Filemom 1.8 a 16 “Por isso, mesmo tendo em Cristo plena
liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com
base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também prisioneiro de Cristo Jesus,
apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso. Ele antes
lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim. Mando-o de
volta a você, como se fosse o meu próprio coração. Gostaria de mantê-lo comigo
para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por causa do evangelho.
Mas não quis fazer nada sem a sua permissão, para que qualquer favor que você
fizer seja espontâneo, e não forçado. Talvez ele tenha sido separado de você
por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como
escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito
amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão”.
A transformação que nos liberta para amar
Para conseguirmos praticar a fé e as boas obras, para sermos
capazes de amar segundo o evangelho de Cristo, a primeira coisa que nós
precisamos é ser constrangidos pelo amor a praticar o amor e amar. Mas tem algo
mais: esse amor que nos constrange a amar é fruto da transformação pela qual nós
passamos em Cristo, constrangendo-nos e nos libertando para amar. Ouça como
Paulo colocou isto para Filemom: (vs. 10 a 12 “apelo em favor de meu filho
Onésimo, que gerei enquanto estava preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é
útil, tanto para você quanto para mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o
meu próprio coração”).
Paulo adotou Onésimo como filho na fé, quando este se
converteu sob a influência do apóstolo na prisão (v. 10). Essa linguagem é
comum nos escritos de Paulo. Ele a usa repetidamente para expressar seu
relacionamento com indivíduos e igrejas aos quais ele foi fundamental para
levá-los à salvação em Cristo. Ele se considerava pai espiritual, por exemplo,
dos coríntios (1 Coríntios 4.15), de Timóteo (1 Timóteo 1.2), de Tito (Tito 1.4)
e de Onésimo (Filemom 1.10). Todas essas pessoas tinham a mesma coisa em comum:
elas se tornaram cristãs sob a influência de Paulo, tornaram-se filhos na fé do
apóstolo.
Com efeito, Onésimo se arrependeu dos pecados e creu em
Cristo através do evangelho que Paulo mesmo pregou a ele na prisão. Ele foi
convertido pelo evangelho de Paulo “Cristo morreu por nossos pecados, como
dizem as Escrituras. Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como
dizem as Escrituras”. (1 Coríntios 15.1 a 4). Onésimo se tornara uma nova
criatura ao se arrepender do pecado e crer nessas verdades. O velho homem se
foi e ele se vestiu do novo homem (Efésios 4.20 a 24). Tornou-se um filho
nascido de Deus, não do sangue, nem da vontade do homem, nem da vontade da
carne, mas nascido de Deus pelo Espírito (João 1.13). E foi Paulo quem o levou
ao Senhor. O apóstolo se tornou pai de Onésimo (e dos coríntios, e de Timóteo e
de Tito) através do evangelho.
Onésimo, lembre-se, era um fugitivo, um ladrão fugitivo, um
fora da lei, como um imigrante ilegal sem documentos, sob o radar da imigração,
tentando recomeçar, escondendo-se em Roma. Na soberana e graciosa providência
de Deus (que é um tema ao qual retornaremos logo adiante), Onésimo foi trazido
face a face com Paulo no que certamente deve ter sido o ponto terrivelmente
mais baixo de sua vida. Afinal, era escravo, ladrão e fugitivo, sem pátria ou
cidadania, vivia em constante perigo, tentando sempre ficar um passo à frente
da lei ou da polícia. Talvez ele estivesse planejando continuar fugindo; Roma
teria sido apenas uma parada no caminho. Não sabemos. Mas Paulo sabia que
Onésimo, fugitivo, não poderia fugir dos cães rastreadores da graça celestial
(para usarmos a linguagem do poema de 182 linhas escrito pelo poeta inglês
Francis Thompson – “The Hound of Heaven”).
Não tinha como fugir e se esconder de Deus. Não importava
aonde Onésimo fosse, sua consciência, seu pecado, suas culpas continuariam
latentes em sua alma e seu estado de perdição eterna seguiria com ele
inalterado. Ah! Quanta gente vivendo assim: fugindo de Deus, correndo e
correndo da confrontação graciosa de Deus, igualzinho Onésimo! Quanta gente
precisando se encontrar com um Paulo! É este o seu caso?
