Atos 6.8 a 8.1 “Estêvão, homem cheio da graça e do poder de
Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo. Contudo, levantou-se
oposição dos membros da chamada sinagoga dos Libertos, dos judeus de Cirene e
de Alexandria, bem como das províncias da Cilícia e da Ásia. Esses homens
começaram a discutir com Estêvão, mas não podiam resistir à sabedoria e ao
Espírito com que ele falava. Então subornaram alguns homens para dizerem:
Ouvimos Estêvão falar palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus. Com isso
agitaram o povo, os líderes religiosos e os mestres da lei. E, prendendo
Estêvão, levaram-no ao Sinédrio. Ali apresentaram falsas testemunhas que
diziam: Este homem não para de falar contra este lugar santo e contra a Lei.
Pois o ouvimos dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará
os costumes que Moisés nos deixou. Olhando para ele, todos os que estavam
sentados no Sinédrio viram que o seu rosto parecia o rosto de um anjo. Então o
sumo sacerdote perguntou a Estêvão: São verdadeiras estas acusações? A isso ele
respondeu: (o sermão de Estêvão do versículo 2 a ao 53). Ouvindo isso, ficaram
furiosos e rangeram os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo,
levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita
de Deus, e disse: Vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé, à direita de
Deus. Mas eles taparam os ouvidos e, dando fortes gritos, lançaram-se todos
juntos contra ele, arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo.
As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem chamado Saulo. Enquanto
apedrejavam Estêvão, este orava: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. Então
caiu de joelhos e bradou: Senhor, não os consideres culpados deste pecado. E,
tendo dito isso, adormeceu. E Saulo estava ali, consentindo na morte de
Estêvão”.
Intolerância religiosa
O cristianismo sofreu com a intolerância religiosa desde o
seu nascimento.
Em contrapartida, o cristianismo também agiu com
intolerância implacável em destacados momentos da história, especialmente após
o século 4, quando a Igreja se uniu ao Estado romano. Visando poder ou
supremacia, pessoas, em nome de Cristo, agiram com rancor, agressividade e
desrespeito pela dignidade humana, combatendo o que eles chamavam de heréticos.
Veja que, lamentavelmente, sempre houve, de todas as partes, sede de sangue
para que um ponto de vista prevalecesse sobre os demais, beneficiando os
dominadores.
O fenômeno é tão sério, mesmo no Brasil, que o tema da
redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2016 foi “Caminhos para
combater a intolerância religiosa no Brasil”. Buscou-se com essa iniciativa
levar os alunos a refletirem e a apontarem medidas viáveis ou “caminhos” para
se eliminar o ódio entre os diferentes credos.
O texto de hoje, que narra o martírio de Estêvão (Atos 7.8 a
8.1), lança, com toda certeza, luzes sobre dois pontos importantes para a
igreja de Jesus Cristo:
1 - Os caminhos para cristãos combaterem a intolerância
religiosa no Brasil e no mundo.
2 - Os conceitos que fundamentam o modus operandi dos
cristãos, ou seja: A maneira como o Senhor idealizou que os crentes vivessem e
propagassem o evangelho.
O modus operandi dos cristãos
Nosso foco serão os conceitos que fundamentam a maneira como
o Senhor idealizou que os crentes vivessem e propagassem o evangelho, pois ao
esclarecê-los, descobriremos que a maneira real e definitiva de se combater a
intolerância religiosa passa por uma transformação profunda de ideologia,
interesses e atitudes que só a mensagem de Jesus Cristo é capaz de provocar no
indivíduo e, consequentemente, na sociedade.
O sangue dos mártires
Estêvão foi o primeiro mártir da igreja. Como lemos no
início, sua morte foi ocasionada pela fidelidade com que pregou o evangelho aos
que delataram e crucificaram o Senhor Jesus Cristo. Diante da mensagem, a fúria
desses homens elevou-se a tal ponto que arrastaram Estêvão para fora da cidade
e o apedrejaram até a morte (Atos 7.54 a 58).
