Atos 5.1 a 11 “Um homem chamado Ananias, com Safira, sua
mulher, também vendeu uma propriedade. Ele reteve parte do dinheiro para si,
sabendo disso também sua mulher, e o restante levou e colocou aos pés dos
apóstolos. Então perguntou Pedro: Ananias, como você permitiu que Satanás
enchesse o seu coração, ao ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar
para si uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade? Ela não lhe
pertencia? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o
levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus.
Ouvindo isso, Ananias caiu morto. Grande temor apoderou-se de todos os que
ouviram o que tinha acontecido. Então os moços vieram, envolveram seu corpo,
levaram-no para fora e o sepultaram. Cerca de três horas mais tarde, entrou sua
mulher, sem saber o que havia acontecido. Pedro lhe perguntou: Diga-me, foi
esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade? Respondeu ela: Sim, foi
esse mesmo. Pedro lhe disse: Por que vocês entraram em acordo para tentar o
Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e
eles a levarão também. Naquele mesmo instante, ela caiu morta aos pés dele.
Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao
lado de seu marido. E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os
que ouviram falar desses acontecimentos”.
Faz de conta que…
Você já brincou de faz de conta?
No faz de conta às crianças imitam as atividades dos adultos
e transformam todas as referências que têm em brincadeiras de fantasia. Faz de
conta faz meninos e meninas virarem pais e mães, príncipes e princesas,
super-heróis, médicos, professores, pastores, atletas, atores e atrizes, etc.
Em geral, a fase de brincadeiras de faz de conta começa
próximo dos 3 anos e vai até 7, 8 anos ou pouco mais. Crianças adoram brincar
de faz de conta.
Adultos também. Por quê?
Brincando de faz de conta nós nos tornamos o que não somos,
mas desejamos muito ser. A sensação é maravilhosa, poderosa, libertadora,
prazerosa. Faça o teste você mesmo. Quer ver? Faz de conta que você é o
Super-homem, o Steve Jobs, o Bill Gates, o Abílio Diniz, a Gisele Bündchen,
enfim… faz de conta que você recebeu uma herança milionária… faz de conta que…
Qual é a sensação?
Imaginar-se com o poder, a sabedoria, o dinheiro e as
habilidades de outra pessoa é algo, no mínimo, bastante interessante. É por
isso que amamos brincar de faz de conta. Se por um lado, como dizem os
especialistas do desenvolvimento infantil, as brincadeiras de faz de conta
contribuem para o desenvolvimento intelectual, físico, social e emocional das
crianças, por outro revelam bastante do coração pecador ainda em
desenvolvimento. Quer ver?
Imagine duas meninas brincando. A mais velha diz para a mais
nova: “Vamos brincar de atriz e fã. Eu sou a atriz e você é a fã”. A mais nova
retruca: “Ah, não! Por que eu sempre sou a fã e você é a atriz”. A “atriz”
responde, com o peito estufado e o nariz empinado: “Porque, querida, eu sou a
estrela”. E sem chance para a tréplica da “fã”, a mais velha prossegue:
“Agora, peça o meu autógrafo e diz que quer tirar uma self
comigo”.
Agora, sério, o que essa brincadeira de faz de conta revela
sobre o coração da garota “atriz”? Ela é o centro das atenções e a estrela das
situações. Imaginem as implicações dessa motivação e dessa atitude na vida
adulta de uma criança assim. Podem ser devastadoras. Por isso que digo que os
pais precisam estar atentos aos filhos e sempre que possível entrar nesse mundo
de faz de contas com os princípios do evangelho, da graça e do Espírito de
Cristo, redimindo o coração e a conduta de seus meninos e meninas.
Hipócritas
Agora, como é que adultos brincam de faz de conta? Com
brincadeiras e risadas para parecerem divertidos, perguntas difíceis para
parecerem intelectuais, doações ou ofertas para parecerem generosos, fofocas ou
intrigas para parecerem amigos, discordância para parecerem certinhos,
acusações para parecerem santinhos, atitudes para parecerem bonzinhos, etc.
