25/08/2020

Atos dos apóstolos 06 - O dia de Pentecoste

 

Atos 2.1 a 4 “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava”.

A vida da vida

Um corpo sem alma (ou espírito) está morto, da mesma forma que a vida cristã sem o Espírito é inconcebível e até impossível.

John Stott afirma que: Não pode haver vida sem o doador da vida, nem entendimento sem o Espírito da verdade, nem comunhão sem a unidade do Espírito, nem caráter semelhante a Cristo sem o furto do Espírito, nem testemunho efetivo sem o seu poder. Assim como um corpo sem respiração é um cadáver, a igreja sem o Espírito é morta.

Lucas, o autor do livro de Atos, sabia disso. Dos quatro evangelistas, ele é o que mais enfatiza o Espírito Santo. Tanto em Atos como em Lucas, o inspirado escritor demonstrou a indispensabilidade da capacitação do Espírito.

Em Lucas, somos informados de que Jesus dependeu do Espírito Santo para realizar o ministério que havia recebido do Pai.

Lucas 3.21 e 22 “Quando todo o povo estava sendo batizado, também Jesus o foi. E, enquanto ele estava orando, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado”.

Lucas 4.1, 14, 17 a 19 “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, …Jesus voltou para a Galiléia no poder do Espírito, e por toda aquela região se espalhou a sua fama. …Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”.

Em Atos, foram os apóstolos que dependeram do Espírito Santo para cumprirem a grande comissão de Jesus Cristo.

Atos 1.5 e 8 “Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” …Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.

Atos 2.32 e 33 “Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós somos testemunhas desse fato. Exaltado à direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou o que vocês agora veem e ouvem”.

Os dois primeiros capítulos de Atos, referem-se à promessa, ao envio, ao batismo, ao poder e à plenitude do Espírito Santo na vida dos primeiros discípulos de Jesus Cristo, elementos indispensáveis para que haja vida na vida e multiplicação de vida, para que haja conversão (novo nascimento), crescimento (santificação) e compartilhamento (grande comissão).

O Pentecoste

Antes de nos aprofundarmos no texto (o que nós faremos na próxima mensagem), permitam-me fazer quatro observações sobre o Pentecoste.

O Pentecoste não pode ser repetido. Ele foi o ato final do ministério salvador de Cristo antes de sua segunda vinda. Os eventos da vida e do ministério de Jesus entre nós foram únicos e, portanto, não se repetem; ou seja:

1 - Ele nasceu conforme a nossa humanidade, viveu sem pecado a nossa vida, morreu pelos nossos pecados, ressuscitou dos mortos, subiu ao céu, enviou o seu Espírito aos discípulos para que fosse constituída a igreja e nela fosse aperfeiçoado o que conquistara para os seus e, por fim, ele virá para julgar os vivos e os mortos, bem como buscar o seu povo redimido. O Natal, a Sexta-feira dita Santa, a Páscoa, a Ascensão e o Dia de Pentecostes são celebração anuais, mas o nascimento, a morte, a ressurreição, a ascensão e o envio do Espírito Santo que os primeiros discípulos testemunharam aconteceram uma única vez e não serão repetidos. O próximo evento será a vinda de Cristo.

2 - O Pentecoste foi o cumprimento da promessa de Jesus. Ele trouxe aos apóstolos a ferramenta de que eles precisavam para exercer o seu papel especial. Cristo lhes havia constituído testemunhas primárias e autorizadas, além de lhes ter prometido o ministério do Espírito Santo para lhes ensinar e lhes fazer lembrar de seus ensinos. O Pentecoste foi o cumprimento da promessa da chegada do Espírito Santo (João 14.16 e 17).

3 - O Pentecoste inaugurou o novo tempo do Espírito. Embora a sua vinda tenha sido um acontecimento histórico único e sem repetição, todo o povo de Deus pode agora, sempre e em qualquer lugar beneficiar-se de seu ministério. Embora o Espírito tenha equipado os apóstolos para serem testemunha primárias, ele também nos equipa para que sejamos testemunhas secundárias. Embora a inspiração do Espírito só tenha sido dada aos apóstolos, a iluminação e a plenitude do Espírito é para todos os cristãos e em todos os tempos.

