Filemom 1.8 a 16 “Por isso, mesmo tendo em Cristo plena
liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com
base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também prisioneiro de Cristo Jesus,
apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso. Ele antes
lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim. Mando-o de
volta a você, como se fosse o meu próprio coração. Gostaria de mantê-lo comigo
para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por causa do evangelho.
Mas não quis fazer nada sem a sua permissão, para que qualquer favor que você
fizer seja espontâneo, e não forçado. Talvez ele tenha sido separado de você
por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como
escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito
amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão”.
A dificuldade em perdoar
A nação norte-americana, que é o grande e o maior experimento
democrático de todos os tempos, foi fundada oficialmente aos 4 de julho de
1776. Dentre seus pais fundadores, destacam-se três: Benjamin Franklin
(1706-1790), George Washington (1732-1799) e Thomas Jefferson (1743-1826).
Franklin foi um dos líderes da Revolução Americana que resultou na
Independência do país, separando-o da Inglaterra. Washington foi o
comandante-chefe do Exército Continental durante a Guerra da Independência e o
primeiro presidente, detalhe: A capital americana recebeu o nome em sua
homenagem. Jefferson foi o principal autor da Declaração de Independência dos
Estados Unidos. Além do embrião do idealismo americano, quase todos os
“Founding Fathers”, como esses homens ficaram conhecidos, tinham algo em comum:
A busca e o cultivo da virtude. Lembre-se de que aquele era o século XVIII,
período no qual a autodisciplina era enaltecida, quase adorada. Na
Autobiografia que escreveu, Benjamin Franklin registrou:
“Incluí sob treze nomes de virtudes tudo quanto na ocasião
me ocorreu como necessário ou desejável e juntei a cada um deles um curto
preceito, que expressava plenamente a extensão dada por mim à sua significação.
Esses nomes de virtudes, com seus preceitos, foram:
1 - Temperança: Não comas até o
entorpecimento; não bebas até a exaltação.
2 - Silêncio: Não fales senão o que possa
beneficiar aos outros ou a ti; evita conversa frívola.
3 - Ordem: Que todas as tuas coisas tenham
seus lugares; que cada parte de tua atividade tenha seu tempo.
4 - Resolução: Resolve realizar o que
deves; realiza sem faltar com o que resolvestes.
5 - Frugalidade: Não faças despesa alguma a
não ser para o bem de outros ou de ti; isto é, não desperdices coisa alguma.
6 - Diligência: Não percas tempo; emprega-o
sempre em algo útil; suprima todas as ações desnecessárias.
7 - Sinceridade: Não uses ardis lesivos;
pensa com inocência e justiça, e, se falares fala do mesmo.
8 - Justiça: Não prejudiques ninguém
fazendo o mal ou omitindo os benefícios que são de teu dever.
9 - Moderação: Evita os extremos; não te
ofendas com injúrias especialmente quando pensas que as mereces.
10 - Limpeza: Não toleres falta de limpeza
no corpo, nas roupas ou na habitação.
11 - Tranquilidade: Não te deixes perturbar
por ninharias ou por acidentes comuns ou inevitáveis.
12 - Castidade: Use raramente dos prazeres
carnais, apenas por motivo de saúde ou reprodução, nunca até o entorpecimento,
à fraqueza ou em prejuízo da tua própria paz ou reputação de outrem.
13 - Humildade: Imite Jesus e Sócrates”.
(Fonte: Franklin, Benjamin. Autobiografia (Os
Empreendedores). LeBooks Editora, 2019, 2ª edição. Edição do Kindle. Posição
1464-1486).
Todo mundo tem algum ponto cego que o impede de enxergar
quem ele ou ela realmente é, ou seja, por causa do pecado, a nossa autoimagem e
auto avaliação sempre serão faltosas ou distorcidas (para mais ou para menos).