O próximo mártir mencionado por Lucas foi Tiago, irmão de
João (Atos 12.2). Esse segundo martírio aconteceu antes de se completar dez
anos da morte de Estêvão. John Fox, em O livro dos mártires, registra que cerca
de dois mil cristãos, inclusive Nicanor, um dos sete diáconos, foi martirizado
durante “a tribulação que sobreveio no tempo de Estêvão”.
No entanto, a perseguição que se seguiu à morte de Estêvão,
não impediu a igreja de avançar, pelo contrário. O sangue de Estêvão, como
veremos mais adiante, foi semente que se espalhou, levando o evangelho de Jesus
para além de Jerusalém, até chegar aos confins da terra.
Tertuliano, escrevendo o famoso tratado, Apologia, assim se
expressou sobre a crueldade cometida contra cristãos nos dois primeiros séculos
de nossa era: Seus discípulos (de Jesus), espalhando-se pelo mundo afora,
fizeram o que Seu Divino Mestre dissera, e após sofrerem muito, eles próprios,
com as perseguições dos judeus, com generosidade de coração, mantendo a fé na
verdade, por último, semearam pela cruel espada de Nero, com sangue cristão, a
sede de Roma (foi dando o próprio sangue, literalmente, que semearam Roma com o
evangelho).
A bem da verdade, quando se olha para o cristianismo puro e
simples, sem mesclas nem perversões humanas, o que se descobre é que, assim
como o seu Senhor, o crente não derrama sangue para fazer prevalecer o seu
ponto de vista, não é dele o cometer qualquer tipo de intolerância religiosa.
Antes, o crente, dá o seu sangue pela semeadura do evangelho. As crueldades das
pessoas nunca prejudicaram e nunca prejudicarão os cristãos, ao contrário,
conforme disse Tertuliano, “o sangue dos cristãos é como semente que brota”.
Semente de sangue
O cristão é semente, semente de sangue. Assim como Jesus,
ele semeia com a própria vida, o Senhor, como substituto pelos nossos pecados e
nós, como testemunhas do evangelho. Cristãos semeiam com palavras, posturas,
lágrimas e, se preciso for, com sangue, dando a própria vida.
Como Paulo disse:
Colossenses 1.24 “Agora me alegro em meus sofrimentos por
vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do
seu corpo, que é a igreja”.
Mas, “o que resta das aflições de Cristo”? As de Jesus na
cruz não foram completas? Sim, elas foram. A morte expiatória do Senhor foi
suficiente para a salvação de todo aquele que crer. O que resta, agora, é levar
a mensagem. Pois levá-la, em função de intolerância religiosa ou da dureza dos
corações, é muitas vezes sinônimo de sofrimento e morte.
Note o exemplo e Epafrodito, a seguir
Filipenses 2.25 a 30 “Contudo, penso que será necessário
enviar-lhes de volta Epafrodito, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas,
mensageiro que vocês enviaram para atender às minhas necessidades. …E peço que
vocês o recebam no Senhor com grande alegria e honrem homens como este, porque
ele quase morreu por amor à causa de Cristo, arriscando a vida para suprir a
ajuda que vocês não me podiam dar”.
Pensando no cristão como semente de sangue, como alguém
chamado a levar no próprio corpo o evangelho de Cristo, entregando se preciso
for a própria vida, convido você a olhar comigo para a vida de Estêvão: A
primeira semente de sangue da igreja de Jesus Cristo, em busca de algumas
lições. Usando a semente como metáfora, veremos: A casca da semente. A amêndoa
da semente. A disseminação da semente. A germinação da semente.
1 - A casca da semente
Estêvão em si mesmo era a casca da semente, o tegumento, o
envoltório que protegia e carregava o que é mais importante. O evangelho,
Cristo em nós é o mais importante. Nós, na verdade, não passamos de casca.
Somos vasos de barro carregando o tesouro (2 Coríntios 4.7). Quem olha para nós
vê a casca, a casca da semente. Mas, que tipo de casca nós devemos ser? Veja
comigo essa casca de semente chamada Estêvão. Vejamos com o que ela se parece.
