Atos 1.8 “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer
sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e
Samaria, e até os confins da terra”.
A chama olímpica
Este ano o Brasil está recebendo, na cidade do Rio, os jogos
olímpicos 2016. Depois de passar por Grécia e Suíça, a chama olímpica chegou ao
nosso país no último dia 03 de maio. O percurso começou em Brasília e, após
correr mais de 300 cidades, terminará no Rio de Janeiro, no dia 4 de agosto,
para a abertura da cerimônia e o acendimento da pira (fogueira) olímpica. A
chama é o maior símbolo do espírito olímpico. A torre com a pira olímpica
apareceu pela primeira vez nos jogos olímpicos de 1928, em Amsterdã. Quatro
anos mais tarde, nos jogos olímpicos de 1932, voltou-se a acender uma chama
durante os jogos no estádio de Los Angeles. Durante a cerimônia de encerramento
foi apresentada uma citação de Pierre de Coubertin que dizia: “Que a Tocha
Olímpica siga o seu curso através dos tempos para o bem da humanidade cada vez
mais ardente, corajosa e pura”.
A Bíblia traça semelhante transmissão, de um para o outro e
de geração para geração. Há, porém, uma diferença significativa: A chama
narrada no Livro Sagrado não é a do espírito olímpico; a chama é do Espírito de
Cristo.
A história de Atos dos Apóstolos
Os patriarcas e os profetas do Antigo Testamento
carregaram-na bravamente, passando-a adiante através das gerações até o momento
em que o próprio Cristo pisou neste mundo. A chama ardeu reluzente durante o seu
ministério entre os homens, mas explodiu em poder e glória indescritíveis
quando ele conquistou a morte e ressuscitou dos mortos, deixando o seu túmulo
vazio. Após ser elevado aos céus, cerca de 120 revezadores, encabeçados pelos
apóstolos, receberam nos seus corações a chama de Cristo e começaram a
espalhá-la “em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da
terra” (Atos 1.8). O livro de Atos narra à saga da chama que se espalhou
através desses primeiros atletas de Cristo.
A chama que se espalha
Embarcamos hoje numa jornada que, oro, será tão inesquecível
quanto impactante. Ao começarmos nosso percurso através do livro de Atos dos
Apóstolos, nós encontramos um punhado de cristãos amedrontados, hospedados num
pequeno aposento em Jerusalém, local onde constantemente eles se reuniam para
oração (Atos 1.12 a 14). Estão todos sem saber como as promessas de Jesus
seriam cumpridos na vida e através da vida deles. Mas, no momento em que essa
jornada completa o seu curso, lá no último capítulo do livro, muitos desses
mesmos cristãos terão sido transformados em modelos de fé e de coragem
invencíveis.
O segredo desses homens que alvoroçaram o mundo (At 17.6),
como veremos, estava no empoderamento que eles receberam do Espírito Santo.
A recém-nascida igreja começava a impactar o mundo de formas
inimagináveis. Nada prevalecia em seu caminho: perseguição, martírio, heresias,
espíritos maus, apostasia, indiferença, cobiça, conflitos… nada nem ninguém a
impedia de seguir o curso traçado pelo Senhor Jesus Cristo.
Atos 17.6 a 7 “Estes que têm transtornado o mundo chegaram
também aqui em Tessalônica, os quais Jasom hospedou. Todos estes procedem
contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro Rei”.
A chama se espalhava de coração em coração, de pessoa em pessoa,
de Jerusalém até os confins da terra, e a mensagem do evangelho de Cristo
prosseguia, exatamente como o Cristo ressurreto havia ordenado.
O autor e o propósito do livro de Atos
Fica mais fácil a compreensão de um livro quando se conhece
melhor quem foi o seu autor e porquê ele o escreveu. No caso de Atos, sabemos
que o autor foi Lucas, o médico amado e amigo de Paulo (Colossenses 4.14). Ele
deve ter recebido o seu treinamento acadêmico em medicina em uma das três
principais universidades de seus dias: Alexandria, Atenas e Tarso. Lucas é o
único autor do Novo Testamento que não é judeu. Provavelmente, era grego,
apesar de não se saber a sua naturalidade.
