Atos 2.1 a 4 “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos
reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito
forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia
línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o
Espírito os capacitava”.
A vida da vida
Um corpo sem alma (ou espírito) está morto, da mesma forma
que a vida cristã sem o Espírito é inconcebível e até impossível.
John Stott afirma que: Não pode haver vida sem o doador da
vida, nem entendimento sem o Espírito da verdade, nem comunhão sem a unidade do
Espírito, nem caráter semelhante a Cristo sem o furto do Espírito, nem
testemunho efetivo sem o seu poder. Assim como um corpo sem respiração é um
cadáver, a igreja sem o Espírito é morta.
Lucas, o autor do livro de Atos, sabia disso. Dos quatro
evangelistas, ele é o que mais enfatiza o Espírito Santo. Tanto em Atos como em
Lucas, o inspirado escritor demonstrou a indispensabilidade da capacitação do
Espírito.
Em Lucas, somos informados de que Jesus dependeu do Espírito
Santo para realizar o ministério que havia recebido do Pai.
Lucas 3.21 e 22 “Quando todo o povo estava sendo batizado,
também Jesus o foi. E, enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito
Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma
voz: Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado”.
Lucas 4.1, 14, 17 a 19 “Jesus, cheio do Espírito Santo,
voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, …Jesus voltou para a
Galiléia no poder do Espírito, e por toda aquela região se espalhou a sua fama.
…Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde
está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para
pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos
e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano
da graça do Senhor”.
Em Atos, foram os apóstolos que dependeram do Espírito Santo
para cumprirem a grande comissão de Jesus Cristo.
Atos 1.5 e 8 “Pois João batizou com água, mas dentro de
poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” …Mas receberão poder
quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em
Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
Atos 2.32 e 33 “Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós
somos testemunhas desse fato. Exaltado à direita de Deus, ele recebeu do Pai o
Espírito Santo prometido e derramou o que vocês agora veem e ouvem”.
Os dois primeiros capítulos de Atos, referem-se à promessa,
ao envio, ao batismo, ao poder e à plenitude do Espírito Santo na vida dos
primeiros discípulos de Jesus Cristo, elementos indispensáveis para que haja
vida na vida e multiplicação de vida, para que haja conversão (novo
nascimento), crescimento (santificação) e compartilhamento (grande comissão).
O Pentecoste
Antes de nos aprofundarmos no texto (o que nós faremos na
próxima mensagem), permitam-me fazer quatro observações sobre o Pentecoste.
O Pentecoste não pode ser repetido. Ele foi o ato final do
ministério salvador de Cristo antes de sua segunda vinda. Os eventos da vida e
do ministério de Jesus entre nós foram únicos e, portanto, não se repetem; ou
seja:
1 - Ele nasceu conforme a nossa humanidade, viveu sem pecado
a nossa vida, morreu pelos nossos pecados, ressuscitou dos mortos, subiu ao
céu, enviou o seu Espírito aos discípulos para que fosse constituída a igreja e
nela fosse aperfeiçoado o que conquistara para os seus e, por fim, ele virá
para julgar os vivos e os mortos, bem como buscar o seu povo redimido. O Natal,
a Sexta-feira dita Santa, a Páscoa, a Ascensão e o Dia de Pentecostes são
celebração anuais, mas o nascimento, a morte, a ressurreição, a ascensão e o
envio do Espírito Santo que os primeiros discípulos testemunharam aconteceram
uma única vez e não serão repetidos. O próximo evento será a vinda de Cristo.
2 - O Pentecoste foi o cumprimento da promessa de Jesus. Ele
trouxe aos apóstolos a ferramenta de que eles precisavam para exercer o seu
papel especial. Cristo lhes havia constituído testemunhas primárias e
autorizadas, além de lhes ter prometido o ministério do Espírito Santo para
lhes ensinar e lhes fazer lembrar de seus ensinos. O Pentecoste foi o
cumprimento da promessa da chegada do Espírito Santo (João 14.16 e 17).
3 - O Pentecoste inaugurou o novo tempo do Espírito. Embora
a sua vinda tenha sido um acontecimento histórico único e sem repetição, todo o
povo de Deus pode agora, sempre e em qualquer lugar beneficiar-se de seu
ministério. Embora o Espírito tenha equipado os apóstolos para serem testemunha
primárias, ele também nos equipa para que sejamos testemunhas secundárias.
