Atos 9.32 a 43 “Pedro viajava por toda parte, e foi visitar
o povo santo que vivia na cidade de Lida. Ali encontrou um paralítico chamado
Eneias, que permanecia de cama havia oito anos. Pedro lhe disse: Eneias, Jesus
Cristo cura você! Levante-se e arrume sua maca. E, no mesmo instante, ele se
levantou. Todos os moradores de Lida e de Sarona viram Eneias e se converteram
ao Senhor. Havia em Jope uma discípula chamada Tabita (que em grego é Dorcas).
Sempre fazia o bem às pessoas e ajudava os pobres. Por esse tempo, ficou doente
e morreu. Seu corpo foi lavado para o sepultamento e colocado numa sala no
andar superior. Quando os discípulos souberam que Pedro estava perto de Lida,
enviaram dois homens para lhe suplicar: Por favor, venha o mais rápido
possível. Então Pedro voltou com eles e, assim que chegou, foi levado para a
sala do andar superior. O cômodo estava cheio de viúvas que choravam e lhe
mostravam os vestidos e outras roupas que Dorcas havia feito para elas. Pedro
pediu que todos saíssem do quarto. Então, ajoelhou-se e orou. Voltando-se para
o corpo da mulher, disse: Tabita, levante-se, e ela abriu os olhos. Quando ela
viu Pedro, sentou-se. Ele lhe deu a mão e a ajudou a levantar-se. Em seguida,
chamou os discípulos e as viúvas e a apresentou viva. A notícia se espalhou por
toda a cidade, e muitos creram no Senhor. Pedro ficou em Jope algum tempo,
hospedado na casa de Simão, um homem que trabalhava com couro”.
O discípulo é igual ao seu Mestre
“Desde o início do cristianismo” afirmou David Platt, “o desdobramento
natural de ser um discípulo de Jesus sempre foi fazer discípulos de Jesus”.
“Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de gente”, disse o Senhor em Mateus
4.19. Isso foi uma promessa: Jesus tomaria seus discípulos recém convertidos e
os transformaria em cristãos discipuladores. Depois veio o mandamento: “vão e
façam discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19 e 20). Afinal, após três
anos de relacionamento discipulador com Jesus, os apóstolos estavam mais do que
preparados para reproduzirem a vida do mestre através da vida deles, fazendo
novos discípulos.
É impossível ser discípulo de alguém e não acabar ficando
parecido com aquela pessoa. Aliás, o que se espera do discípulo é que ele se
pareça com o seu discipulador. Jesus disse que “Os discípulos não são maiores
que seu mestre. Mas o aluno bem instruído será como o mestre” (Lucas 6.40).
Gente, esse é o ponto central quando o assunto é ser
discípulo de Jesus: Nós o imitamos, damos continuidade ao seu ministério e,
nesse processo, nos tornamos iguais ao Mestre. Portanto, a pergunta: De que
maneira a minha vida se parece com a de Jesus? Eu estudo e aplico os seus
ensinos? Faço discípulos? Enfim, eu sou “como o mestre” (Lucas 6.40).
Voltaremos a estas questões. Antes, porém, entendamos o
contexto da passagem bíblica que acabamos de ler.
O evangelho, dos judeus para os gentios
O texto que nós lemos e temos para estudar nesta manhã é
muito interessante. John Stott observa que, da conversão de Paulo (Atos 9.1 a
31), que seria o apóstolo dos gentios, Lucas (autor de Atos) passa à conversão
de Cornélio (Atos 9.32 a 10.48), o primeiro gentio a se tornar crente em Jesus
Cristo.
Lucas, portanto, quer que notemos que a chama do evangelho
de Cristo estava se espalhando: Saiu de Jerusalém, passou pela Judeia e
Samaria, chegando, agora, aos gentios. O próximo passo seria chegar “nos
lugares mais distantes da terra” (Atos 1.8), e Paulo se encarregaria dessa
missão.
