16/05/2021

15 - A intervenção do amor - Parte 4

 


 

Filemom 1.8 a 22 “Por isso, mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio coração. Gostaria de mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por causa do evangelho. Mas não quis fazer nada sem a sua permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não forçado. Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão. Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de próprio punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua própria pessoa. Sim, irmão, eu gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor. Reanime o meu coração em Cristo! Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do lhe que peço. Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês”.

Estratégias de um pacificador

Recapitulando: A carta a Filemom foi escrita por um pacificador. Ela serviu para reconciliar Filemom e Onésimo, contribuiu para que houvesse perdão, comunhão e libertação. Mas tem mais uma coisa: Paulo escreveu este documento de tal modo a nos ensinar a ser o tipo de pacificador que todo cristão é chamado a ser.

Há pelo menos cinco estratégias que podemos observar, estratégias imprescindíveis para se intervir com amor pela causa do amor, para se intervir como pacificador:

1 - Apele com base no amor, não na força da autoridade (vs. 8 e 9);

2 - Apele com base na empatia, não na frieza da distância (v. 10);

3 - Apele com base no sacrifício, não na imposição da servidão (vs. 11 a 14);

4 - Apele com base na transformação do coração, não na mudança do comportamento (vs. 11, 15 e 16);

5 - Apele com base na lógica do evangelho, não na ideia do aqui se faz, aqui se paga (vs. 17 a 22).

As primeiras quatros estratégias já estudamos nas aulas anteriores. Prossigamos com a quinta e última…...

5 – Apele com base na lógica do evangelho, não na ideia do aqui se faz, aqui se paga

Paulo apelou a Filemom com base no amor, não na força da autoridade (vs. 8 e 9); com base na empatia, não na frieza da distância (v. 10); com base no sacrifício, não na imposição da servidão (vs. 11 e 14); com base na transformação do coração, não na mudança do comportamento (vs. 11, 15 e 16). Mas tem uma coisa mais: Paulo apelou com base na lógica do evangelho, não na ideia do aqui se faz, aqui se paga (vs. 17 a 22 “Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de próprio punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua própria pessoa. Sim, irmão, eu gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor. Reanime o meu coração em Cristo! Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do lhe que peço. Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês”).

Que declaração poderosa! As pessoas não costumam tomar assim o lugar de outras pessoas. Você tomaria o lugar de Onésimo? Assumiria a culpa dele? Se ofereceria para pagar as contas dele, mesmo sem ter ouvido o lado de Filemom? Afinal, toda história tem dois lados, não é mesmo? E se Onésimo tivesse mentido? Como Paulo foi capaz de confiar na história de Onésimo? As evidências estavam na nova vida de Onésimo, fruto do evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus. E não importava o que um ou outro tivesse feito, quem estava ou não estava com a razão: Onésimo precisava pedir perdão e restituir Filemom de alguma maneira; Filemom, por sua vez, deveria perdoar e receber Onésimo como irmão. Essa é a lógica do evangelho.

A lógica do evangelho é que todos nós temos um débito impossível de ser pago por nós mesmos, mas houve um que veio do céu e se fez carne: “Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 1.5, ARA). Ele viveu sem pecados. Tomou sobre si mesmo os nossos pecados. Morreu na cruz, sob o castigo de Deus, não pelos pecados dele, mas pelos nossos. Foi sepultado e ressuscitou vitorioso. Os que se arrependem e nele creem, têm seus débitos cancelados e recebem perdão e salvação. Paulo escreveu assim, 1 Timóteo 2.5 e 6 “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos” (ARA).

Eis a lógica do evangelho: aquele que não tinha pecado, que não tinha qualquer dívida a pagar, tomou sobre si mesmo os nossos pecados e pagou por eles em nosso lugar. Paulo provou desse evangelho, aprendeu essa lógica e, portanto, foi capaz de dizer a Filemom (vs. 17 a 19 “Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de próprio punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua própria pessoa”).

A lógica de Paulo é a lógica do evangelho, a lógica do substituto de Deus no lugar do pecador: Cristo Jesus, homem. Justiça, verdadeiramente, se faz com a lógica do evangelho, não com a lógica do aqui se faz, aqui se paga. Não há como nós mesmos pagarmos pelos nossos débitos. Ninguém será capaz de pagar a você os débitos devidos a você. Somente Cristo, e ele já pagou lá na cruz, quando tomou, em nosso lugar, a morte e a condenação que nos eram devidos.

Quem provou desse amor que nasce do evangelho de Cristo aprende a viver por essa lógica do evangelho de Cristo, e aprende a perdoar. A lógica do evangelho não é “aqui se faz, aqui se paga”, mas antes “nós pecamos contra Deus e contra o próximo, e Cristo morreu em nosso lugar para pagar a dívida que era nossa”. Esse amor e essa lógica do evangelho nos fazem acreditar que as pessoas podem sim mudar e florescer.

A esperança de que todo mundo, toda e qualquer pessoa pode mudar e florescer por causa do evangelho e pela lógica do evangelho foi o que motivou Paulo a escrever (vs. 20 a 22 “Sim, irmão, eu gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor. Reanime o meu coração em Cristo! Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do lhe que peço. Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês”).