Com Franklin não era diferente. Ouça o que ele escreveu e perceba como a sua
honestidade é para poucos: “Minha lista de virtudes continha inicialmente
apenas doze. Todavia, tendo um amigo Quaker bondosamente me informado que eu
era em geral considerado orgulhoso; que meu orgulho com frequência se mostrava
na conversação; que eu não me contentava em ter razão quando discutia qualquer
questão, mas era arrogante e mesmo insolente, do que me convenceu mencionando
vários exemplos, decidi fazer esforço para, se possível curar-me desse vício ou
insensatez ao mesmo tempo que dos outros e acrescentei Humildade à minha lista,
dando à palavra um sentido amplo (13 - Humildade: Imite Jesus e Sócrates)”.
O homem parece ter obtido algum êxito, posto que prosseguiu,
dizendo:
“Não posso vangloriar-me de ter tido muito êxito na
aquisição da realidade dessa virtude, mas consegui muita coisa no que se refere
à aparência dela. Adotei a norma de abster-me de toda contradição direta dos
sentimentos alheios e de toda afirmação impositiva dos meus. Proibi-me mesmo, o
emprego de toda palavra ou expressão de linguagem que implicasse em opinião
firmada, como certamente, indubitavelmente etc. Quando alguém afirmava algo que
eu considerava errado, negava a mim mesmo o prazer de contradizê-lo
abruptamente e mostrar de imediato algum absurdo em sua proposição. Ao
responder, começava observando que, em certos casos ou circunstâncias, sua
opinião estaria certa, mas no caso presente parecia-me haver alguma diferença
etc. Constatei logo as vantagens dessa mudança em minhas maneiras. As
conversações em que me empenhava corriam mais agradavelmente. A maneira modesta
com que eu propunha minhas opiniões fazia com que tivesse recepção mais pronta
e menos contradição. Sofria menos humilhação quando era surpreendido em erro e
induzia mais facilmente os outros a abandonarem seus erros e juntarem-se a mim
quando acontecia de estar com a razão. Este modo, que a princípio impus com
certa violência sobre a inclinação natural, tornou-se finalmente tão fácil e
tão habitual para mim que talvez nestes últimos cinquenta anos ninguém tenha
ouvido escapar-me uma expressão dogmática. A este hábito (orgulhoso), (depois
de meu caráter de integridade) penso dever principalmente ao fato de cedo ter
tido tanta ascendência sobre meus concidadãos quando propunha novas
instituições ou alterações nas antigas, e tanta influência nos conselhos
públicos quando deles me tornei membro. Isso porque eu era mau orador, nunca
eloquente, sujeito a muita hesitação na escolha das palavras, pouco correto na
linguagem e, apesar disso, geralmente impunha meus pontos de vista. Na
realidade, talvez nenhuma de nossas paixões naturais seja tão difícil de subjugar
quanto o orgulho. Podemos disfarçá-lo, combatê-lo, abatê-lo, abafá-lo,
reprimi-lo o quanto quisermos, mas ele ainda continua vivo e, de vez em quando,
põe a cabeça para fora e se mostra. Poderá talvez ser visto com frequência
nesta história, pois, ainda que eu imaginasse tê-lo vencido completamente
provavelmente teria orgulho de minha humildade”.
Franklin estava tão interessado em avançar em suas virtudes
morais que mantinha tudo cuidadosamente anotado em um diário, que de fato mais
se parecia com um livro contábil do que com um caderno de anotações, no qual
mantinha conta de tudo todos os dias. Para se ter uma ideia, para cada dia da
semana havia um espaço para registrar deméritos auto atribuídos. Ele contava a
batalha pela virtude vencida quando seu registro mantido com a máxima
honestidade comprovasse nenhuma infração por um período de 13 semanas
consecutivas. Enquanto isso, quando as páginas ficavam completamente
preenchidas, porque de fato isso acontecia, você sabe o que ele fazia? Franklin
apagava tudo o que havia escrito e marcado e começava novamente. Eventualmente,
as rasuras enchiam as páginas com pequenos furos. Quando já era uma figura
mundialmente reconhecida, ele ainda usava seu diário, mas substituíra as
páginas frágeis de papel pelas mais duráveis folhas de marfim, daquela forma,
poderia apagar, apagar e apagar, sem rasurar.