Paulo libertaria o evangelho de sua roupagem judaica,
abrindo o reino de Deus para os gentios, para as gentes de todas as nações fora
de Israel. No entanto, Paulo apóstolo aos gentios, não faria nada de sua
cabeça, ou seja, dissociado da fé apostólica. Ele não criaria uma religião
diferente da de Jesus, como alguns estudiosos liberais afirmam que ele o fez. O
fundamento da igreja, como Paulo mesmo ensinou, está nos textos dos profetas e
dos apóstolos do período bíblico (Efésios 2.20 e 3.5).
Para testificar que o apóstolo dos gentios estava em
sintonia com Jesus e seus apóstolos judeus, Lucas, após relatar a conversão de
Saulo, anotou a transição entre Pedro (apóstolo aos judeus, apóstolo em
Jerusalém, Judeia e Samaria) e Paulo (apóstolo aos gentios, aos lugares mais
distantes da terra). Lucas está descrevendo a construção da missão entre os
gentios.
Nas palavras de John Stott: Lucas, portanto, faz uma
transição abrupta de Paulo (Atos 9.1 a 31) para Pedro em Atos 9.32 e seguintes.
Lucas deixa Paulo em Tarso (Atos 9.30), temporariamente fora da vista, até
trazê-lo ao centro do palco em sua primeira viagem missionária (Atos 13.1 a
seguir). Enquanto isso, por mais de três capítulos (Atos 9.32 a 12.25), apesar
de mencionar Paulo duas vezes (Atos 11.25 a 30 e 12.25), Lucas se concentra em
Pedro. Assim, se o livro relata os “Atos dos Apóstolos”, esta parte relata
alguns “Atos de Pedro”, após os quais Pedro some totalmente de vista, abrindo
caminho para Paulo.
O evangelho estava seguindo dos judeus para os gentios, de
Jerusalém para a Judeia, depois Samaria, até chegar nos lugares mais distantes
da terra.
Nos passos e no poder de Jesus
Até chegar em Paulo de novo (Atos 13.1 a seguir), Lucas
contará basicamente três histórias envolvendo a vida de Pedro:
1 - A história de um milagre duplo (a cura de Eneias, e a
ressurreição Tabita ou Dorcas, Atos 9.32 a 43).
2 - A história de uma conversão (como Cornélio abraçou a fé,
Atos 10.1 a 11.18).
3 - A história de uma fuga (como Pedro foi liberto da prisão
e das más intenções de Herodes, Atos 12).
Stott é, de novo, esclarecedor:
Cada uma (das três histórias) pode ser vista como uma
confrontação, com a doença e a morte, com a alienação gentia, e com uma tirania
política. E mais, em cada caso, o conflito deu lugar à vitória, a cura de
Eneias, a ressurreição de Dorcas, a conversão de Cornélio, e a eliminação de
Herodes. O apóstolo Pedro é retratado como um agente efetivo pelo qual o Senhor
ressurreto, através de seu Espírito, continuou a agir e a ensinar.
Pedro, o discípulo, estava nos passos e no poder de Jesus, o
Mestre.
Deixando as duas últimas histórias de Pedro para as próximas
mensagens, a história da conversão de Cornélio, e a história da prisão e da
libertação de Pedro, hoje nós vamos nos concentrar em seu ministério junto a
Eneias e Tabita.
O que Pedro, nos passos e no poder de Jesus, tem a nos
ensinar? O que o discípulo que viveu assim como o Mestre tem a nos dizer sobre
a vida do discípulo que faz discípulos?
1 - Envolvimento pessoal
O envolvimento pessoal é marca indispensável do discípulo
que segue nos passos e no poder de Jesus. Não basta pregar às pessoas,
precisamos manter contato com elas, ir ao socorro delas.
Observe:
Atos 9.32 e 33 “Pedro viajava por toda parte, e foi visitar
o povo santo que vivia na cidade de Lida. Ali encontrou um paralítico chamado
Eneias, que permanecia de cama havia oito anos”.
