15/11/2017

Financiando missões


Inglaterra, século XVIII. Um sapateiro e pregador leigo chamado William Carey sente-se chamado para o trabalho transcultural na Índia. Após muito trabalhar, Carey conseguiu comprar as passagens e embarcar para o sul da Índia numa viagem de 5 meses de navio, juntamente com sua esposa Doroty e cinco filhos, o menor com apenas 3 meses de vida. Permaneceu trabalhando naquele país durante 41 anos, traduziu a Bíblia inteira para o bengalês, sânscrito e marathi e o Novo Testamento para várias outras línguas; fundou escolas cristãs, foi usado na conversão de grande número de hindus e na formação de várias Igrejas, além de discipular muitos pregadores nativos.

Sem dúvida ele impactou a Índia com a mensagem do evangelho. Porém, nestes 41 anos de trabalho o que poucos sabem é que ele e sua família tiveram tempos críticos: doenças, mortes, fome e falta de um teto onde dormir; e isto pela falta de sustento financeiro por parte das inúmeras Igrejas inglesas. Entretanto foram as ofertas de duas idosas viúvas e sua capacidade de “fazer tendas” por onde passava que garantiu sua sobrevivência e ministério.

Hoje ele é chamado de “o pai das Missões modernas”, porém durante a sua vida, foram apenas poucas pessoas que reconheceram em seu entusiasmo a vontade de Deus em alcançar aquele país.

1 - Princípios bíblicos

Certa vez, durante uma palestra sobre Missões numa pequena Igreja um presbítero se levantou com bastante sinceridade e disse:
“Isto tudo é impressionante, porém nossa Igreja é pequena demais para participar. Nós não temos muito dinheiro”.

1.1 - A questão central não é quanto se tem para dar (se somos ricos ou pobres), mas a disposição de dar. No Antigo Testamento o dízimo estava em evidência e não creio que 10% do muito eram diferentes de 10% do pouco para Deus. O próprio Jesus olhando para a oferta da viúva pobre ressaltou esta diferença (Marcos 12.41 a 44).
A Obra missionária não está baseada na abundância mas na disposição de darmos mediante o que temos.

1.2 - O pré-requisito para um envolvimento financeiro é um envolvimento pessoal com a obra financiada. Falando dos crentes da Macedônia, Paulo registra:
“Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários... E não somente fizeram como nós esperávamos, mas deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor...” (2 Coríntios 8.3 e 5).
O compromisso com o Senhor e a visão da obra a ser realizada deve dar-se antes de qualquer envolvimento financeiro. Enviarmos dinheiro para Missões sem estarmos envolvidos com tal obra não é o ideal de Deus.

1.3 - Quanto se deve dar talvez esteja elucidado em dois textos:
Em Atos 11.29 a Igreja de Antioquia deu “conforme o que possuíam” (ou “conforme as suas posses”) ou seja: de acordo com o que tinham eles ofertavam. Sem dúvida este princípio deve nortear também nossas contribuições.

Em 2 Coríntios 8.3 Paulo registra que os crentes macedônios deram “na medida de suas posses e mesmo acima delas” (ou “mais além das suas forças”, tradução livre). Isto indica que, pela intensa necessidade da situação eles se dispuseram a dar até mais do que suas posses possibilitariam. Um passo de fé.

1.4 - Padrões gerais de sustento no Novo Testamento.
É necessário entendermos também que missionários de tempo integral necessitam de sustento. Sem dúvida os missionários informais que fundaram a Igreja em Antioquia possuíam sustento próprio; porém tomaremos o molde de Paulo.

Ele e Barnabé foram enviados pela Igreja de Antioquia (Atos 13.1 a 4) e esta deve te-los sustentado.
Paulo narra que recebeu também ajuda da Igreja de Filipos (Filipenses 1.5; 4.15 a 18) e também de outras Igrejas na Macedônia (2 Coríntios 8.1 a 3).
Ele incentivou a Igreja de Corinto a fazer o mesmo (2 Coríntios 8.6) e também pensava que a Igreja de Roma pudesse ajuda-lo em seu trabalho na Espanha (Romanos 15.22 a 24).

