Filemom 1.17 a 25 Assim, se você me considera companheiro na
fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou
lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de próprio
punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua própria pessoa. Sim,
irmão, eu gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor.
Reanime o meu coração em Cristo! Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá,
sabendo que fará ainda mais do lhe que peço. Além disso, prepare-me um aposento,
porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês. Epafras,
meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia-lhe saudações, assim
como também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores. A graça do
Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de todos vocês”.
Cartas da Prisão
John Bunyan, pregador e escritor batista, viveu no século
XVII, entre 1628 e 1688 na Inglaterra. Teve pouca educação escolar. Era muito
pobre. Seguiu os passos do pai na profissão e trabalhou como funileiro,
consertando potes e panelas quebrados. Sua especialidade, portanto, eram peças
de barro, ferro e madeira que lhe eram levados para reparos. Após servir o
exército (dos 16 aos 19 de idade), casou-se aos 20 anos, em 1649. Viveu em
Elstow até 1655, quando sua esposa morreu, deixando-lhe quatro filhos. Mudou-se
com a família para Bedford, cerca de 80 quilômetros ao norte de Londres, e se
casou pela segunda vez.
Converteu-se ao cristianismo pouco antes de completar 25
anos, durante os anos do primeiro casamento. Logo começou a pregar como um
leigo, isto é, sem treinamento teológico ou ordenação ao ministério da Palavra.
Bunyan rapidamente percebeu o quanto sua pregação era popular, posto que cada
vez mais recebia convites de todos os lugares para ir pregar. Também se
destacou imediatamente como escritor de obras polêmicas por contestar o status
quo religioso do anglicanismo, que era a Igreja da Inglaterra.
Àquela época, a Inglaterra estava em guerra civil. Como o
rei havia sido deposto, o país estava sendo governado pelo militar Oliver
Cromwell. Cromwell morreu em 1658 e seu filho liderou a nação por mais algum
tempo. Carlos II, esperando em Paris, cruzou o canal de volta e foi recolocado
no trono como o rei da Inglaterra em 1660. Em outubro daquele mesmo ano, foi
ordenado que o Livro de Oração Comum, cartilha oficial da Igreja Anglicana, fosse
adotado e lido nos cultos de todas as igrejas de Bedfordshire, que era o
condado de Bunyan. Durante o tempo em que a nação ficou sem rei, houve grande
liberdade religiosa para que se fizesse tudo o que se achasse edificante como
cristãos, desde que não fosse o catolicismo romano (ou seja, não havia tanta
liberdade assim); mas fora isso, era permitido qualquer expressão de culto
cristão com decência e ordem. No entanto, com a ascensão do rei ao trono e a
implementação da nova liturgia, tudo mudou.
Em 12 de novembro de 1660, ano no qual se havia instituído a
nova regra anglicana, Bunyan viajou para o interior para participar de um
culto, no qual ele pregaria como convidado. Chegando ao local, encontrou os
cristãos reunidos normalmente, mas ele os percebeu visivelmente tensos.
Explicaram-lhe que estavam recebendo ameaças de prisão, caso ele pregasse.
Tentaram dissuadi-lo de subir ao púlpito, mas ele respondeu:
“Não, de maneira nenhuma, não vou me intimidar, nem vou
mandar encerrar a reunião por isso. Venham, tenham bom ânimo; não nos
assustemos; nossa causa é boa, não precisamos ter vergonha disso; pregar a
Palavra de Deus é uma obra tão boa, que seremos bem recompensados, se sofrermos
por isso; ou por esse propósito”. (Bunyan, John. Grace Abounding To The Chief
Of Sinners, p. 95. Edição do Kindle).
Bunyan sabia que se recuasse por causa da ameaça de prisão,
sua atitude significaria que todos os demais fariam o mesmo quando estivessem
sob a mesma pressão. Viu-se, então, na obrigação de permanecer firme e fiel à
causa do evangelho. Por outro lado, ele também sabia de suas responsabilidades
com esposa e quatro filhos, cada um dos quais com menos de nove anos de idade,
sob os seus cuidados. Essa realidade torturava a sua mente, mas ele não via
como poderia se recusar a pregar o evangelho simplesmente por medo de ser
preso. Então ele resolveu pregar.