Adianto-lhes que quem olhava e observava Estêvão percebia imensa similaridade
com Jesus. A casca da semente parece o Cristo.
Atos 6.3 a 5 e 8 a 15 “Irmãos, escolham entre vocês sete
homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. …Então escolheram
Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, …Estêvão, homem cheio da graça
e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo.
Contudo, levantou-se oposição dos membros da chamada sinagoga dos Libertos, dos
judeus de Cirene e de Alexandria, bem como das províncias da Cilícia e da Ásia.
Esses homens começaram a discutir com Estêvão, mas não podiam resistir à
sabedoria e ao Espírito com que ele falava. Então subornaram alguns homens para
dizerem: Ouvimos Estêvão falar palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.
Com isso agitaram o povo, os líderes religiosos e os mestres da lei. E,
prendendo Estêvão, levaram-no ao Sinédrio. Ali apresentaram falsas testemunhas
que diziam: Este homem não para de falar contra este lugar santo e contra a
Lei. Pois o ouvimos dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e
mudará os costumes que Moisés nos deixou. Olhando para ele, todos os que
estavam sentados no Sinédrio viram que o seu rosto parecia o rosto de um anjo”.
Parece que estamos relendo a história de Jesus, narrando seu
caráter, sua conduta, seus atos, suas atitudes, a perseguição e as injustiças
sofridas. Realmente, vemos em Estêvão o que víamos em Jesus:
A - Alguém cheio de
poder e puro em verdade, mas cheio de graça.
B - Alguém encharcado de sabedoria, mas pronto para servir
ao próximo.
C - Alguém que exalava amor, mas era odiado e perseguido
pelas autoridades religiosas.
D - Alguém que, por mais que o odiassem, quando olhavam para
ele não viam nada que o condenasse.
Estêvão viveu como Jesus (Atos 6.3 a 11), pregou como Jesus
(Atos 6.12 a 7.53) e morreu como Jesus.
Observe:
Atos 7.59 e 60 “Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava:
Senhor Jesus, recebe o meu espírito. Então caiu de joelhos e bradou: Senhor, não
os consideres culpados deste pecado. E, tendo dito isso, adormeceu”.
A casca da semente se parece com Cristo, afinal, ela carrega
em seu DNA todas as características da planta já formada. Assim é que semente
cuja casca não parece com Jesus não pode dizer que é nascida de Deus. A casca
da semente parece o Cristo.
2 - A amêndoa da semente
A amêndoa é a parte principal da semente. Ela é protegida
pela casca e consta, em geral, de duas partes: Embrião e albúmen. Gosto dessa
imagem, pois se a nossa vida é a casca da semente, o que trazemos em nós é o
que há de mais valioso, o embrião em nós é o Espírito Santo (que origina a
vida, faz-nos germinar) e o albúmen é o evangelho (a reserva alimentar para a
alma). Quando olhamos para a pregação de Estêvão, descobrimos a amêndoa da
semente que existia dentro daquela casca. Estêvão, homem cheio do Espírito,
abre a boca para se defender das acusações e destila o evangelho, conforme ele
o enxergava de Gênesis a Malaquias.
As acusações compradas contra Estêvão eram de que ele havia
blasfemado contra Deus, Moisés, o templo e a Lei (Atos 6.11 a 14). A sua
defesa, portanto, pautou-se em cada um desses pontos: Deus (7.1 a 16), Moisés
(7.17 a 37), Lei (7.38 a 43) e templo (7.44 a 53). Todos eles abordados à luz
dos propósitos de Deus em Cristo, o Messias. Tudo o que Jesus, os apóstolos e,
agora, os diáconos e evangelistas estavam pregando fazia sentido com as
Escrituras do Antigo Testamento. Então, porque os mestres da Lei se recusavam a
aceitar?