Tudo brincadeira de faz de conta, e apenas uma palavra serve
para nos descrever quando agimos dessa maneira: hipócritas. Originário do
teatro grego, o adjetivo hipócrita referia-se ao ator ou atriz que se vestia de
máscara para desempenhar um papel, fingindo ser outra pessoa.
Faz de conta para meninos e meninas ainda é brincadeira de
criança (e precisa ser monitorada), mas para os adultos é hipocrisia. É o jogo
da morte. Deus odeia esse tipo de brincadeira.
O jogo da morte
Por que Ananias e Safira decidiram brincar? Deixemos o texto
nos informar.
Atos 4.32 a 37 “Da multidão dos que creram, uma era a mente
e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse,
mas compartilhavam tudo o que tinham. …Não havia pessoas necessitadas entre
eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da
venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a
necessidade de cada um. José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o
nome de Barnabé, que significa “encorajador”, vendeu um campo que possuía,
trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos”.
Olhando para o gesto nobre de Barnabé e percebendo o quanto
ele se tornou amado de todos, Ananias e Safira decidiram jogar o faz de conta.
O vento, então, muda de direção nos ares da igreja primitiva. O altruísmo e a
verdade de Barnabé abre espaço para o egoísmo e a hipocrisia do casal Ananias e
Safira.
Atos 5.1 e 2 “Um homem chamado Ananias, com Safira, sua
mulher, também vendeu uma propriedade. Ele reteve parte do dinheiro para si,
sabendo disso também sua mulher, e o restante levou e colocou aos pés dos
apóstolos”.
Pretensão espiritual
Podemos imaginar a cena. Ananias e Safira vendem “uma
propriedade”, combinam quanto reteriam para si e levam o restante para os
apóstolos. Lá chegando, Ananias declara: “Eis aqui tudo o que conseguimos pela
venda da propriedade”. Mentira, pois era apenas o restante. John Stott nos
informa que ao declarar que Ananias reteve parte do dinheiro, Lucas emprega o
verbo nosphizomai, que significa apropriar-se indevidamente. A mesma palavra
foi usada na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) em relação ao
roubo de Acã, e na única outra ocorrência no Novo Testamento, esse verbo
significa roubar. Devemos, portanto, pressupor que, antes da venda, Ananias e
Safira assumiram algum tipo de compromisso no sentido de darem à igreja todo o
dinheiro. Por causa disso, quando trouxeram apenas parte do valor, em vez de
tudo, eles se tornaram culpados de apropriação indébita.
Pretensão espiritual. Ananias e Safira eram amantes da
glória dos homens e por causa disso se tornaram ladrões e mentirosos.
Percepção espiritual
Para a pretensão espiritual de Ananias e Safira (falsa
piedade), há a percepção espiritual de Pedro.
Observe:
Atos 5.3 e 4 “Então perguntou Pedro:
Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, ao ponto de
você mentir ao Espírito Santo e guardar para si uma parte do dinheiro que
recebeu pela propriedade Ela não lhe pertencia? E, depois de vendida, o
dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa?
Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus”.
Note que Pedro não destaca o pecado da avareza, mas o da
hipocrisia. Por quê? A raiz da avareza e da hipocrisia, no caso desse casal,
era a mesma: egolatria.
Ou seja, tudo o que o dinheiro podia lhes dar, a fachada de
espiritualidade também lhes concedia. Mas, o quê? Glória! Observe o que disse
John Stott: O apóstolo não denunciou a falta de honestidade (trazer apenas
parte do dinheiro), mas a falta de integridade (trazer apenas uma parte,
fingindo que era todo o dinheiro). Eles não eram avarentos, eram ladrões e
mentirosos. Queriam o crédito e o prestígio da generosidade sacrificial, sem
terem que arcar com as inconveniências. Assim, a fim de conquistar uma
reputação à qual não tinham direito, contaram uma mentira deslavada.