Tão logo começou a proferir sua mensagem, alguns homens
invadiram a casa de cultos e o levaram preso. Enquanto era levado, Bunyan fazia
alusão à primeira carta de Pedro, capítulo 2, destacando que ele não estava
sofrendo por qualquer coisa má que tivesse praticado, mas por seguir os passos
de Jesus (1 Pedro 2.21).
O jovem Bunyan, contando apenas 32 anos de idade, foi levado
perante o magistrado para receber uma reprimenda por ter violado a lei, posto
que não tinha licença legal para pregar. Todos esperavam que ele se retratasse
e abandonasse a ideia de pregar, mas Bunyan continuou na contramão. Expôs à
corte que estava apenas cumprindo aquilo para o que Deus mesmo o havia chamado
a fazer; estava apenas exercendo os dons que Deus mesmo tinha dado a ele para
pregar o evangelho em benefício de outros cristãos. O juiz perdeu a paciência e
garantiu a Bunyan que exterminaria aquelas reuniões. Bunyan respondeu a tudo
sem perder a calma. Manteve firme a convicção de jamais deixar de pregar e foi
conduzido à prisão de Bedford. Preso, ele refletiu:
“Apesar dessas ajudas (das passagens bíblicas nas quais ele
meditava), achava-me um homem cercado de debilidades; a separação de minha
esposa e de meus filhos sempre me tem sido como arrancar a carne dos meus
ossos, enquanto estou neste lugar. Isso não somente porque amo demais essas
grandes misericórdias, mas porque sempre sou lembrado das muitas privações,
misérias e da grande falta que minha pobre família provavelmente terá, se eu
for tirado deles, especialmente minha pobre filha cega, que está mais perto de
meu coração do que qualquer outra coisa. Ah! Pensar nas privações que minha
filha cega pode passar quebra o meu coração em pedaços! Pobre criança, pensei,
que sofrimento você provavelmente terá como sua porção neste mundo! Você poderá
ser esbofeteada, mendigar, passar fome, frio, não ter o que vestir e milhares
de outras calamidades, embora eu não possa fazer muito mais que impedir o vento
de soprar sobre você. Mas, controlando-me, pensei: devo confiar todos vocês a
Deus, mesmo que deixá-los fira-me até ao âmago. Ah, vi que nesta situação, eu
era como um homem que derrubava sua casa na cabeça de sua esposa e de seus
filhos! Apesar disso, pensei, preciso fazer isso, preciso fazer isso. Então,
pensei naquelas duas vacas que carregaram a Arca de Deus para outra terra,
deixando seus bezerros para trás (1 Samuel 6.10 a 12)”. Várias considerações me
auxiliaram nesta tentação, (uma delas foi a esperança deste versículo) “Deixa
os teus órfãos, e eu os guardarei em vida; e as tuas viúvas confiem em mim” (Jeremias
49.11).
(Bunyan, John. Grace Abounding To The Chief Of Sinners, p.
89-90. Edição do Kindle).
Foi nesta esperança que Bunyan se estribou ao longo dos 12
anos que ele permaneceu na prisão, salvo alguns breves períodos de liberdade,
até que ele fosse libertado definitivamente em 1675.
Eu me pergunto: Como seria ter 12 anos tirados de minha vida
assim dessa maneira? Lembre-se: Bunyan passou 12 na cadeia não porque fosse
culpado de roubou ou assassinato, por exemplo. A culpa era por ter pregado o
evangelho. Como seria ter 12 anos de minha vida tomados de mim daquele jeito?
Como seria para você?
Eu conheço meu próprio coração bem o bastante para supor que
talvez eu lutaria com amargura e ansiedade. Especialmente por saber que gente
muito pior do que eu estaria em liberdade; pessoas que de fato haviam cometido
crimes estariam em liberdade; mas eu, pelo simples fato de ter pregado o
evangelho e me recusar a dizer que nunca mais pregaria o evangelho, estava
amargando aquela prisão, enquanto minha família era privada de minha presença,
provisão e proteção. Inda mais, a qualquer momento eu poderia ser liberto,
desde que assumisse o compromisso de não pregar mais o evangelho. Como você se
sentiria? De que maneira você empregaria aqueles 12 anos de prisão?
Olhe para Bunyan mais uma vez: após cinco anos livre para
pregar, ele foi preso por 12 anos por ter pregado sem a licença do Estado, e
por se recusar a parar de pregar. No entanto, aquele puritano abençoou o povo
de Deus ainda mais, para muito além de seu contexto e geração. Isto porque,
ainda que preso, escreveu um dos livros cristãos mais maravilhosos da história
do cristianismo: O Peregrino, que é considerada uma das obras de ficção
religiosa e teológica mais significativas da literatura inglesa e mundial;
estima-se que ele foi traduzido para mais de 200 idiomas e nunca ficou fora de
catálogo.