Atos 7.51 a 53 “Povo rebelde, obstinado de coração e de
ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: Sempre resistem ao Espírito
Santo! Qual dos profetas os seus antepassados não perseguiram? Eles mataram
aqueles que prediziam a vinda do Justo, de quem agora vocês se tornaram traidores
e assassinos, vocês, que receberam a Lei por intermédio de anjos, mas não lhe
obedeceram”.
O problema deles era a dureza do coração. A semente só tinha
casca. Estêvão, por sua vez, provava que dentro da casca dele, no seu coração,
tinha vida, sua amêndoa estava cheia do evangelho e do Espírito de Deus.
3 - A disseminação da semente
Para a semente se dispersar pela superfície do globo
terrestre, ela precisa de agentes disseminadores: Ventos, água, animais do
campo, pássaros, o próprio fruto, o homem, etc. A mesma coisa acontece com a
dispersão do evangelho. Necessários são os agentes disseminadores.
Aqui, no caso de Estêvão, a disseminação da semente se deu
através da perseguição à sua própria vida. Ventos fortes de perseguição,
enchente de sofrimento e atitudes animalescas dos religiosos fizeram Estêvão,
acusado e confinado, pregar com graça e com verdade o evangelho. O resultado de
tudo o que lhe aconteceu, bem como a sua forma graciosa e verdadeira de lidar
com o injusto sofrimento, serviram para disseminar o evangelho em Jerusalém e
de lá para a Judeia, Samaria e até os confins da terra. Observe o resultado
obtido com a semente de sangue de Estêvão.
Atos 8.1 a 5 “E Saulo estava ali, consentindo na morte de
Estêvão. Naquela ocasião desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em
Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia
e de Samaria. Alguns homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele
grande lamentação. Saulo, por sua vez, devastava a igreja. Indo de casa em
casa, arrastava homens e mulheres e os lançava na prisão. Os que haviam sido
dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem. Indo Filipe para uma
cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo’.
Permitam-me três observações:
Injustiça e sofrimento montam cenário para a nossa
proclamação. Não desperdice o seu sofrimento, a sua enfermidade, enfim, a sua
circunstância.
A forma piedosa com que lidamos com a intolerância religiosa
inspira outros crentes a prosseguirem com fé e coragem na proclamação do
evangelho. Enfrente a intolerância com graça e com verdade. Está em jogo o
evangelho.
Nosso testemunho serve de semente para a conversão de
alguém. A morte de Estêvão, de alguma forma, impactou Saulo de Tarso em sua
conversão.
4 - A germinação da semente
A história de Estêvão me remete ao ensino de Jesus: para
germinar e frutificar, a semente tem que morrer.
1 João 12.24 “Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de
trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará
muito fruto”.
A morte de Estêvão trouxe muitos frutos. Frutos
inimagináveis. Apenas a eternidade poderá nos revelar. Mas, que significa
morrer para germinar e frutificar? Significa abrir mão da vida para se viver a
vida de Cristo.
João 12.25 a 26 “Aquele que ama a sua vida, a perderá, ao
passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida
eterna. Quem me serve precisa seguir-me, e, onde estou, o meu servo também
estará. Aquele que me serve, meu Pai o honrará”.
Interessante que geralmente não abrimos mão da vida para não
perdê-la. Só que a perdemos. Só não a perde aquele que dela abre mão para viver
a de Jesus e servir como ele serviu. Esses serão honrados. Todos os outros
serão destruídos.
Semente de sangue
Estevão não morreu. Na verdade, ele viveu. Passou da morte
para a vida. Sua semente foi de sangue, mas seu serviço foi honrado. A sua
morte possibilitou que ele recebesse a vida e morresse repartindo vida.
Numa semana em que tanto se falou de morte: Fidel Castro,
Russell P. Shedd, os mortos na tragédia com o avião da Chapecoense… Meu Deus,
quanta coisa!
Cabe sim a pergunta: Pelo que viver e pelo que morrer?
Viva e morra pelo evangelho. É perdendo a vida que se ganha
e se reparte Vida.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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