16/05/2021

10 - A prática do amor - Parte 3

 


 

Filemom 1.8 a 16 “Por isso, mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio coração. Gostaria de mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por causa do evangelho. Mas não quis fazer nada sem a sua permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não forçado. Talvez ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão”.

A transformação que nos liberta para amar

Para conseguirmos praticar a fé e as boas obras, para sermos capazes de amar segundo o evangelho de Cristo, a primeira coisa que nós precisamos é ser constrangidos pelo amor a praticar o amor e amar. Mas tem algo mais: esse amor que nos constrange a amar é fruto da transformação pela qual nós passamos em Cristo, constrangendo-nos e nos libertando para amar. Ouça como Paulo colocou isto para Filemom: (vs. 10 a 12 “apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio coração”).

Paulo adotou Onésimo como filho na fé, quando este se converteu sob a influência do apóstolo na prisão (v. 10). Essa linguagem é comum nos escritos de Paulo. Ele a usa repetidamente para expressar seu relacionamento com indivíduos e igrejas aos quais ele foi fundamental para levá-los à salvação em Cristo. Ele se considerava pai espiritual, por exemplo, dos coríntios (1 Coríntios 4.15), de Timóteo (1 Timóteo 1.2), de Tito (Tito 1.4) e de Onésimo (Filemom 1.10). Todas essas pessoas tinham a mesma coisa em comum: elas se tornaram cristãs sob a influência de Paulo, tornaram-se filhos na fé do apóstolo.

Com efeito, Onésimo se arrependeu dos pecados e creu em Cristo através do evangelho que Paulo mesmo pregou a ele na prisão. Ele foi convertido pelo evangelho de Paulo “Cristo morreu por nossos pecados, como dizem as Escrituras. Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como dizem as Escrituras”. (1 Coríntios 15.1 a 4). Onésimo se tornara uma nova criatura ao se arrepender do pecado e crer nessas verdades. O velho homem se foi e ele se vestiu do novo homem (Efésios 4.20 a 24). Tornou-se um filho nascido de Deus, não do sangue, nem da vontade do homem, nem da vontade da carne, mas nascido de Deus pelo Espírito (João 1.13). E foi Paulo quem o levou ao Senhor. O apóstolo se tornou pai de Onésimo (e dos coríntios, e de Timóteo e de Tito) através do evangelho.

Onésimo, lembre-se, era um fugitivo, um ladrão fugitivo, um fora da lei, como um imigrante ilegal sem documentos, sob o radar da imigração, tentando recomeçar, escondendo-se em Roma. Na soberana e graciosa providência de Deus (que é um tema ao qual retornaremos logo adiante), Onésimo foi trazido face a face com Paulo no que certamente deve ter sido o ponto terrivelmente mais baixo de sua vida. Afinal, era escravo, ladrão e fugitivo, sem pátria ou cidadania, vivia em constante perigo, tentando sempre ficar um passo à frente da lei ou da polícia. Talvez ele estivesse planejando continuar fugindo; Roma teria sido apenas uma parada no caminho. Não sabemos. Mas Paulo sabia que Onésimo, fugitivo, não poderia fugir dos cães rastreadores da graça celestial (para usarmos a linguagem do poema de 182 linhas escrito pelo poeta inglês Francis Thompson – “The Hound of Heaven”).

Não tinha como fugir e se esconder de Deus. Não importava aonde Onésimo fosse, sua consciência, seu pecado, suas culpas continuariam latentes em sua alma e seu estado de perdição eterna seguiria com ele inalterado. Ah! Quanta gente vivendo assim: fugindo de Deus, correndo e correndo da confrontação graciosa de Deus, igualzinho Onésimo! Quanta gente precisando se encontrar com um Paulo! É este o seu caso?

Paulo, ao entrar em contato com o fugitivo Onésimo, o fez enxergar que não importava para quão longe de Filemom ele fugisse, Onésimo nunca poderia ser livre daquela maneira, vivendo naquele estado. Ele sempre levaria com ele o peso da escravidão sobre seus ombros, aonde quer que ele fosse. Além de escravo fugitivo de Filemom, Onésimo era, por natureza, um escravo do mundo, da inclinação do pecado, do diabo e da morte.