É isto o que o evangelho de Jesus Cristo nos proporciona: a possibilidade de se ver perdão nascer, gentileza florescer, pessoas nos reanimar, obediência ser praticada e muito mais do que pedimos ou pensamos ser realizado pelo poder de Deus que opera em nós. Sem contar que o evangelho nos proporciona sempre um cantinho no coração e no quarto da casa de irmãos amados. Ah, como eu amo esses versículos! Ouça, mais uma vez, povo de Deus, ouça: (vs. 20 a 22 “Sim, irmão, eu gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor. Reanime o meu coração em Cristo! Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do lhe que peço. Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês”).

A intervenção do amor

O nosso texto nos mostrou que Paulo interviu com amor na vida de Filemom. O apóstolo agiu como pacificador. Essa intervenção amorosa nos ensina como nós devemos intervir em amor para ajudar uns aos outros no contexto da igreja local, ou seja, como nós podemos agir enquanto pacificadores.

Quais são os apelos feitos pela intervenção do amor?

Como vimos, Paulo apelou a Filemom com base:

1 - No amor, não na força da autoridade (vs. 8 e 9);

2 - Na empatia, não na frieza da distância (v. 10);

3 - No sacrifício, não na imposição da servidão (vs. 11 a 14);

4 - Na transformação do coração, não na mudança do comportamento (vs. 11, 15 e 16);

5 - Na lógica do evangelho, não na ideia do aqui se faz, aqui se paga (vs. 17 a 22).

Permita-me duas perguntas para algumas aplicações finais: O que se pode aprender para a nossa prática de fazer discípulos e aconselhar uns aos outros? O que se pode aprender para a busca e a manutenção da justiça social?

Para se fazer discípulos ou aconselhar o irmão, precisaremos:

Agir com base no amor, não na autoridade;

Ser empáticos, não distantes;

Praticar sacrifícios de amor, não impor servidão ou vontade própria;

Mirar no coração, não no comportamento;

Viver e ensinar a lógica do evangelho, não a ideia de que aqui se faz, aqui se paga.

Para se buscar e manter a justiça social, precisaremos:

Viver de forma a demonstrar que nosso chamado é para amar (mesmo que no exercício da autoridade), e não impor uma vontade;

Viver de forma empática, simpática, e não como crentes frios, distante e rabugentos;

Demonstrar que existimos para servir, não para ser servidos; atitude que inclui a todos, tanto o opressor como o oprimido, tanto a vítima como o réu;

Buscar a transformação do coração das pessoas pelo evangelho, não a imposição goela abaixo dos valores cristãos evangélicos;

Viver e espalhar a lógica do evangelho, não a ideia de que aqui se faz, aqui se paga.

A intervenção do amor pautado pelo evangelho de Cristo é a única esperança para a sua vida, a família e a nossa sociedade. Abra seu coração para o amor de Jesus. Faça as pazes com Deus por meio de Jesus Cristo. Seja um pacificador em nome de Jesus Cristo.

Quatro dicas de como intervir com amor

Permita-me encerrar apresentando quatro dicas práticas de como intervir com amor, especialmente no que diz respeito a resolver conflitos e curar relacionamentos, nossos e dos outros. Baseamo-nos, a seguir, na introdução de Ken Sande em seu livro O Pacificador (Sande, p. 12 e 13).

1 - Glorifique a Deus (1 Coríntios 10.31 “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus”).

A intervenção do amor é motivada e guiada por um profundo desejo de promover honra e levar glória a Deus, revelando o amor e o poder reconciliadores de Jesus Cristo. À medida que recorremos à sua graça, seguimos seu exemplo e colocamos em prática seus ensinamentos, encontraremos liberdade das decisões impulsivas e egocêntricas que contaminam nossas atitudes e elevaremos louvor a Deus, demonstrando o poder do evangelho em nosso viver.

2 - Tire o tronco do seu olho (Mateus 7.5 “Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão”).

Atacar os outros apenas estimula contra-ataques. É por isso que Jesus nos ensina a encarar nossas próprias faltas em um conflito antes de nos concentrarmos no que os outros fizeram. Quando negligenciamos as ofensas menores de outras pessoas e admitimos honestamente nossos próprios defeitos, nossos oponentes geralmente respondem da mesma maneira. À medida que as tensões diminuem, pode-se abrir caminho para uma discussão, negociação e reconciliação sinceras.

3 - Restaure delicadamente (Gálatas 6.1 “Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado”).

Quando outras pessoas não conseguem ver suas próprias faltas em um conflito, às vezes precisaremos agir para lhes mostrar graciosamente a culpa delas mesmas. Se essas pessoas se recusarem a responder adequadamente, Jesus nos chama a envolver amigos respeitados, líderes da igreja ou outras pessoas pontuais que poderão nos ajudar a incentivar o arrependimento e restaurar a paz.

4 - Vá e se reconcilie (Mateus 5.23 e 24 “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta”).

Finalmente, a manutenção da paz ou a intervenção do amor envolve um compromisso de restaurar relacionamentos prejudicados e negociar acordos justos. Quando perdoamos os outros como Jesus nos perdoou e buscamos soluções que satisfaçam os interesses dos outros e os nossos, os detritos do conflito são eliminados e a porta é aberta para uma paz genuína.

Que Deus nos abençoe com graça, misericórdia e paz na importante tarefa de sermos pacificadores neste mundo em erupção de ira, expelindo lavas de ódio em todos os lugares.

Somos chamados à paz.

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