Paulo, ao entrar em contato com o fugitivo Onésimo, o fez
enxergar que não importava para quão longe de Filemom ele fugisse, Onésimo
nunca poderia ser livre daquela maneira, vivendo naquele estado. Ele sempre
levaria com ele o peso da escravidão sobre seus ombros, aonde quer que ele
fosse. Além de escravo fugitivo de Filemom, Onésimo era, por natureza, um
escravo do mundo, da inclinação do pecado, do diabo e da morte.
Imagine a cena: Lá está Paulo, acorrentado e encarcerado,
mas verdadeiramente livre, conversando com Onésimo, que tentava de tudo para se
libertar, mesmo sabendo que nunca conseguiria deixar de ser escravo por seus
próprios esforços. Esse escravo fugitivo se depara com Paulo e o ouve dizer:
“Deixe-me contar sobre alguém que foi amarrado, espancado, torturado e
crucificado, Onésimo. Lembre-se: a crucificação era uma pena imposta pelos
romanos aos escravos, ladrões e traidores. Alguém padeceu sob a sina de um
escravo traidor e fugitivo para que você pudesse realmente ser liberto,
Onésimo. Deixe-me falar para você sobre Jesus Cristo”. E lá naquela cela,
acorrentado e sob a vigilância da guarda romana, Paulo apresentou e explicou a
Onésimo as boas-novas do evangelho de Cristo. Explicou-lhe que Jesus é Deus que
se fez carne, viveu sem pecado, tomou sobre si mesmo na cruz a penalidade do
nosso pecado, comprou nosso perdão, pagou o preço de nossa alforria, conquistou
nossa redenção, pagou integralmente a nossa dívida ao custo da própria vida,
pois morreu e foi sepultado, mas depois, ao terceiro dia, ressuscitou vitorioso
sobre o pecado e sobre a morte. E ali ao som dos grilhões do apóstolo como
acompanhamento musical, Onésimo podia finalmente entoar, como o fez cristão (em
O Peregrino de John Bunyan) ao chegar à cruz e se livrar de seu fardo pesado da
lei do pecado:
“Sobrecarregado de pecados até aqui vim. Nem pude aliviar o pesar,
pesar sem fim; que até aqui trazia. Ah, lugar ditoso! Início será de viver
venturoso? Será que aqui o fardo das costas me cairá? Aqui a amarra que a mim o
prende romperá? Bendita cruz! Bendito sepulcro! Seja exaltado O Homem que por
mim foi humilhado”.
(Fonte: Bunyan, John. O peregrino (Clássicos MC). Editora
Mundo Cristão. Edição do Kindle. Posição 836-846).
Existe liberdade para você em Jesus. Quaisquer que sejam
suas circunstâncias externas, você deve saber que seu coração está, por
natureza, escravizado ao pecado e à morte, e, por mais que tente, por mais que
corra ou fuja, nunca poderá ser livre, a menos que Jesus o liberte. Você está
acorrentado se não estiver em Cristo. Mas se o Espírito de Deus te libertar,
você então será verdadeiramente livre. Isaías profetizou a respeito do
ministério de Jesus Cristo, nosso libertador, nos seguintes termos:
Isaias 61.1 a 3 “O Espírito do Soberano Senhor está sobre
mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me
para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos
cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da
bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que
andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de
cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de
espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do
Senhor, para manifestação da sua glória”.
Essa era a mensagem que Onésimo não sabia que precisava
ouvir, e quando a ouviu tudo mudou em sua vida. E pode ser a mensagem que você
precise ouvir agora. O que você mais precisa na vida é de Jesus Cristo, não é
do amor de um homem ou de uma mulher, mas do amor de Deus para te salvar; não é
de justiça social, mas da justiça de Cristo para te justificar; não é de
empoderamento cultural, mas do poder do Espírito para te santificar e
verdadeiramente libertar. E ele, Cristo, pode trazer libertação para sua alma
aqui e agora, basta você se arrepender e crer, basta você clamar por perdão e
salvação.
Algumas evidencias do novo nascimento
Observe as duas evidências para as quais Paulo direciona a
atenção de Filemom para comprovar que de fato tinha ocorrido o novo nascimento
(uma transformação miraculosa) na vida de Onésimo. Primeiro, ele diz que havia
um novo comportamento e, depois, que havia novos relacionamentos na vida do
ex-escravo.