Pare e pense por um instante. Tome fôlego e reflita. Se
Bunyan tivesse dado um jeitinho para não continuar preso, se ele tivesse
contornado e agido com meias verdades apenas para se ver liberto da prisão, se
ele tivesse dito, apenas proforma, que se comprometia a não mais pregar, se ele
tivesse pensado apenas nele mesmo e no sofrimento da família, especialmente nas
privações da filha mais velha, Mary, que era cega, certamente ele poderia ter
ficado fora da prisão, e teria nos empobrecido grandemente. Sim, pois fora da
cadeia, Bunyan provavelmente não teria escrito os clássicos O Peregrino, Guerra
Santa, Graça Abundante ao Principal dos Pecadores e outros cinco livros pelo
menos (estima-se que ao todo ele tenha escrito nove livros na prisão). Em
poucas palavras: a liberdade de Bunyan teria empobrecido a literatura cristã.
Responda-me: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom, o
que essas cartas do Novo Testamento têm em comum? Todas elas foram escritas da
prisão. Paulo as escreveu de Roma, durante o seu primeiro período de prisão,
aproximadamente entre 60 e 62 d.C. E por que Paulo estava preso? Assim como
John Bunyan (ou John Bunyan como ele), o apóstolo estava na prisão por pregar o
evangelho. Portanto, se Paulo tivesse optado pela liberdade, tivesse ele
pensado apenas a curto prazo ou apenas nele mesmo, o custo não teria sido
apenas que ele não poderia sair pregando livremente, mas que também nós jamais
teríamos essas Cartas da prisão. Já pensou o Novo Testamento sem Efésios, Filipenses,
Colossenses e Filemom? Que desperdício teria sido a liberdade de Paulo! Tome um
tempo para ler as Cartas da prisão (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom)
e perceba, por você mesmo, o que o mundo teria perdido se não tivéssemos esses
documentos compostos em uma masmorra em Roma.
Pois bem, a pequena carta de Paulo a Filemom tem sido o
nosso objeto de estudo já há alguns domingos. Estamos caminhando para a sua
conclusão (Deus permitindo), e a primeira lição que eu desejo extrair para nós
é que aquelas liberdades que, em Cristo, nós acabamos perdendo, todas elas
podem ser revertidas para o nosso bem e o progresso do evangelho. Já pensou
sobre isto? Portanto, pare de se amargurar ou de ficar ansioso e olhe para a
sua prisão como uma oportunidade para você se preservar, amadurecer e
frutificar para a glória de Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus.
A carta do perdão
Henrique VIII da Inglaterra (1491-1547) decidiu que anularia
seu casamento com Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena na esperança de
que a segunda esposa lhe desse um herdeiro. Thomas More (1478-1535) atuava como
Senhor Chanceler da Igreja na Inglaterra, uma espécie de Arcebispo. Sendo
profundo conhecedor de teologia e do direito canônico, além de homem piedoso,
More via na anulação do casamento do rei uma matéria da jurisdição do papado, e
a posição do Papa Clemente VII era claramente contra o divórcio em razão da
doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio. A opção que sua consciência
julgou ser a melhor foi a de deixar o cargo de Senhor Chanceler do rei. O
desdobramento deste ato culminou com sua injusta e sumária condenação à morte.
Pela sentença o réu era condenado “a ser suspenso pelo pescoço” e cair em terra
ainda vivo. Depois seria esquartejado e decapitado. Em atenção à importância do
condenado, o rei, “por clemência”, reduziu a pena a “simples decapitação”.
A sua cabeça foi exposta na ponte de Londres durante um mês,
e posteriormente recolhida por sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas
More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535, ordenada por Henrique
VIII, foi considerada uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo
Estado contra um homem de honra, consequência de uma atitude despótica e de
vingança pessoal do rei. (Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More).