Imagine a cena: Lá está Paulo, acorrentado e encarcerado, mas verdadeiramente livre, conversando com Onésimo, que tentava de tudo para se libertar, mesmo sabendo que nunca conseguiria deixar de ser escravo por seus próprios esforços. Esse escravo fugitivo se depara com Paulo e o ouve dizer: “Deixe-me contar sobre alguém que foi amarrado, espancado, torturado e crucificado, Onésimo. Lembre-se: a crucificação era uma pena imposta pelos romanos aos escravos, ladrões e traidores. Alguém padeceu sob a sina de um escravo traidor e fugitivo para que você pudesse realmente ser liberto, Onésimo. Deixe-me falar para você sobre Jesus Cristo”. E lá naquela cela, acorrentado e sob a vigilância da guarda romana, Paulo apresentou e explicou a Onésimo as boas-novas do evangelho de Cristo. Explicou-lhe que Jesus é Deus que se fez carne, viveu sem pecado, tomou sobre si mesmo na cruz a penalidade do nosso pecado, comprou nosso perdão, pagou o preço de nossa alforria, conquistou nossa redenção, pagou integralmente a nossa dívida ao custo da própria vida, pois morreu e foi sepultado, mas depois, ao terceiro dia, ressuscitou vitorioso sobre o pecado e sobre a morte. E ali ao som dos grilhões do apóstolo como acompanhamento musical, Onésimo podia finalmente entoar, como o fez cristão (em O Peregrino de John Bunyan) ao chegar à cruz e se livrar de seu fardo pesado da lei do pecado:

“Sobrecarregado de pecados até aqui vim. Nem pude aliviar o pesar, pesar sem fim; que até aqui trazia. Ah, lugar ditoso! Início será de viver venturoso? Será que aqui o fardo das costas me cairá? Aqui a amarra que a mim o prende romperá? Bendita cruz! Bendito sepulcro! Seja exaltado O Homem que por mim foi humilhado”.

(Fonte: Bunyan, John. O peregrino (Clássicos MC). Editora Mundo Cristão. Edição do Kindle. Posição 836-846).

Existe liberdade para você em Jesus. Quaisquer que sejam suas circunstâncias externas, você deve saber que seu coração está, por natureza, escravizado ao pecado e à morte, e, por mais que tente, por mais que corra ou fuja, nunca poderá ser livre, a menos que Jesus o liberte. Você está acorrentado se não estiver em Cristo. Mas se o Espírito de Deus te libertar, você então será verdadeiramente livre. Isaías profetizou a respeito do ministério de Jesus Cristo, nosso libertador, nos seguintes termos:

Isaias 61.1 a 3 “O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória”.

Essa era a mensagem que Onésimo não sabia que precisava ouvir, e quando a ouviu tudo mudou em sua vida. E pode ser a mensagem que você precise ouvir agora. O que você mais precisa na vida é de Jesus Cristo, não é do amor de um homem ou de uma mulher, mas do amor de Deus para te salvar; não é de justiça social, mas da justiça de Cristo para te justificar; não é de empoderamento cultural, mas do poder do Espírito para te santificar e verdadeiramente libertar. E ele, Cristo, pode trazer libertação para sua alma aqui e agora, basta você se arrepender e crer, basta você clamar por perdão e salvação.

Algumas evidencias do novo nascimento

Observe as duas evidências para as quais Paulo direciona a atenção de Filemom para comprovar que de fato tinha ocorrido o novo nascimento (uma transformação miraculosa) na vida de Onésimo. Primeiro, ele diz que havia um novo comportamento e, depois, que havia novos relacionamentos na vida do ex-escravo.