4 - O Pentecoste foi o primeiro reavivamento. Ou seja: ele exemplifica aquelas visitações especiais de Deus, nas quais igrejas inteiras tornam-se conscientes da proximidade e da presença poderosa do Espírito de Deus. É possível que os fenômenos físicos (Atos 2.2 a seguir), a profunda convicção de pecado (Atos 2.37), convenções em massa (Atos 2.41) e o sentimento de temor que se espalhou (Atos 2.43) sejam sinais de “reavivamento”.

No entanto, precisamos ter cuidado para não cairmos em um de dois extremos:

1 - Diminuir nossas expectativas ou negar a possibilidade de novas visitações poderosa do Espírito de Deus.

2 - Achar que a vida normal da igreja seja aqueles momentos de imensa excepcionalidade da parte de Deus.

O vento, o fogo e, provavelmente, as línguas, eram anormais, fenômenos extraordinários, mas a nova vida, a alegria, a comunhão, o culto e o poder para pregar eram manifestações ordinárias. 

O dia de Pentecoste

Outra observação preliminar importante a ser feita é sobre o dia em si. Em Atos 2.1, nós lemos: “Chegando o dia de Pentecoste”. Por que o dia de Pentecoste é importante?

A festa tinha dois significados: Um agrícola e outro histórico.

Significado agrícola. Ela era a segunda de três festas anuais dos judeus, onde se comemorava a ceifa (o fim da colheita dos cereais) e, por isso, chamava-se Festa da Colheita. Outro nome a ela atribuído era Festa das Semanas ou Pentecoste, pois acontecia sete semanas ou 50 dias após a Páscoa (o grego pentekostos, significa quinquagésimo), dia em que se iniciava a colheita dos cereais.

Significado histórico. Já perto do fim do período intertestamentário, começou-se a observá-la também como aniversário da entrega total da lei no Monte Sinai, pois se sabia que isso acontecia 50 dias após o Êxodo (Páscoa).

Há, portanto, no dia de Pentecoste, um belíssimo e duplo simbolismo: De ceifa e de entrega da lei. Certamente houve uma grande ceifa de três mil almas naquele dia, os primeiros frutos da grande comissão recebida de Jesus. Sobre isto, Crisóstomo escreve que “havia chegado a hora de lançar a foice da Palavra, pois aqui, tal como uma foice afiada, desceu o Espírito (para colher almas)”.

Os profetas consideravam idênticas as duas promessas da Nova Aliança.

Veja:

Ezequiel 36.27 “Porei o meu Espírito em vocês e os levarei a agirem segundo os meus decretos e a obedecerem fielmente às minhas leis’.

Jeremias 31.33 “Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias, declara o Senhor: Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo”.

Quando o Espírito Santo entra em nossos corações ele escreve lá a sua lei, como Paulo ensinou claramente (Romanos 2.29). É disso, portanto, que trata o Pentecoste: Crentes que foram, pela graça, por meio da fé, colhidos pelo Espírito e, agora, em seus corações foram gravadas as leis de Deus.

Para Lucas era tão clara essa imagem do Espírito gravando a lei nos corações dos discípulos que a forma como ele descreveu os acontecimentos sobrenaturais do dia de Pentecoste (vento, fogo e vozes) remete o bom conhecedor do Antigo Testamento aos acontecimentos do Monte Sinai.

Observe:

Atos 2.1 a 4 “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava”.

Hebreus 12.18 a 21 “Vocês não chegaram ao monte que se podia tocar, e que estava em chamas, nem às trevas, à escuridão, nem à tempestade, ao soar da trombeta e ao som de palavras tais, que os ouvintes rogaram que nada mais lhes fosse dito, pois não podiam suportar o que lhes estava sendo ordenado: Até um animal, se tocar no monte, deve ser apedrejado. O espetáculo era tão terrível que até Moisés disse: Estou apavorado e trêmulo”.