A evidência do novo nascimento pelo novo comportamento de
Onésimo está no versículo 11, que diz: “Onésimo não lhe foi de muita utilidade
no passado, mas agora é muito útil para nós dois”. Onésimo tinha um nome
especialmente irônico. Sem dúvida, ele havia sido uma frustração constante na
casa de Filemom e uma piada na comunidade ao redor. O nome Onésimo significa “útil”.
Mas, de acordo com Paulo, ele não fora nada “útil”; ou seja, Onésimo nunca foi
Onésimo. Com efeito, durante todo o tempo em que morou com Filemom e Áfia,
Onésimo foi inútil, Onésimo não foi Onésimo. Talvez ele fosse preguiçoso,
esquecido, irresponsável, não confiável… Onésimo sempre foi um problema. Então,
para fechar tudo com chave de ouro, ele roubou de seu mestre e fugiu. Que piada
o nome de Onésimo realmente era! Sr. Útil, quando realmente era Inútil.
Mas em Cristo tudo mudara. Versículo 11: “Ele antes lhe era
inútil, mas agora é útil, tanto para você quanto para mim”. Tão útil, de fato,
que Paulo desejava poder manter Onésimo com ele, versículo 13: “Gostaria de
mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por
causa do evangelho”.
Nós realmente precisamos insistir neste tópico, nestes dias
tão carentes de caráter em que vivemos: uma das marcas do novo nascimento, da
autêntica conversão e vida espiritual é a transformação profunda e palpável.
Onésimo, que um dia corria de serviço, agora se deleitava em servir. Ele não
pensava mais apenas nele mesmo. O orgulho, ao que parece, não dominava mais seu
coração. O interesse próprio não era mais sua paixão dominante. Ele estava
preparado para voltar para Filemom e enfrentar o que fosse que o estivesse
esperando. Agora ele desejava fazer a diferença, não de uma maneira grandiosa e
ostensiva, mas em um serviço silencioso, servindo às necessidades de Paulo no
cárcere da prisão em Roma. Que transformação Onésimo havia sofrido! Ele tinha um
novo comportamento. Onésimo agora era Onésimo: Útil!
Também havia novos relacionamentos na vida de Onésimo. Já
vimos isso, não é verdade? Onésimo amava Paulo; Paulo amava Onésimo. Ele era
seu filho, seu próprio coração, um irmão amado. Meu povo, quando uma pessoa é
convertida e confia em Cristo para a salvação, ela não permanece a mesma. A
escravidão e o domínio do pecado em seu coração são quebrados e ela começa a
servir, a amar e a se importar de uma maneira que antes não fazia. O sujeito se
relaciona com os outros, especialmente com os outros cristãos, e o faz com nova
afeição (amor), nova intenção (servir), nova humildade e respeito. Novos
vínculos são criados na vida dele, inclusive com pessoas que não têm seus
mesmos interesses e que, de outra forma, sem Cristo, seria completamente
impensável, até impossível de se construir algum relacionamento. Pessoas de
diferentes origens e posição social, diferentes níveis culturais, etnias e
gostos pessoais… todas juntas formando um só corpo, uma só fé, uma só esperança
em Cristo, unidas pelo amor do evangelho.
O novo nascimento, a conversão a Cristo, dentre tantos, cria
novo comportamento e novos relacionamentos. Pergunto-lhe: ao examinar seu
próprio coração sob o microscópio da Bíblia Sagrada, você consegue enxergar
essas realidades lá dentro? Que evidência há do novo nascimento em sua vida?
Você realmente nasceu de novo? O que te faz pensar que sim? Uma decisão tomada
lá atrás? Um batismo? Um envolvimento que você um dia teve com a igreja? Mas
como está sua vida hoje? Quais marcas você apresenta de seu novo nascimento
aqui e agora? Como você se comporta? Quais são seus relacionamentos?
Olhe para Onésimo. Tudo brilhava em Onésimo. Existe alguma
centelha disso em você? Paulo escreveu: “Receba Onésimo de volta, Filemom,
porque ele se tornou seu irmão em Cristo. Perdoe-o porque ele nasceu de novo e
já está perdoado no tribunal de Deus. Ele é uma nova criatura. Onésimo
tornou-se Onésimo de verdade. Ele agora é Útil. Ele e eu temos um só coração
pulsando por Jesus. Igualzinho ao seu coração também, Filemom”.
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