A evidência do novo nascimento pelo novo comportamento de Onésimo está no versículo 11, que diz: “Onésimo não lhe foi de muita utilidade no passado, mas agora é muito útil para nós dois”. Onésimo tinha um nome especialmente irônico. Sem dúvida, ele havia sido uma frustração constante na casa de Filemom e uma piada na comunidade ao redor. O nome Onésimo significa “útil”. Mas, de acordo com Paulo, ele não fora nada “útil”; ou seja, Onésimo nunca foi Onésimo. Com efeito, durante todo o tempo em que morou com Filemom e Áfia, Onésimo foi inútil, Onésimo não foi Onésimo. Talvez ele fosse preguiçoso, esquecido, irresponsável, não confiável… Onésimo sempre foi um problema. Então, para fechar tudo com chave de ouro, ele roubou de seu mestre e fugiu. Que piada o nome de Onésimo realmente era! Sr. Útil, quando realmente era Inútil.

Mas em Cristo tudo mudara. Versículo 11: “Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim”. Tão útil, de fato, que Paulo desejava poder manter Onésimo com ele, versículo 13: “Gostaria de mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por causa do evangelho”.

Nós realmente precisamos insistir neste tópico, nestes dias tão carentes de caráter em que vivemos: uma das marcas do novo nascimento, da autêntica conversão e vida espiritual é a transformação profunda e palpável. Onésimo, que um dia corria de serviço, agora se deleitava em servir. Ele não pensava mais apenas nele mesmo. O orgulho, ao que parece, não dominava mais seu coração. O interesse próprio não era mais sua paixão dominante. Ele estava preparado para voltar para Filemom e enfrentar o que fosse que o estivesse esperando. Agora ele desejava fazer a diferença, não de uma maneira grandiosa e ostensiva, mas em um serviço silencioso, servindo às necessidades de Paulo no cárcere da prisão em Roma. Que transformação Onésimo havia sofrido! Ele tinha um novo comportamento. Onésimo agora era Onésimo: Útil!

Também havia novos relacionamentos na vida de Onésimo. Já vimos isso, não é verdade? Onésimo amava Paulo; Paulo amava Onésimo. Ele era seu filho, seu próprio coração, um irmão amado. Meu povo, quando uma pessoa é convertida e confia em Cristo para a salvação, ela não permanece a mesma. A escravidão e o domínio do pecado em seu coração são quebrados e ela começa a servir, a amar e a se importar de uma maneira que antes não fazia. O sujeito se relaciona com os outros, especialmente com os outros cristãos, e o faz com nova afeição (amor), nova intenção (servir), nova humildade e respeito. Novos vínculos são criados na vida dele, inclusive com pessoas que não têm seus mesmos interesses e que, de outra forma, sem Cristo, seria completamente impensável, até impossível de se construir algum relacionamento. Pessoas de diferentes origens e posição social, diferentes níveis culturais, etnias e gostos pessoais… todas juntas formando um só corpo, uma só fé, uma só esperança em Cristo, unidas pelo amor do evangelho.

O novo nascimento, a conversão a Cristo, dentre tantos, cria novo comportamento e novos relacionamentos. Pergunto-lhe: ao examinar seu próprio coração sob o microscópio da Bíblia Sagrada, você consegue enxergar essas realidades lá dentro? Que evidência há do novo nascimento em sua vida? Você realmente nasceu de novo? O que te faz pensar que sim? Uma decisão tomada lá atrás? Um batismo? Um envolvimento que você um dia teve com a igreja? Mas como está sua vida hoje? Quais marcas você apresenta de seu novo nascimento aqui e agora? Como você se comporta? Quais são seus relacionamentos?

Olhe para Onésimo. Tudo brilhava em Onésimo. Existe alguma centelha disso em você? Paulo escreveu: “Receba Onésimo de volta, Filemom, porque ele se tornou seu irmão em Cristo. Perdoe-o porque ele nasceu de novo e já está perdoado no tribunal de Deus. Ele é uma nova criatura. Onésimo tornou-se Onésimo de verdade. Ele agora é Útil. Ele e eu temos um só coração pulsando por Jesus. Igualzinho ao seu coração também, Filemom”.

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