Cristão pentecostal

O Pentecoste, portanto, nada tem a ver com as esquisitices que se vê em alguns segmentos por aí, entre igrejas ditas evangélicas, aquelas descritas como igrejas “do fogo”, de gente que, em êxtase, diz estar desfrutando do “Pentecoste do Espírito”, mas que nelas nada se vê de vida no Espírito. Longe disto está o verdadeiro significado do Pentecoste narrado por Lucas.

O Pentecoste em Atos dos Apóstolos nos remete ao cumprimento da poderosa salvação prometida pelo Senhor (Lucas 1.69), salvação esta que acontece através da regeneração e da santificação do Espírito, dando-nos apetite espiritual e gravando em nós a Palavra que é poderosa para nos salvar (Tiago 1.21).

Assim é que um crente, verdadeiramente “pentecostal”, longe de ser alguém poderoso em carisma, mas falto no caráter (como as pessoas que, infelizmente, vemos tão comumente por ai), é alguém que:  Salvo e habitado pelo Espírito Santo, é levado por Deus a agir segundo a Palavra de Deus (Ezequiel 36.27), é gente com fruto, fruto do Espírito, e que por ter as leis de Deus gravadas em seu coração, desfruta de doce comunhão com o seu Deus, contentando-se em apenas ser filho de Deus (Jeremias 31.33).

Crente pentecostal, portanto, é alguém salvo, santo e satisfeito em Cristo. O dia de Pentecoste tem tudo a ver com conversão e contentamento, com novo nascimento e compartilhamento, com fé e fruto. Nada a ver com experiências espirituais inexplicáveis que camuflam coração e caráter corrompidos, nada a ver com dons sem demonstração de novidade de vida.

Observações e aplicações

Deus permitindo, na próxima vez que juntos abrirmos o livro de Atos, voltaremos a este texto para nos aprofundarmos no tema “a chegada do Espírito Santo”. Há mais para apreender desta narrativa. Por exemplo: qual é o significado desses três fenômenos (vento, fogo e línguas)? O que aconteceu com os apóstolos, nos apóstolos e através dos apóstolos? Veremos tudo isso na próxima ocasião. Por ora, concluiremos essa exposição bíblica fazendo algumas observações e aplicações.

1 - A vida cristã só é possível por causa do Espírito Santo:

Ela começa com a operação do Espírito Santo, que nos regenera ou nos faz nascer de novo, produzindo em nós arrependimento e fé.

Ela continua com a atuação do Espírito Santo, que nos santifica, nos satisfaz e nos sinaliza os caminhos pelos quais nós devemos seguir.

Logo, é cheio do Espírito que nós devemos viver.

De uma vida cheia do Espírito dependem a nossa compreensão da verdade, a nossa comunhão em unidade, a construção do caráter de Cristo em nós e o cumprimento da grande comissão de Jesus. Assim como o corpo sem respiração é um cadáver, uma pessoa ou uma igreja sem o Espírito é morta.

2 - O Pentecoste não serve como padrão para os tipos de fenômenos que se deve esperar ou se buscar (vento, fogo, línguas), mas como indicação de que o tempo do Espírito chegou. Pentecoste foi cumprimento de promessa. O crente agora conta com o poder de Deus para viver em novidade de vida e para testemunhar de Jesus Cristo.

3 - O fenômeno do Pentecoste está mais relacionado a caráter do que a carisma, mais com a lei gravada pelo Espírito no coração, conduzindo o crente, do que com as línguas que confundem os cristãos. Falaremos mais sobre línguas na próxima mensagem.

4 - Portanto, seja sim um crente pentecostal, ou seja:

Busque ser cheio do Espírito (receba, estude e guarde a Palavra).

Viva e ande no Espírito (ore sem cessar).

Cultive o fruto do Espírito (desenvolva a sua salvação).

Fale de Cristo no poder do Espírito (anuncie o Evangelho).

É disso que trata o dia de Pentecoste.

Fale comigo: mapirola@yahoo.com

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