Escrita por volta do ano 62 d.C., a obra de Lucas tem dois
volumes: Evangelho e Atos. É provável que Lucas planejasse escrever o terceiro
volume, narrando a saída de Paulo da prisão até sua pretendida viagem à
Espanha.
A obra foi dividida em duas partes, provavelmente, em função
do tamanho dos pergaminhos disponíveis à época. O que se tem no original grego,
tanto de Lucas como de Atos, cabia quase exatamente na extensão de um rolo de
tamanho ideal para manuseio e transporte. Como era de costume, o prefácio de
Atos está no primeiro volume da obra: O evangelho de Lucas, onde se lê sobre o
método e o propósito para a composição do texto.
Lucas 1.1 a 4 “Muitos já se dedicaram a elaborar um relato
dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por
aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu
mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um
relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas
que te foram ensinadas”.
Observe comigo alguns fatos importantes
Lucas era historiador competente. No seu prefácio, Lucas
alega estar relatando história verídica. A sua tese é comprovada pelo esboço de
cinco estágios sucessivos no processo de documentação das coisas narradas:
1 - Os acontecimentos que eram cumprimentos de profecias
2 - Tudo havia sido testemunhado por testemunhas oculares
3 - Os fatos foram transmitidos oralmente
4 - Investigados por alguns e, por fim,
5 - Escritos.
Portanto, eram (e ainda são) a base da fé e da certeza
cristã. Lucas possuía pelo menos três qualificações que o habilitavam para a
tarefa hercúlea de narrar à primeira história da igreja.
1 - Lucas era médico culto e, portanto, capaz de compor essa
história. Há historiadores profissionais e arqueólogos competentes que se
encontram entre os maiores defensores da fidedignidade da obra de Lucas, por
exemplo: A. N. Sherwin White, professor de história antiga da Universidade de
Oxford, conhecido como “historiador greco romano profissional”, defendeu com
vigor a acuidade do conhecimento contextual de Lucas.
2 - Lucas foi companheiro de viagem de Paulo. É fato
conhecido que, algumas vezes, na narração de Atos, Lucas muda da terceira
pessoa do plural “eles”, para a primeira pessoa do plural, “nós”. Nas viagens,
Lucas deve ter tido oportunidade suficiente para ouvir e absorver os
ensinamentos de Paulo, escrevendo um diário de suas viagens e experiências, do
qual tiraria proveito mais tarde.
3 - Além de médico e amigo de Paulo, Lucas, por mais de dois
anos, morou na Palestina. Enquanto Paulo era mantido preso em Cesaréia (Atos
24.27), Lucas estava livre. É razoável, portanto, imaginar que Lucas tenha
usado esse tempo para viajar pela Palestina, juntando material para o seu
Evangelho e para os primeiros capítulos de Atos.
Lucas era historiador competente. Lucas defendia os
benefícios do cristianismo. Lucas escreve a Teófilo. Crê-se que Teófilo era um
elevado oficial romano, convertido ao cristianismo e que tinha ouvido calúnias
anticristãs. Lucas, portanto, quer que Teófilo tenha certeza das coisas que lhe
haviam sido ensinadas (Lucas 1.4).
Dessa forma, Lucas enfatiza repetidamente três verdades:
1 - Os oficiais romanos eram favoráveis ao cristianismo, e
alguns até se tornaram cristãos.
2 - As autoridades romanas não conseguiram encontrar
acusação contra Jesus e seus apóstolos.
3 - As autoridades romanas reconheceram que o cristianismo
era uma religião legal, porque não era uma nova religião nem uma seita, mas,
sim, a forma mais pura do judaísmo.
Em sua obra, portanto, Lucas reuniu provas para mostrar que
o cristianismo era legítimo, inofensivo, legal e benéfico.