Lida ficava numa localização estratégica: As estradas que
ligavam Egito e Síria, bem como Jerusalém e Jope passavam pela cidade. Hoje o
lugar deu espaço ao Aeroporto Internacional de Israel em Tel Aviv, Ben Gurion
Airport.
Em suas andanças e visitas, Pedro encontrou Eneias, que
precisava de cura. O envolvimento pessoal é indispensável ao discípulo de
Jesus.
2 - Exaltação de Cristo
Além do envolvimento pessoal, outra marca indispensável do
discípulo que segue nos passos e no poder de Jesus é a exaltação do nome de
Cristo.
Atos 9.34 e 35 “Pedro lhe disse: Eneias, Jesus Cristo cura
você! Levante-se e arrume sua maca. E, no mesmo instante, ele se levantou.
Todos os moradores de Lida e de Sarona viram Eneias e se converteram ao
Senhor”.
Observe: A pessoa que recebe glória, o poder que curou
Eneias e o propósito da cura.
A pessoa que recebe a glória é Jesus
Cristo. Pedro não usa a cura para exaltar seu “ministério de cura e
libertação”, “Eneias, Jesus Cristo cura você! Levante-se e arrume sua maca”.
O poder que curou Eneias foi divino: “no mesmo instante, ele
se levantou”.
O propósito da cura foi promover salvação. Jamais se esqueça
disso! “Todos os moradores de Lida e de Sarona viram Eneias e se converteram ao
Senhor”.
Sinais, maravilhas e curas divinas sempre tiveram um
propósito muito específico no Novo Testamento: Autenticar a mensagem dos
apóstolos, promovendo conversão e salvação.
Observe o que diz o autor de Hebreus:
Hebreus 2.3 e 4 “O que nos faz pensar que escaparemos se
negligenciarmos essa grande salvação, anunciada primeiramente pelo Senhor e
depois transmitida a nós por aqueles que o ouviram falar? E Deus confirmou a
mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons
do Espírito Santo, conforme sua vontade”.
O que se nota como resultado da cura de Eneias e da
ressurreição de Dorcas é que pessoas se converteram a Jesus Cristo:
Atos 9.42 e 43 “A notícia se espalhou por toda a cidade, e
muitos creram no Senhor. Pedro ficou em Jope algum tempo, hospedado na casa de
Simão, um homem que trabalhava com couro”.
O propósito de sinais, maravilhas e curas sempre foi
promover salvação, autenticando a pregação do evangelho. Os apóstolos tinham
consciência disso:
Atos 4.29 a 31 “E agora, Senhor, ouve as ameaças deles e
concede a teus servos coragem para anunciar tua palavra. Estende tua mão com
poder para curar, e que sinais e maravilhas sejam realizados por meio do nome
de teu santo Servo Jesus. Depois dessa oração, o lugar onde estavam reunidos tremeu,
e todos ficaram cheios do Espírito Santo e pregavam corajosamente a palavra de
Deus”.
O nome de Cristo é exaltado na vida do discípulo quando
Jesus, e não ministérios, recebe glória, quando não há dúvida do poder divino,
da sobrenaturalidade, e por fim, quando se entende que o propósito de todas as
coisas é a autenticação da Palavra para a salvação.
Paulo não poderia ter sido resumidamente mais claro, quando
escreveu aos romanos:
Romanos 15.16 a 19 “sou um mensageiro da parte de Cristo
Jesus a vocês, os gentios. Anuncio-lhes as boas-novas para que se tornem oferta
aceitável a Deus, separados pelo Espírito Santo. Tenho motivo, portanto, para
me entusiasmar com o que Cristo Jesus tem feito por meio de meu serviço a Deus.
E, no entanto, não ouso me vangloriar de nada, exceto do que Cristo fez por meu
intermédio a fim de conduzir os gentios a Deus, por minha mensagem e pelo meu
trabalho, convencendo-os pelo poder de sinais e maravilhas e pelo poder do
Espírito de Deus. Assim, apresentei plenamente as boas-novas de Cristo desde
Jerusalém até o Ilírico (nordeste da Itália)”.