1.5 - A quem sustentar
Creio que as Igrejas locais devem sustentar obreiros que tenham primeiramente “ministrados” à Igreja, ou seja, compartilhado com a Igreja sobre suas convicções ministeriais, sua vocação e chamado como também de suas expectativas do campo. Vemos evidência disto na vida do apóstolo, pois ao retornar de sua primeira e segunda viagem missionária ele passou algum tempo com a Igreja que o enviara, narrando o que Deus estava fazendo através dele (Atos 14.27 e 28, e 18.22 e 23).
Vemos também em Atos 13: 1 a 3 que Paulo l”ministrava” à Igreja antes de ser enviado pela mesma ao campo gentílico. Também quando pensou em ser ajudado pela Igreja romana em seu ministério na Espanha escreveu expressando que tencionava antes ministrar à Igreja (Romanos 1.11, 1.6 e 7). 

Vocação acima do sustento.

Devemos porém ter em mente que aqueles que são realmente vocacionado para a obra do Senhor se envolverão com tal obra sendo sustentados pelos irmãos ou tecendo seu próprio sustento quando este faltar. Paulo ganhou seu sustento também fazendo tendas (Atos 18.2 a 4; 2 Tessalonicenses 3.7 e 8) o que também leva-nos a crer na importância do missionário ter algum preparo em cursos técnicos ou universitários.

2 - Padrões gerais de sustento missionário em outros países

Há alguns exemplos contemporâneos que gostaria de narrar afim de que víssemos o que tem sido feito em nossos dias para propiciar o sustento missionário.

2.1 - No noroeste africano as pequenas Igrejas tribais plantam campos de arroz coletivamente. Quando 5 ou 6 campos são plantados eles separam o melhor deles para “Missões”. O arroz produzido aquele campo é vendido e enviado a crentes que habitam em outras tribos com o intuito de levar até ali o evangelho.

2.2 - No sul da Índia há o costume de famílias de missionários serem “adotadas” por um grupo de famílias de uma determinada região que os sustentam de acordo com o seu padrão médio de vida.

2.3 - Na China vários crentes separam uma árvore em seu pomar, um dia de trabalho por semana ou uma galinha em seu galinheiro onde o lucro é destinado ao trabalho missionário.

2.4 - Na Indonésia algumas aldeias criaram o “dia da oferta” e todos naquele dia trazem parte da colheita afim de enviarem e sustentarem seus missionários.

2.5 - Em Portugal uma pequena Igreja no Porto desenvolve um projeto escolar no templo ajudando a comunidade local e destinando o lucro para o sustento de projetos missionários nacionais e transculturais.

2.6 - Algumas Igrejas coreanas defendem que, havendo fidelidade nos dízimos, a Igreja local ver-se-á sempre em condições de sustentar condignamente a obra missionária proposta.

3 - Sugestões práticas às igrejas envolvidas com o sustento missionário

3.1 - Reservar espaço no boletim da Igreja para a cotação do dólar ou da moeda na qual é feita remessa do sustento missionário a fim de conscientizar a comunidade sobre o montante a ser enviado;

3.2 - Conscientizar a Igreja que a contribuição financeira é parte do seu envolvimento com a obra transcultural; a intercessão, correspondência, interesse e apoio também fazem parte deste envolvimento.

3.3 - Separar alguns minutos nos cultos para o “espaço missionário” onde serão lidas cartas e relatórios dos missionários com os quais a Igreja se envolve e também manter a Igreja informada sobre estes e outros campos:
Localização e população; Grupos étnicos e línguas; Religião e numero de cristãos; Barreiras para o evangelismo e meios de alcançá-los; Presença de missionários ou agências missionárias;

3.4 - Fazer um Mural para “Missões Transculturais” e além de cartas e circulares de missionários com os quais a Igreja está envolvida mantenha regularmente ali um resumo informativo sobre campos necessitados e também um resumo das principais notícias internacionais da semana (jornais/telejornais) afim de que a Igreja entenda que modificações políticas, guerras, fomes, secas, aberturas políticas etc., alteram profundamente o trabalho missionário em tais regiões.

3.5 - Lançar desafios específicos à Igreja com respeito ao envolvimento financeiro com tal obra. Lembrar que uma Igreja não precisa necessariamente sustentar sozinha um missionário, mas pode contribuir com parte do seu sustento. É melhor votar algo que possa arcar com fidelidade.

Conclusão

O sustento de missionários não é a única forma de a Igreja envolver-se com missões transculturais. 
Há também outras como:

Envio de Bíblias na língua nativa para povos sem acesso à Palavra;
Envio de revistas e livros evangélicos às Igrejas em países com dificuldades na área de literatura;

Envolvimento com projetos específicos no campo transcultural como construção de seminários, clínicas, escolas etc. Além de sustento de projetos com tempo limitado como projetos de férias e outros.

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