Lucas foi um teólogo evangelista
A salvação é o tema central da teologia de Lucas. No
Evangelho nós a vemos sendo cumprida e em Atos é onde nós a vemos sendo
proclamada. Com Lucas nós aprendemos que a salvação vem sendo preparada por Deus,
ela é dada por Deus em Cristo e deve ser oferecida a todos os povos (Atos
2.17).
O porquê do estudo de Atos
Graças a Deus nós temos o livro de Atos dos Apóstolos!
Primeiramente, por causa do seu valor histórico. Atos é um
livro que registra para nós o desenvolvimento da Igreja, da carreira
missionária de Paulo e como o evangelho se espalhou pelas cidades estratégicas
do mundo romano, abençoando as sociedades aonde caminhava. Numa época de grande
confusão sobre a identidade da Igreja de Cristo, Atos dos Apóstolos servirá
parâmetro.
Segundo, o livro de Atos é importante devido à inspiração
que nos traz. João Calvino o chamou de “enorme tesouro”. Martyn Lloyd Jones se
referiu a ele como “o mais lírico dos livros” e acrescentou: “vivei neste
livro, eu vos exorto; ele é um tônico, o maior tônico que conheço no domínio do
Espírito”. Numa época de apatia, olharemos para a igreja do século 1 e
tentaremos reconquistar algo daquela fé, daquela esperança, daquele amor,
daquela visão, daquele entusiasmo e daquele poder.
Terceiro, Atos serve de alerta para o perigo de
romantizarmos a igreja primitiva, falando dela em tom solene, como se não
houvesse falhas. Isso seria fechar os olhos diante das picuinhas, hipocrisia,
imoralidades e heresias que atormentavam a igreja, como acontece ainda agora.
Numa época de tantos problemas e pecados, Atos dos Apóstolos ensinará como uma
igreja cheia do Espírito Santo supera os seus obstáculos e espalha a chama de
Cristo.
Por que Atos dos Apóstolos? Nós precisamos do livro de Atos
pelo seu valor histórico, sua inspiração espiritual e por sua espiritualidade
pé no chão, ao narrar os erros e acertos da Igreja Primitiva.
Um esboço de Atos dos Apóstolos
A forma mais fácil de esboçar o livro de Atos é
biograficamente, focando no ministério de Pedro (Atos 1 a 12) e no de Paulo
(Atos 13 a 28). Mas, parece que a melhor forma de esboçá-lo é geograficamente,
usando Atos 1.8 como um guia. Atos 1.8 “Mas receberão poder quando o Espírito
Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a
Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
A igreja estabelecida em Jerusalém Atos 1 a 7. Do capítulo 1
ao 7 nós temos o registro do estabelecimento da Igreja em Jerusalém. É o que
poderíamos chamar de missões locais ou missões urbanas. Durou aproximadamente
dois anos. Cristãos judeus testemunhavam, principalmente, a outros judeus.
Atos 2.46 e 47 “Todos os dias, continuavam a reunir-se no
pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das
refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a
simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam
sendo salvos”.
Em dois anos a igreja nasceu, cresceu, foi provada,
purificada e fortalecida. Mas os crentes pareciam acomodados nos seus
banquinhos.
Atos 4.12 a 16 “Os apóstolos realizavam muitos sinais e
maravilhas entre o povo. Todos os que creram costumavam reunir-se no Pórtico de
Salomão. Dos demais, ninguém ousava juntar-se a eles, embora o povo os tivesse
em alto conceito. Em número cada vez maior, homens e mulheres criam no Senhor e
lhes eram acrescentados, de modo que o povo também levava os doentes às ruas e
os colocava em camas e macas, para que pelo menos a sombra de Pedro se
projetasse sobre alguns, enquanto ele passava. Afluíam também multidões das
cidades próximas a Jerusalém, trazendo seus doentes e os que eram atormentados
por espíritos imundos; e todos eram curados”.
A igreja precisava dar um passo adiante. Ela precisava sair
de dentro dos muros de Jerusalém e se espalhar pela Judeia e por Samaria, mas
como?