Determinação, de fato, invejável. Sejamos honestos, um tipo
de virtude, infelizmente, para poucos, especialmente sua decisão de se tornar
uma pessoa mais humilde.
Benjamin Franklin, no entanto, estava longe de ser um santo.
Nota-se, por exemplo, que entre as 13 virtudes desse pai fundador dos EUA, o
perdão não aparece como uma a ser conquistada e cultivada. Talvez porque,
obviamente, o perdão seja uma das virtudes mais cristãs e mais difíceis de
serem cultivadas. Outra coisa: falta de perdão revela orgulho na raiz do
coração. O que nos faz pensar que Franklin até poderia ter conseguido algum
avanço epidérmico na batalha pela humildade, mas nada que tocasse assim tão fundo
nas fibras de seu coração.
Em 1731, Benjamin Franklin teve um filho de uma mulher
desconhecida. O problema é que ele estava casado com Deborah Read já fazia um
ano. A esposa, no entanto, tomou o bebê para si e o casal o criou como se fosse
seu próprio filho. William cresceu com o pai: ajudando-o em suas experiências
científicas, viajando com ele e tantas outras coisas mais que pais e filhos
fazem juntos. Franklin o enviou para ser educado na Inglaterra, onde o garoto
estudou Direito e foi admitido na Ordem dos Advogados. Pai e filho eram muito
próximos. Em 1763, William retornou às colônias americanas com uma comissão da
coroa britânica: ser o governador real de Nova Jersey, um posto que ele obteve
em grande parte pelo lobby de seu pai.
No entanto, quando a Revolução Americana contra a Inglaterra
chegou, William escolheu apoiar a coroa, e não o novo governo colonial, e por
essa escolha, o relacionamento anteriormente tão estreito que pai e filho
nutriam um pelo outro foi dolorosamente quebrado. Na verdade, William foi
capturado por forças coloniais, libertado na cidade de Nova York (que ainda
estava em pé com o rei britânico). Após alguns anos de trabalho com os leais à
coroa que viviam na cidade, o filho de Benjamin se juntou aos milhares de
americanos que emigraram para a Inglaterra, para nunca mais voltar à sua terra
natal.
Pai e filho se viram apenas mais uma vez em vida e nunca
foram reconciliados. Talvez por meio de alguma correspondência, alguns anos
após a guerra, o relacionamento tenha sido superficialmente resgatado, mas pelo
fato de William ter sido veementemente deixado de fora do testamento do pai,
não constar na Autobiografia escrita pelo pai (a única vez que o nome de
William aparece no livro é no corpo de uma carta com data anterior ao conflito)
e de não ter convivido com o pai depois da ruptura durante o início da
Revolução, parece que a restauração e a reconciliação nunca realmente
aconteceram: provavelmente porque o perdão nunca tivesse sido concedido pelo
pai ao filho.
Daniel Mark Epstein nos informa que, poucos anos antes de
morrer, Benjamin escreveu ao filho William nos seguintes termos:
“Nada jamais me machucou tanto e me afetou com comoções tão
fortes do que me encontrar abandonado na minha velhice por meu único filho (o
filho que Benjamin teve com Deborah morreu aos quatro anos), e não apenas
abandonado, mas descobri-lo pegando em armas contra mim, numa causa em que
minha boa fama, sorte e vida estavam todas em jogo”.
(Fonte: The Loyal Son: The War in Ben Franklin’s House.
Daniel Mark Epstein. New York: Ballantine Books, 464 pp. 2017. Citado por
Matthew C. Simpson em
https://newrepublic.com/article/143683/benjamin-franklin-son-divided-independence).
Benjamin Franklin nunca perdoou o filho! Dificilmente passou
pela caça dele que a atitude de William visava manter a própria integridade, ao
não se colocar como um traidor da coroa, como algo mais valioso do que a
obsessão pela “boa fama, sorte e vida” de seu pai. Benjamin parece nunca ter se
preocupado em se colocar no lugar do filho. Com efeito, nunca o perdoou. Foi
tanto que seu testamento menciona William apenas para deserdá-lo, “deixando-o
sem qualquer das propriedades pelas quais ele se esforçou tanto (lutando ao
lado da coroa) para delas me privar (mantendo-as sob propriedade do rei)”. O
perdão parece ter sido uma virtude que faltava à Benjamin Franklin.