A motivação do casal, ao dar, não era aliviar os pobres, mas
inflar o próprio ego. Pedro viu, por traz do jogo de faz de conta de Ananias, a
atividade sutil de satanás: Mentir para fazer de conta e, assim, receber a
glória que é de Deus. Eles não precisavam ter feito aquilo. A doutrina ou o
estatuto da igreja não requeriam aquela atitude. Assim procedia quem se sentia
tocado por Deus a fazer. Não havia coerção. A propriedade era deles e eles
poderiam continuar com ela sem deixarem de desfrutar dos privilégios que já
possuíam.
Punição espiritual
Ananias agiu com pretensão, mas Pedro exerceu sua percepção
espiritual.
Deus, por sua vez, aplicou a justa punição espiritual.
Atos 5.5 e 6 “Ouvindo isso, Ananias caiu morto. Grande temor
apoderou-se de todos os que ouviram o que tinha acontecido. Então os moços
vieram, envolveram seu corpo, levaram-no para fora e o sepultaram”.
Tudo teria terminado ali, se Deus não tivesse mais para
trazer à luz: O pecado de Safira. A mulher de Ananias teve a chance de se
redimir, mas escolheu continuar no pecado da hipocrisia.
Atos 5.7 a 11 “Cerca de três horas mais tarde, entrou sua
mulher, sem saber o que havia acontecido. Pedro lhe perguntou: Diga-me, foi
esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade? Respondeu ela: Sim, foi
esse mesmo. Pedro lhe disse: Por que vocês entraram em acordo para tentar o
Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e
eles a levarão também. Naquele mesmo instante, ela caiu morta aos pés dele.
Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao
lado de seu marido. E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os
que ouviram falar desses acontecimentos”.
Muitos, ao lerem essa história, ficam melindrados com o que
consideram uma severidade do juízo de Deus. Alguns até chamam a história de
lenda. Outros tentam livrar Deus da culpa, atribuindo a morte do casal a uma
maldição lançada por Pedro. Lucas, no entanto, claramente nos induz a
entendê-la como obra do justo juízo de Deus.
Ananias e Safira jogaram o jogo da morte e morreram.
Lições do jogo da morte
A grande lição dessa passagem bíblica é que com Deus não se
brinca. Pecados não ficam encobertos aos seus olhos. O jogo de faz de conta é
intragável para o Senhor. Ele odeia a hipocrisia, por isso a desmascara e pune
quando necessário.
Hipocrisia é dolo. Segundo Aurélio, dolo é qualquer ato
consciente com que alguém induz, mantém ou confirma outrem em erro, má-fé,
fraude, astúcia, maquinação.
Hoje, uma das principais acusações que o mundo,
justificadamente, apresenta contra os crentes é a de que nós somos hipócritas:
Dizemos ser uma coisa, mas fazemos outra contrária à natureza que professamos
ter. Bom seria se a igreja de Jesus levasse a sério as lições desse texto
bíblico. Quais?
1 - A gravidade do pecado da hipocrisia. A hipocrisia rouba
a glória de Deus, perturba a paz do coração da gente, e acaba com a comunhão da
igreja. O hipócrita quer desfrutar de seus pecados, mas não quer parecer
pecador, ele quer parecer piedoso, mas não se preocupa com as pessoas, ele quer
paz, mas precisa correr atrás de calar suas perturbações, ele diz viver para
Deus, mas a glória que ele busca é a dos homens e para si mesmo. Hipocrisia é
pecado grave, é pecado de morte.
2 - As estratégias do diabo para destruir a igreja. A
primeira estratégia do diabo para destruir a igreja foi a perseguição (Atos 4),
mas ele fracassou. Os discípulos tinham Deus e uns aos outros e, orando,
perseveraram. A terceira estratégia é a distração, ou seja: Fazer os apóstolos
correrem atrás da mesa das viúvas, em detrimento da Palavra e da oração.