A igreja espalhada pela Judeia e Samaria Atos 8 a 12
Do capítulo 8 ao 12 nós temos o registro do espalhamento da
Igreja pela Judeia e Samaria. É o que poderíamos chamar de missões estaduais e
nacionais. Durou aproximadamente treze anos. Vendo a acomodação em que se
encontravam os crentes em Jerusalém, Deus os atingiu com um tornado de
dificuldades, visando espalhá-los, fazendo-os dar mais um passo além no
cumprimento de Atos 1.8.
Atos 8.1 “E Saulo estava ali, consentindo na morte de
Estêvão”. Naquela ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em
Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia
e de Samaria. Agora o evangelho começou a se espalhar, atingindo judeus e
gentios, multiplicando discípulos, transformando vidas fora dos muros de
Jerusalém, quebrando tradições e odres velhos para que fosse servido o vinho
novo. A Igreja, porém, precisava dar o seu terceiro passo e chegar até os
confins da terra.
A igreja estende suas fronteiras até os confins da terra
Atos 13 a 28
Do capítulo 13 ao 28 nós temos o registro da extensão da
Igreja, atingindo os confins da terra. É o que poderíamos chamar de missões
mundiais. Durou aproximadamente 15 anos. O terceiro passo foi movido pelo
Espírito Santo.
Atos 13.1 a 3 “Na igreja de Antioquia havia profetas e
mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora
criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam,
disse o Espírito Santo: Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho
chamado. Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram”.
Com Barnabé e Paulo, mas principalmente com Paulo, a chama
de Cristo chegaria até os confins da terra. Ao longo de trinta anos a chama de
Cristo saiu de Jerusalém, do pequeno aposento que abrigava alguns discípulos
ainda amedrontados, para se espalhar e atingir o mundo romano todo.
Veja como termina o livro de Atos: Atos 20.30 e 31 “Por dois
anos inteiros Paulo permaneceu na casa que havia alugado, e recebia a todos os
que iam vê-lo. Pregava o Reino de Deus e ensinava a respeito do Senhor Jesus
Cristo, abertamente e sem impedimento algum”.
O medo deu lugar à coragem. O constrangimento cedeu espaço à
convicção. Acabou a liberdade escravizante para começar a escravidão
libertadora. Agora, no lugar de um espírito aprisionado, o que vemos é um
espírito livre, espalhando a chama de Cristo com poder e glória.
A chama que se espalha
A chama de Cristo precisa ser por nós espalhada. Nós a
recebemos daqueles que vieram antes de nós. Ela não pode nem irá se apagar.
Precisamos atravessar cada um dos três estágios. Temos que nos estabelecer,
depois espalhar e estender. Não podemos nos acomodar.
Em que estágio está você, pessoalmente?
Estabelecendo-se? Firmando-se na fé?
Espalhando-se? Alcançando outros?
Estendendo-se? Multiplicando o seu potencial para alcançar?
Em que estágio estamos nós?
Estabelecendo-nos? Firmando-nos na fé?
Espalhando-nos? Alcançando outros?
Estendendo-nos? Multiplicando o nosso potencial para
alcançar?
Nós sempre estaremos, pessoal e institucionalmente, nos três
estágios simultaneamente. O que não pode acontecer é acomodação.
Quando acomodamos, Deus nos aflige, nos exorta e nos
espalha.
Quando precisamos avançar, Deus envia o Espírito e nos
instrui.
Quando nos esticamos e servimos, mesmo presos pelos homens,
mantemos o espírito livre para continuar e espalhar a chama de Cristo.
Agora, de forma bem prática, pare e pense em formas práticas
de você espalhar a chama de Cristo.
Quem são os de sua Jerusalém? Os seus próximos e iguais.
Onde é a sua Judeia e Samaria? Fora de sua zona de conforto. Gente diferente.
Como você pode chegar até os confins da terra? Crie estratégias.
A chama precisa se espalhar. Nós é que a levamos e devemos
repassá-la.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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