O poder para perdoar
Você acha difícil perdoar? Perdoar é muito difícil, mas é
possível, e necessário.
Ken Sande, autor de um livro crucial para a arte de se
relacionar e de curar relacionamentos, no Brasil foi publicado em 2016 com o
título O Pacificador: Como Solucionar Conflitos pela editora CPAD, escreveu que:
“Perdoar alguém significa liberá-lo da responsabilidade de
sofrer punição ou penalidade. Aphiemi, uma palavra grega que é frequentemente
traduzida como “perdoar”, significa deixar ir liberar ou remeter. Geralmente,
refere-se a dívidas que foram pagas ou canceladas na íntegra (por exemplo,
Mateus 6.12; 18.27 e 32). Charizomai, outra palavra para “perdoar”, significa
conceder favor livre ou incondicionalmente. Esta palavra mostra que o perdão é
imerecido e não pode ser conquistado (Lucas 7.42 e 43; 2 Coríntios 2.7 a 10;
Efésios 4.32; Colossenses 3.13). Como essas palavras indicam, o perdão pode ser
uma atividade cara. Quando alguém peca, cria uma dívida e alguém deve pagá-la.
A maior parte dessa dívida é devida a Deus. Em sua grande misericórdia, ele
enviou seu Filho para pagar essa dívida na cruz por todos que cressem nele
(Isaías 53.4 a 6; 1 Pedro 2.24 e 25; Colossenses 1.19 e 20). Mas se alguém
pecou contra você, parte da dívida do pecador também é devida a você. Isso
significa que você tem uma escolha a fazer. Você pode receber pagamentos da
dívida ou efetuar pagamentos. Você pode receber ou extrair pagamentos de uma
dívida do pecado alheio (cobrando da pessoa que pecou contra você) de várias
maneiras: retendo o perdão, remoendo o que foi feito contra você, sendo frio e
permanecendo distante, desistindo do relacionamento, infligindo dor emocional,
fofocando, batendo de volta ou buscando vingança contra quem o machucou. Essas
ações podem proporcionar um prazer perverso no momento, mas, a longo prazo,
exigem um alto preço de você. Como alguém disse uma vez: “A falta de perdão é o veneno que bebemos, esperando que os outros
morram”. Sua outra opção é efetuar pagamentos da dívida e, assim, liberar
outras pessoas das multas que elas merecem pagar (a você). Às vezes, Deus
concede que você efetue um pagamento fácil. Você decide perdoar e, pela graça
de Deus, a dívida é rápida e totalmente cancelada em seu coração e mente. Mas
quando há um erro profundo, a dívida que ela cria nem sempre é paga de uma só
vez. Você precisará suportar certos efeitos do pecado da outra pessoa por um
longo período de tempo. Isso poderá envolver lutar contra memórias dolorosas,
falar palavras gentis quando você realmente queria dizer algo ofensivo,
trabalhar para derrubar muros de separação e ficar vulnerável quando você ainda
sente pouca confiança, ou mesmo suportar as consequências de um ferimento
material ou físico causado pela outra pessoa que é incapaz de se reparar com
você ou mesmo não deseja. O perdão pode ser extremamente caro, mas se você crê
em Jesus, tem mais do que o suficiente para fazer esses pagamentos. Ao ir para
a cruz, ele pagou a dívida final pelo pecado e abriu uma conta de graça
abundante em seu (nosso) nome (no nome daqueles que creem). Ao recorrer a essa
graça através da fé, dia após dia, você descobrirá que tem tudo o que precisa
para pagar o perdão daqueles que o prejudicaram”.
(Fonte: Sande, Kenneth. The Peacemaker: A Biblical Guide To
Resolving Personal Conflict. Grand Rapids: Baker Publishing Group, third
Edition, 2004. Pág. 207-208).