Veremos isso em Atos 6. A segunda estratégia, a que estamos vendo hoje em Atos
5, é muito clara: Destruir a igreja através da falsidade interna, da hipocrisia
dos crentes, do jogo de faz de conta. Ele não desistiu de tentar, seja pela
hipocrisia dos que confessam, mas não praticam, ou pela dureza dos corações
daqueles que pecam, mas não se arrependem. A igreja precisa permanecer
vigilante.
3 - A necessidade de disciplina na igreja. Pois bem, vimos
que o pecado da hipocrisia é grave, sendo uma das estratégias do diabo para
destruir a igreja. Foi por isso que Deus matou o casal. Logo, a igreja precisa
aplicar disciplina aos membros que não estão vivendo segundo os padrões do
evangelho de Cristo nem do pacto e do Estatuto da igreja. Simples, mas muito
difícil, não é mesmo? Sobre disciplina na igreja, John Stott foi muito sábio ao
dizer que nessa área, a igreja tem oscilado entre a severidade extrema
(disciplinando membros pelas ofensas mais triviais) e a permissividade extrema
(não exercendo nenhuma disciplina, mesmo em casos de ofensas sérias). Uma boa
regra geral é tratar secretamente os pecados secretos, tratar particularmente
os pecados particulares, e publicamente apenas os pecados públicos. As igrejas
são sábias quando seguem os estágios sucessivos ensinados por Jesus (Mateus
18.15 a seguir.). Normalmente, o culpado se arrepende antes que seja alcançado
o último estágio da excomunhão. Mas quando uma pessoa não se arrepende de
ofensas sérias e que se tornam um escândalo público, o caso deve ser julgado.
Pois, embora a igreja e a mesa do Senhor estejam abertas aos pecadores, ela só
está aberta para os pecadores arrependidos.
A igreja que leva a sério o pecado, a Palavra e pratica
graciosamente a disciplina, não perde entre os seus membros o temor necessário
para a santidade. Veja, mais uma vez, o que diz Atos 5.11 “E grande temor
apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses
acontecimentos”.
Para mais sobre disciplina bíblica na igreja, recomendamos a
leitura do capítulo sete (marca sete) de Nove marcas de uma igreja saudável,
escrito pelo pastor batista Mark Dever e publicado no Brasil pela editora FIEL.
Falando, por exemplo, sobre o porquê de se praticar a disciplina bíblica na
igreja, Dever aponta cinco razões:
A - Para o bem da pessoa disciplinada (achando que está tudo
bem).
B - Para o bem de outros cristãos, quando veem o perigo do pecado
(todos são advertidos).
C - Para a saúde da igreja como um todo (para não
contaminar).
D - Para o testemunho coletivo da igreja (para não ser igual
ao mundo).
E - Para a glória de Deus, quando refletimos a sua santidade
(piedade).
O jogo da morte
A hipocrisia é o jogo da morte: Ou mata a igreja ou mata a
alma do pecador no inferno. Precisamos ser vigilantes. Finalizando, apresento
três parâmetros para nos avaliarmos constantemente.
Para não sermos hipócritas, nós precisamos ser honestos
conosco, com Deus e com a igreja (o corpo de Cristo).
Honestos comigo
Salmos 19.12 e 13 “Quem pode discernir os próprios erros?
Absolve-me dos que desconheço! Também guarda o teu servo dos pecados
intencionais, que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande
transgressão”.
Honesto com Deus
Salmos 32.1 a 3 “Como é feliz aquele que tem suas
transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o
Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia! Enquanto eu mantinha
escondidos os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer”.
Honesto com a igreja
Romanos 12.9 “O amor deve ser sincero (sem hipocrisia).
Odeiem o que é mau, apeguem-se ao que é bom”.
Não jogue o jogo da morte
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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