Embora a inspiração do Espírito só tenha sido dada aos apóstolos, a iluminação
e a plenitude do Espírito é para todos os cristãos e em todos os tempos.
4 - O Pentecoste foi o primeiro reavivamento. Ou seja: ele
exemplifica aquelas visitações especiais de Deus, nas quais igrejas inteiras
tornam-se conscientes da proximidade e da presença poderosa do Espírito de
Deus. É possível que os fenômenos físicos (Atos 2.2 a seguir), a profunda
convicção de pecado (Atos 2.37), convenções em massa (Atos 2.41) e o sentimento
de temor que se espalhou (Atos 2.43) sejam sinais de “reavivamento”.
No entanto, precisamos ter cuidado para não cairmos em um de
dois extremos:
1 - Diminuir nossas expectativas ou negar a possibilidade de
novas visitações poderosa do Espírito de Deus.
2 - Achar que a vida normal da igreja seja aqueles momentos
de imensa excepcionalidade da parte de Deus.
O vento, o fogo e, provavelmente, as línguas, eram anormais,
fenômenos extraordinários, mas a nova vida, a alegria, a comunhão, o culto e o
poder para pregar eram manifestações ordinárias.
O dia de Pentecoste
Outra observação preliminar importante a ser feita é sobre o
dia em si. Em Atos 2.1, nós lemos: “Chegando o dia de Pentecoste”. Por que o
dia de Pentecoste é importante?
A festa tinha dois significados: Um agrícola e outro
histórico.
Significado agrícola. Ela era a segunda de três festas
anuais dos judeus, onde se comemorava a ceifa (o fim da colheita dos cereais)
e, por isso, chamava-se Festa da Colheita. Outro nome a ela atribuído era Festa
das Semanas ou Pentecoste, pois acontecia sete semanas ou 50 dias após a Páscoa
(o grego pentekostos, significa quinquagésimo), dia em que se iniciava a
colheita dos cereais.
Significado histórico. Já perto do fim do período
intertestamentário, começou-se a observá-la também como aniversário da entrega
total da lei no Monte Sinai, pois se sabia que isso acontecia 50 dias após o
Êxodo (Páscoa).
Há, portanto, no dia de Pentecoste, um belíssimo e duplo
simbolismo: De ceifa e de entrega da lei. Certamente houve uma grande ceifa de
três mil almas naquele dia, os primeiros frutos da grande comissão recebida de
Jesus. Sobre isto, Crisóstomo escreve que “havia chegado a hora de lançar a
foice da Palavra, pois aqui, tal como uma foice afiada, desceu o Espírito (para
colher almas)”.
Os profetas consideravam idênticas as duas promessas da Nova
Aliança.
Veja:
Ezequiel 36.27 “Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a
agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis’.
Jeremias 31.33 “Esta é a aliança que farei com a comunidade
de Israel depois daqueles dias, declara o Senhor: Porei a minha lei no íntimo
deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu
povo”.
Quando o Espírito Santo entra em nossos corações ele escreve
lá a sua lei, como Paulo ensinou claramente (Romanos 2.29). É disso, portanto,
que trata o Pentecoste: Crentes que foram, pela graça, por meio da fé, colhidos
pelo Espírito e, agora, em seus corações foram gravadas as leis de Deus.
Para Lucas era tão clara essa imagem do Espírito gravando a
lei nos corações dos discípulos que a forma como ele descreveu os
acontecimentos sobrenaturais do dia de Pentecoste (vento, fogo e vozes) remete
o bom conhecedor do Antigo Testamento aos acontecimentos do Monte Sinai.
Observe:
Atos 2.1 a 4 “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos
reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito
forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia
línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram
cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o
Espírito os capacitava”.
Hebreus 12.18 a 21 “Vocês não chegaram ao monte que se podia
tocar, e que estava em chamas, nem às trevas, à escuridão, nem à tempestade, ao
soar da trombeta e ao som de palavras tais, que os ouvintes rogaram que nada
mais lhes fosse dito, pois não podiam suportar o que lhes estava sendo
ordenado: Até um animal, se tocar no monte, deve ser apedrejado. O espetáculo
era tão terrível que até Moisés disse: Estou apavorado e trêmulo”.