As palavras de More aos juízes injustos ficaram famosos na
história:
“Como o bem-aventurado apóstolo São Paulo, consentiu com a
morte de São Estêvão, e segurou os mantos daqueles que o apedrejaram até a
morte, e ainda assim estão os dois santos no céu, e continuarão lá amigos para
sempre, então eu realmente confio, e, portanto, orarei com toda a sinceridade,
para que, embora Vossas Senhorias tenham agora aqui na terra sido os juízes da
minha condenação, ainda possamos, daqui em diante no céu, todos nos encontrar
alegremente, para a nossa salvação eterna. (Fonte: MacArthur, p. 225).
Ô, meu povo, a beleza do perdão! A beleza do perdão de
Thomas More, valendo-se do exemplo de Estêvão. A beleza do perdão do próprio
Estêvão, que disse: “Senhor, não os culpes por este pecado”! Enquanto eles
esmagavam seu corpo com pedras brutas (Atos 7.60). A beleza do perdão do Senhor
Jesus, que olhou para seus crucificadores e disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não
sabem o que fazem” (Lucas 23.34). A beleza do perdão conforme está posta nesta
nossa pequena carta de Paulo a Filemom.
Embora nunca mencione a palavra “perdão”, a carta nos ensina
uma lição viva de perdão. Ela nos ensina alguns elementos essenciais do perdão
da maneira mais gentil, prática e sutil possível. É o que nós temos estudado ao
longo deste texto. Paulo já nos ajudou a ver que o perdão é possível por causa
do amor que nasce do evangelho, por isso que estudamos sobre a importância da
comunidade do amor (vs. 1 a 3); a necessidade da influência do amor (vs. 4 a 7);
como deve ser a prática do amor (vs. 8 a 18); como se dá a intervenção do amor
(vs. 8 a 22) e agora nós aprenderemos sobre as motivações do amor (vs. 17 a25).
Chegamos agora aos versículos finais desta carta, versículos
17 a 25, onde Paulo nos abre uma visão sobre os motivos para o perdão. Em
outras palavras: Por que perdoar? Qual é a motivação interna impulsionadora do
amor que nos faz pedir perdão ou perdoar? Há neste texto pelo menos cinco
motivações para se perdoar:
A visibilidade do evangelho (vs. 17 a 19); a possibilidade
de abençoar (v. 20); a necessidade de obediência (v. 21); a importância de se
manter comunhão (vs. 22 a 24); a medida da graça que recebemos de Cristo (v.
25).
1 - A visibilidade do evangelho
Filemom havia sido lesado por Onésimo. Para fugir e arcar
com suas despesas, o servo deve ter pegado dinheiro ou algum bem do seu senhor.
A lei de Moisés dizia expressamente que nesses casos, restituição deveria ser
feita, conforme se lê (Números 5.6 a 8 “Diga aos israelitas: Quando um homem ou
uma mulher prejudicar outra pessoa e, portanto, ofender ao Senhor, será
culpado. Confessará o pecado que cometeu, fará restituição total, acrescentará
um quinto a esse valor e entregará tudo isso a quem ele prejudicou. Mas, se o prejudicado
não tiver nenhum parente próximo para receber a restituição, está pertencerá ao
Senhor e será entregue ao sacerdote, juntamente com o carneiro com o qual se
faz propiciação pelo culpado”). Ora, até que Onésimo conseguiria confessar o
pecado e pedir o devido perdão, mas pagar indenização com acréscimo de 20% ao
valor devido a Filemom, conforme ditava a lei, era impossível para aquele
miserável fugitivo.
Daí que Paulo escreveu (vs. 17 a 19 “Assim, se você me
considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele
o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo,
escrevo de próprio punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua
própria pessoa”).
Meu Deus! Que palavra forte! Paulo estava dizendo a Filemom
para tratar Onésimo da mesma forma como ele o trataria. Queria que Onésimo
desfrutasse da mesma retidão que o apóstolo aos olhos de Filemom: receba-o como
você me receberia, perdoe-o como você me perdoaria, sinta-se obrigado a ele da
mesma forma que você se sentiria obrigado a mim, receba-o da mesma forma que
você receberia a mim, e se ele te deve, cobre tudo de mim, eu mesmo pagarei a
conta por Onésimo.
Você percebeu o que Paulo estava fazendo? Ele estava
tornando o evangelho visível. O apóstolo estava desempenhando um papel
redentor, salvífico na vida de Filemom e Onésimo. De fato, o mesmo papel que
Jesus Cristo desempenha no relacionamento entre o pecador e Deus. Filemom,
assim como Deus Pai, foi defraudado. Foi ofendido. Onésimo é como o pecador que
fugiu de Deus, que defraudou a Deus, que desperdiçou sua vida no pecado e
precisa se reconciliar. Alguém deve pagar o preço, certo? Quem? Jesus Cristo.