O poder para perdoar vem da cruz de Cristo. E sobre isto nós
estamos estudando nesta pequena carta de Paulo, escrita a Filemom. Nela, o
apóstolo desafia o senhor a lançar a dívida do servo, prejuízos de qualquer
natureza que ele, porventura, tivesse causado, na conta dele mesmo (Paulo) ou
na de Cristo mesmo, por assim dizer. (Vs. 17 a 19 “Assim, se você me considera
companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o
prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo,
escrevo de próprio punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua
própria pessoa”).
Paulo estava dizendo a Filemom: “Meu irmão, realmente!
Alguém tem que pagar pela dívida, pelo prejuízo de Onésimo. Pague você mesmo.
Se você não conseguir, eu pago. Cobre de mim. Eu pagarei. Assim como você, eu
tenho crédito de sobra na conta que Cristo, pela graça, abriu em meu nome (e no
seu também)”. Percebeu o que o apóstolo estava fazendo? Paulo estava ensinando
a Filemom o poder do evangelho da cruz de Cristo para curar o coração,
restaurar relacionamentos e construir uma nova cultura no meio do caos de injustiça
que era o Império Romano.
Agora, ninguém sabia melhor do que Paulo o grande risco que
estava assumindo. Um escravo, como já dissemos na mensagem anterior, não era
uma pessoa, mas uma “ferramenta viva”. Um senhor de escravos tinha poder
absoluto sobre os seus.
William Barclay nos informa que o proprietário poderia, por
exemplo:
“Boxear suas orelhas ou condená-los a trabalhos forçados, fazendo-os,
por exemplo, trabalhar acorrentados em suas terras no campo ou em uma espécie
de fábrica-prisão. Ou, ele poderia puni-los no laço com golpes de vara ou
chicote; ele poderia ainda marcá-los na testa, caso fossem ladrões ou
fugitivos, ou, no final das contas, se fossem irrecuperáveis, ele poderia
crucificá-los”. Barclay também registrou que o advogado, poeta, retórico e
satirista romano Juvenal (55 – 127 d. C.) desenhou a imagem da senhora que
espancaria sua criada por mero capricho dela e do marido, escrevendo que ela
“deleita-se com o som de uma flagelação cruel, considerando-a mais doce do que
a música de qualquer sereia ou mel”, que não fica feliz “até que convoque um
torturador e possa marcar alguém com ferro quente por roubar um par de toalhas”
e “que se deleita com o som de correntes retinindo”.
“Os escravos estavam continuamente à mercê dos caprichos de
suas senhoras e de seus senhores. Eles eram deliberadamente reprimidos. Havia
no Império Romano 60 milhões deles, e o perigo de revolta era constantemente
combatido. Dessa forma, um escravo rebelde era prontamente eliminado, e se
fugisse, de duas uma: 1 - Na melhor das hipóteses, ele seria marcado com um
ferro em brasa na testa, com a letra F, significando fugitivus (fugitivo, em
latim), ou com as letras CF, cave furem (cuidado com o ladrão, em latim), ou mesmo
com as três FCF, fugitivus cave furem (fugitivo, cuidado com o ladrão); 2 - E,
na pior das hipóteses, o escravo seria morto por crucificação. Paulo estava bem
ciente de tudo isso e de que a escravidão estava tão arraigada no mundo antigo
que até mesmo enviar Onésimo de volta ao crente Filemom era um risco
considerável”.
(Fonte: William Barclay, The Letters to Timothy, Titus, and
Philemon, 3rd ed. fully rev. and updated., The New Daily Study Bible, Louisville,
KY; London: Westminster John Knox Press, 2003, pg. 304-305).
Eis, pois, a razão para Paulo escrever esta carta e
colocá-la nas mãos de Onésimo, para que ele mesmo, por sua vez, fosse e a
entregasse nas mãos de Filemom. Esse documento, além de ter servido como uma
espécie de habeas corpus apostólico para Onésimo, contém uma mensagem poderosa
para todas as épocas e culturas: a mensagem do evangelho.
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