Cristão pentecostal
O Pentecoste, portanto, nada tem a ver com as esquisitices
que se vê em alguns segmentos por aí, entre igrejas ditas evangélicas, aquelas
descritas como igrejas “do fogo”, de gente que, em êxtase, diz estar
desfrutando do “Pentecoste do Espírito”, mas que nelas nada se vê de vida no
Espírito. Longe disto está o verdadeiro significado do Pentecoste narrado por
Lucas.
O Pentecoste em Atos dos Apóstolos nos remete ao cumprimento
da poderosa salvação prometida pelo Senhor (Lucas 1.69), salvação esta que
acontece através da regeneração e da santificação do Espírito, dando-nos
apetite espiritual e gravando em nós a Palavra que é poderosa para nos salvar
(Tiago 1.21).
Assim é que um crente, verdadeiramente “pentecostal”, longe
de ser alguém poderoso em carisma, mas falto no caráter (como as pessoas que,
infelizmente, vemos tão comumente por ai), é alguém que: Salvo e habitado pelo Espírito Santo, é
levado por Deus a agir segundo a Palavra de Deus (Ezequiel 36.27), é gente com
fruto, fruto do Espírito, e que por ter as leis de Deus gravadas em seu coração,
desfruta de doce comunhão com o seu Deus, contentando-se em apenas ser filho de
Deus (Jeremias 31.33).
Crente pentecostal, portanto, é alguém salvo, santo e
satisfeito em Cristo. O dia de Pentecoste tem tudo a ver com conversão e
contentamento, com novo nascimento e compartilhamento, com fé e fruto. Nada a
ver com experiências espirituais inexplicáveis que camuflam coração e caráter
corrompidos, nada a ver com dons sem demonstração de novidade de vida.
Observações e aplicações
Deus permitindo, na próxima vez que juntos abrirmos o livro
de Atos, voltaremos a este texto para nos aprofundarmos no tema “a chegada do
Espírito Santo”. Há mais para apreender desta narrativa. Por exemplo: qual é o
significado desses três fenômenos (vento, fogo e línguas)? O que aconteceu com
os apóstolos, nos apóstolos e através dos apóstolos? Veremos tudo isso na
próxima ocasião. Por ora, concluiremos essa exposição bíblica fazendo algumas
observações e aplicações.
1 - A vida cristã só é possível por causa do Espírito Santo:
Ela começa com a operação do Espírito Santo, que nos
regenera ou nos faz nascer de novo, produzindo em nós arrependimento e fé.
Ela continua com a atuação do Espírito Santo, que nos
santifica, nos satisfaz e nos sinaliza os caminhos pelos quais nós devemos
seguir.
Logo, é cheio do Espírito que nós devemos viver.
De uma vida cheia do Espírito dependem a nossa compreensão
da verdade, a nossa comunhão em unidade, a construção do caráter de Cristo em
nós e o cumprimento da grande comissão de Jesus. Assim como o corpo sem
respiração é um cadáver, uma pessoa ou uma igreja sem o Espírito é morta.
2 - O Pentecoste não serve como padrão para os tipos de
fenômenos que se deve esperar ou se buscar (vento, fogo, línguas), mas como
indicação de que o tempo do Espírito chegou. Pentecoste foi cumprimento de
promessa. O crente agora conta com o poder de Deus para viver em novidade de
vida e para testemunhar de Jesus Cristo.
3 - O fenômeno do Pentecoste está mais relacionado a caráter
do que a carisma, mais com a lei gravada pelo Espírito no coração, conduzindo o
crente, do que com as línguas que confundem os cristãos. Falaremos mais sobre
línguas na próxima mensagem.
4 - Portanto, seja sim um crente pentecostal, ou seja:
Busque ser cheio do Espírito (receba, estude e guarde a Palavra).
Viva e ande no Espírito (ore sem cessar).
Cultive o fruto do Espírito (desenvolva a sua salvação).
Fale de Cristo no poder do Espírito (anuncie o Evangelho).
É disso que trata o dia de Pentecoste.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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