3 - Disposição para servir
Nos passos e no poder de Jesus, o discípulo se envolve
pessoalmente com os outros, exalta a Jesus Cristo em tudo o que faz, mas ele
também se dispõe para servir.
Atos 9.36 a 39 “Havia em Jope uma discípula chamada Tabita
(que em grego é Dorcas). Sempre fazia o bem às pessoas e ajudava os pobres. Por
esse tempo, ficou doente e morreu. Seu corpo foi lavado para o sepultamento e
colocado numa sala no andar superior. Quando os discípulos souberam que Pedro
estava perto de Lida, enviaram dois homens para lhe suplicar: Por favor, venha
o mais rápido possível. Então Pedro voltou com eles e, assim que chegou, foi
levado para a sala do andar superior. O cômodo estava cheio de viúvas que
choravam e lhe mostravam os vestidos e outras roupas que Dorcas havia feito
para elas”.
Disposição para servir é marca de quem anda nos passos e no
poder de Jesus.
4 - Espiritualidade discreta
Nos passos e no poder de Jesus, o discípulo pode ser tentado
a querer aparecer mais do que o Mestre. Não foi o caso de Pedro. Ele era homem
dedicado à oração, mas em secreto, conforme Jesus ensinou que deveria ser
(Mateus 6.6 e 18).
Atos 9.40 a 42 “Pedro pediu que todos saíssem do quarto.
Então, ajoelhou-se e orou. Voltando-se para o corpo da mulher, disse: Tabita,
levante-se, e ela abriu os olhos. Quando ela viu Pedro, sentou-se. Ele lhe deu
a mão e a ajudou a levantar-se. Em seguida, chamou os discípulos e as viúvas e
a apresentou viva. A notícia se espalhou por toda a cidade, e muitos creram no
Senhor”.
Espiritualidade discreta é marca de quem anda nos passos e
no poder de Jesus.
5 - Ausência de preconceito
A última marca que podemos observar na vida de quem anda nos
passos e no poder de Jesus é a ausência de preconceito.
Atos 9.43 “Pedro ficou em Jope algum tempo, hospedado na
casa de Simão, um homem que trabalhava com couro’.
Essa “nota de rodapé” parece sem importância, mas não é:
Pedro hospedou-se na casa de um curtidor de couro! Curtidores de couro eram
desprezados pelos judeus do primeiro século. Afinal, eles lidavam, tocavam,
enfim, manuseavam pele de animais mortos. Trabalhar com couro, portanto, era
uma profissão impura para os judeus.
Pedro, após esta visita, teria sido evitado, colocado para
os cantos, em qualquer sinagoga dos judeus. Só que, enquanto cristão, andando
nos passos e no poder de Jesus, o apóstolo sabia que se tem algo que não pode
dominar o coração de um crente é o preconceito, “Deus não trata as pessoas com
parcialidade ou favoritismo” (Atos 10.34). O crente vai onde está o pecador (1
Coríntios 9.19 a 22). Afinal, ausência de preconceito é marca de quem anda nos
passos e no poder de Jesus.
Nos passos e no poder de Jesus
O discípulo é chamado para fazer discípulos. Ele precisa ser
como o seu Mestre. Ou seja: Ele tem que andar nos passos e no poder de Jesus…
Cultivando o envolvimento pessoal.
Exaltando a pessoa de Cristo.
Dispondo-se para servir.
Espiritualmente discreto.
Sem preconceito, parcialidade ou favoritismo no coração.
Crentes assim, uma igreja assim, colhem seus frutos:
Atos 9.43 “A notícia se espalhou por toda a cidade, e muitos
creram no Senhor”.
Sigamos, pois, nos passos e no poder de Jesus.
Quem o Senhor derrame sobre nós graça, misericórdia e paz.
Fale comigo: mapirola@yahoo.com
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