a reação violenta dos judeus contra a defesa de Estevão (Atos 7.54). Aonde os crentes iam, havia tumultos, pois eram instigados pelos judeus (Atos 13.50, 14.1 a 5 e 19, 17.5 a 9).

2.b - O Evangelho era loucura para os gentios

O gentio (a pessoa não judia), quando deparava o cristianismo, achava loucura a fé cristã. Primeiro, por causa da posição religiosa, que enfrentava oposição e sofria perseguição. Segundo, porque os crentes pregavam que havia um só Deus e proibiam a confecção e a adoração de imagens. Os romanos tinham muitos deuses, que formavam parte do culto do Estado. A pessoa que não se envolvia nas observâncias religiosas dos velhos deuses tornava-se ameaça ao Estado. Também os romanos não entendiam os crentes que tinham um rito de “comer o corpo de Jesus”, isso soava-lhes como canibalismo.

A vida social dos cristãos também não era nada atraente. Não frequentavam o teatro e não gostavam das histórias dos deuses. Eram tidos como incultos e antissociais. Havia ainda tensão familiar, quando, por exemplo, a esposa tornava-se cristã e o marido permanecia no estado de sempre. Era muito difícil um casamento misto funcionar. Em cada área da vida, o crente daquele tempo enfrentava muitos obstáculos. Se achamos ser difícil ganhar pessoas para Cristo hoje, aqui no ocidente, devemos ser gratos por não termos vivido nos dias da Igreja Primitiva, quando a tarefa era imensamente mais difícil, custando muitas vezes a própria vida.

As similaridades entre o mundo de Atos e o nosso

É fácil pensar que os primeiros crentes eram totalmente diferentes de nós. Mas, além do que já vimos, há semelhanças notáveis que devem nos encorajar.

A - Seu contexto era os centros urbanos, o alvo dos primeiros crentes era as grandes cidades, tais como: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Filipos, Roma, Corinto. Todas eram cidades chave. A influência das cidades grandes é muito importante para a evangelização. Atos, como veremos na caminhada pelo livro, tem muito a nos ensinar.

B - Seu contexto era de pluralismo de ideias, eles não flertavam com as outras ideologias, simplesmente proclamavam Cristo com todo o poder de persuasão ao seu dispor. Havia diferenças na maneira de apresentar o Evangelho, por exemplo, no meio do paganismo de Listra (Atos 14.11 a 18) e no contexto filosófico de Atenas (Atos 17.16 a 31). Essa é uma lição importante para nós, que aprenderemos no caminho.

C - Seu contexto era de rejeição, às vezes, havia apatia, como em Atenas, outras vezes era oposição total e até perseguição e morte. Os primeiros cristãos viviam tempos propícios, mas desafiadores, carregados de toda sorte de dificuldades. Ouça o que Michael Green, sobre eles, escreveu: Jesus encarregou um pequeno grupo de onze homens para executar sua obra e levar o evangelho a todo o mundo (Mateus 28.19 a 20). Eles não eram pessoas importantes, nem bem instruídas, e também não tinham atrás de si pessoas influentes. Não eram ninguém em seu país e, de qualquer forma, seu Israel não passava de uma província de segunda classe na extremidade oriental do mapa romano. Se eles tivessem parado para avaliar as chances de sucesso de sua missão, mesmo tendo a convicção de que Jesus estava vivo e que seu Espírito os acompanhava para equipá-los para sua tarefa, eles teriam desanimado; tão grandes eram as condições adversas. Como eles conseguiram? Mesmo assim eles conseguiriam.

Trinta anos que mudaram o mundo

Como eles conseguiram? O que eles fizeram em apenas trinta anos que foi revolucionário e impactante naqueles dias e é ainda agora? A síntese de tudo está em Atos 1.8, e com ela nós encerramos a mensagem de hoje. Atos 1.8 “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.

1. Mudaram o mundo em trinta anos por causa da mensagem

“Serão minhas testemunhas”. Cristo era a essência da mensagem dos primeiros discípulos: A vida de Cristo, a morte de Cristo e a ressurreição de Cristo. Paulo sintetizou bem o foco da mensagem da Igreja Primitiva, quando escreveu aos Coríntios.

1 Coríntios 2.1 a 5 “Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloquente, nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus. Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês. Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus”.

A mensagem da cruz tinha e tem como propósito salvar e santificar o pecador, levando-o a reconhecer e a adorar a Deus como Senhor.

2 - Mudaram o mundo em trinta anos por causa do método

“Serão minhas testemunhas”. Eles eram testemunhas, carregavam na vida e na voz (esse é o significado de mártir, testemunha) a verdade do evangelho de Cristo. Eram pessoas de caráter e de conduta transformados. Testemunhavam de forma pública e também particular. Evangelizavam e discipulavam. Oravam. Adoravam a Deus. Exerciam compaixão e graça. Formavam líderes. Plantavam igrejas. Esses eram os métodos ou princípios multiplicadores da Igreja que mudou o mundo em apenas trinta anos.

Assim é que a Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira adotou a estratégia atual, chamada de Igreja Multiplicadora. O que é a visão de Igreja Multiplicadora? Em um movimento de retorno aos princípios do Novo Testamento, a Igreja Multiplicadora é uma visão de desenvolver a multiplicação intencional de discípulos baseada em 5 princípios bíblicos para crescimento: Oração, evangelização discipuladora, plantação de igrejas, formação de líderes e compaixão e graça. Esses princípios, desenvolvidos com base nos relacionamentos discipuladores, (vida na vida) e impulsionados pelos pequenos grupos multiplicadores, resgatam o foco principal da Igreja de Cristo, que é investir em vidas, obedecendo a grande comissão de Cristo em nossa “Jerusalém” e até aos confins da Terra! Mudaram o mundo em trinta anos por causa da mensagem, do método.

3 - Mudaram o mundo em trinta anos por causa da mentalidade

“Serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. Mudaram o mundo em trinta anos porque não ficaram com os olhos só em si. Tinham os olhos voltados para fora. Para os outros, para os que eram iguais e para os que eram diferentes. Queriam alcançar todos para a glória de Deus. Conhecedor que era do livro de Atos, John Wesley afirmou: “A minha congregação é o mundo”. Nós cresceremos e mudaremos o mundo quando erguermos os olhos e vermos que os campos estão brancos para a colheita.

4 - Mudaram o mundo em trinta anos por causa da musculatura

“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. Mudaram o mundo em trinta anos porque tinham músculos de aço: estavam cheios do Espírito Santo. Oravam e viviam com intrepidez espiritual.

Trinta anos que mudaram o mundo

O que você precisa mudar para transformar o mundo ao seu redor? (Comodismo)

A Igreja Primitiva mudou o mundo em apenas 30 anos por causa…

Da mensagem (Cristo crucificado), do método (oração, evangelização discipuladora, plantação de igrejas, formação de líderes, compaixão e graça), da mentalidade (tinham os olhos para os campos), da musculatura (eram cheios do Espírito Santo).

O que ainda nos falta como igreja para mudarmos o mundo? O que falta a você para mudar o mundo?

Conheça o evangelho. Assimile os métodos de Atos do Apóstolo. Tire os olhos de si mesmo. Busque ser cheio do Espírito Santo.

Somente dessa forma é que nós mudaremos o mundo.

Fale comigo: mapirola@yahoo.com

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