Paulo conhecia muito bem a realidade da morte substitutiva
de Jesus Cristo. Ele tinha pregado isso por anos, inclusive para Filemom e
Onésimo. O que ele estava, então, fazendo era dizer aos dois, especialmente a
Filemom: Eu quero ser como Cristo. Quero assumir a dívida e o pecado de Onésimo
para que ele se reconcilie com você. Quero tornar o evangelho visível aos olhos
de vocês e através da vida de vocês.
Pare e pense. Isso lhe dá algum insight sobre o coração ou
as motivações de Paulo? Você se lembra quando ele disse em várias ocasiões:
“Sede meus imitadores como eu sou de Cristo”? Aqui você o vê como o substituto
para a reconciliação. Muito parecido com Cristo! Nunca somos mais semelhantes a
Deus do que quando perdoamos. Nunca somos mais semelhantes a Cristo do que
quando carregamos a dívida para que o perdão e a reconciliação possam ocorrer. Paulo
estava agindo como Cristo. Ele disse: vou assumir a consequência do pecado de
Onésimo; você, Filemom, apenas o receba de volta. Que coisa linda, linda de
morrer!
Toda vez que alguém peca contra nós, ficamos com a chance de
tornar o evangelho visível: pegamos a dívida, o prejuízo, o que for (mesmo que
sejamos nós mesmos os lesados) e levamos conosco tudo para a cruz; entregamos
de volta amor, perdão e reconciliação.
Que motivação nós devemos ter para perdoar? A visibilidade
do evangelho. Tornar visível em nossa própria vida o que Cristo fez por nós e
por todos os pecadores.
2 - A possibilidade de abençoar
O que nos motiva a amar e perdoar é, em primeiro lugar,
tornar visível o evangelho na nossa própria vida. Mas tem mais: motiva-nos a
amar e a perdoar a possibilidade que temos de abençoar com o nosso amor e
perdão. Ouça mais uma vez o que Paulo escreveu a Filemom (v. 20 “Sim, irmão, eu
gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor. Reanime o
meu coração em Cristo).
Paulo sabia que Filemom tinha o dom de abençoar o próximo.
No versículo 7 ele já tinha escrito o seguinte: “Seu amor, meu irmão, tem me
dado muita alegria e conforto, pois sua bondade tem revigorado o coração do
povo santo”. Assim como Filemom por tanto tempo já havia reanimado ou
revigorado o coração de tantas pessoas, agora era a vez de Paulo mesmo ser
revigorado ou reanimado por ele. Mas como?
O ato de perdão de Filemom alegraria Paulo por demonstrar
que seu filho na fé estava crescendo na graça e no conhecimento de nosso Senhor
Jesus Cristo.
Quer ver uma coisa?
Você se lembra das palavras de Paulo em Filipenses 2.2,
quando ele disse: “completem minha alegria”? De que maneira eles completariam a
alegria de Paulo? O versículo continua: “concordando sinceramente uns com os outros,
amando-se mutuamente e trabalhando juntos com a mesma forma de pensar e um só
propósito”. Em outras palavras, no espírito de Filipenses 2.3 e 4: “Filemom, se
você não for egoísta, nem tentar impressionar ninguém, se for humilde e
considerar Onésimo mais importante que você, se você não se preocupar apenas
com seus próprios interesses, mas preocupar-se também com os interesses de
Onésimo e os meus, você me alegrará, reanimará meu coração”.
Por outro lado, caso Filemom se recusasse a perdoar Onésimo,
ele levaria pesar ao coração de Paulo, entristeceria o coração do apóstolo.
Paulo amava os dois, e amava também a igreja, a unidade da igreja. Logo,
qualquer falha em perdoar prejudicaria aquela relação, prejudicaria a igreja.
Prejudicaria também a eficácia do ministério de Paulo e o poder do evangelho
aos olhos do mundo que os estava observando. Então, o apóstolo simplesmente
diz: muito me alegrará se você perdoar, será uma bênção para Onésimo, para
você, para a igreja e para mim, será uma bênção para o evangelho.
Que motivos nós temos para amar e perdoar? O amor que
promove o perdão torna visível o evangelho e abençoa todos ao redor. Quê mais?
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