16/11/2017

Enviando testemunhas: Quem, onde e quando


Atos 13.1 a 3 “E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, Cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram”

Introdução

Não é necessário ser um matemático para perceber que há algo errado com os números abaixo:
Campos já alcançados onde há pleno testemunho do evangelho e Igreja autóctones: População: 2.900.000.000 - Força de trabalho: 97% dos obreiros evangélicos mundiais.

Campos não alcançados onde não há qualquer testemunho do evangelho e/ou Igrejas autóctones com for expressão social: População: 2.800.000.000 - Força de trabalho: 3% dos obreiros evangélicos mundiais.

Por que 97% dos obreiros evangélicos mundiais atuam na meta já alcançada do nosso planeta, enquanto apenas 3% atuam na metade não alcançada? Creio que é um problema vocação. Ou cremos que Deus vocacionou 97% para os alcançados somente 3% para os não alcançados ou então cremos que há milhares de vocacionadas trabalhando no lugar errado. Se admitimos esta segunda hipótese concluiremos então que há hoje por todo o Brasil milhares de membros de igrejas, carpinteiros, estudantes, pedreiros, negociantes, gerentes de banco, aposentados, funcionários públicos, presbíteros, diáconos, pastores, profissionais liberais e outros que no coração de Deus foram chamados para a obra do Senhor em campos distantes mas estão tomando navios em direções contrárias a Nínive.

Exposição

1 - Quem são as testemunhas

Todos os salvos em Jesus Cristo são testemunhas do Senhor, chamados a propagar o seu evangelho dentro do contexto do Marcos 16.15. “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
A expressão “Ide” na verdade poderia ser mais literalmente traduzida por “indo”. Isto leva-nos a duas pequenas conclusões: Que o real imperativo (e ênfase) do versículo não é o “ide” mas sim o “pregai”; que o “ide por todo o mundo” não é uma ordem para você sair do Brasil e ir para a China, por exemplo, mas literalmente dá a idéia de “por onde você estiver indo”.

Sem dúvida é uma ordem a todos os salvos para proclamarmos a mensagem do evangelho por onde estivermos indo. Todos somos chamados a isto (1 Pedro 2.9 “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”).

Porém, no Novo Testamento há chamados especiais do Senhor a pessoas específicas para ministérios também específicos. E dentre estes (apóstolos, pastores, profetas, evangelistas, mestres) o Senhor separou alguns para o ministério transcultural como Barnabé e Paulo que depois se intitulou “apóstolo dos gentios”.

Paulo expressou este chamado específico na carta aos Gálatas quando afirmou: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela Sua graça, aprouve revelar seu filho em mim para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença não consultei carne e sangue...” (Gálatas 1.15 e 16 “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, Revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue”).

E falando sobre o caráter do seu ministério escreve: “esforçando-me deste modo por pregar o evangelho não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Romanos 15.20 “E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio”).
Portanto é certo que como o Senhor chama e vocaciona pastores para cuidarem do seu rebanho, também chama e vocaciona evangelistas para plantarem suas Igrejas, seja aqui ou nos confins da terra.

2 - Como serão reconhecidas

Um problema básico (e sério) na Igreja do Senhor é reconhecermos os que realmente estão sendo chamados. Olhemos portanto para uma igreja que há quase 2.000 anos passados possuía centenas de membros e alguns profetas e mestres, Esta igreja ficava na cidade de Antioquia e em Atos 13.1 a 3 temos um relato sobre o discernimento destes irmãos perante os que foram “separados” pelo Espírito Santo para a obra missionária transcultural.
O v.1 fala a respeito de alguns dos principais líderes desta igreja, dentre eles Barnabé e Paulo; e o v.2 se inicia com um verbo que dá toda a força a este pequeno texto: “E servindo eles ao Senhor...”.
O que faziam eles para serem reconhecidos pela Igreja como homens dignos de serem enviados? “Serviam”!

No Novo Testamento há pelo menos 3 formas de se servir:

2.1 - Como “diákonos” (o serviço à comunidade e serviço social);
2.2 - Como “doulos” (o serviço diretamente ao Senhor escravo);
2.3 - Como “Leitourgos” (o serviço litúrgico ligado ao culto, edificação da Igreja ou à vida devocional).

No nosso texto o termo usado no original diz respeito justamente à terceira forma apresentada: eles serviam como “Leitourgos” e isto faziam “ao Senhor”: eles eram santos, o povo notava isto e suas vidas e ministérios. Edificavam o povo. Creio estar aqui a principal característica que servirá para direcionar a Igreja quanto aos que alegam o chamado do Senhor: serem santos, terem vidas aos pés do Senhor, serem “abençoadores”.
No v.2 vemos que não é a Igreja quem chama tais servos, é o Espírito Santo. “...disse o Espírito Santo: separai-¬me agora a Barnabé e a Saulo...” e no v.3 vemos o papel da Igreja, “impondo sobre eles as mãos”, significando o compromisso da Igreja com tais servos; e “os despediram” ou seja, eles foram chamados pelos Senhor, separados pelo Espírito Santo e enviados pela Igreja local; eles, Barnabé e Paulo, o melhor que a Igreja tinha. Isto é Missões.

3 - Para onde serão enviadas

A Igreja Brasileira precisa ter uma visão do mundo pelo simples fato de que esta é a visão de Deus. Comumente nossa visão “acha-se” em torno daquele país ou povo com o qual temos maior afinidade: conhecemos missionários que ali trabalham, sabemos de detalhes sobre a língua, cultura, política etc. Não podemos ter apenas visão de África ou Ásia; é necessário termos visão do mundo! Buscarmos sempre as novas fronteiras, os povos ainda ocultos, os grupos de resistência e os bolsões ainda intocados pelo evangelho; não nos conformarmos com o envolvimento atual e restrito da Igreja: precisamos de mais, sempre mais, até o último povo.

Gostaria de enfatizar, porém, que é necessário olharmos de forma especial para os 8.000 PNAs (Povos não Alcançados) espalhados pelo mundo. Creio que a síntese de Paulo a este respeito em Romanos. 10 expõe a crise de tais povos: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: quão formosos são os pés dos que anunciam cousas boas” (Romanos 10.13 a 15 “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas”).

3.1 - Ele fala da salvação para todo que invocar o Senhor;
3.2 - Não se pode invocar sem crer;
3.3 - Não se pode crer sem ouvir;
3.4 - Não se pode ouvir se não há quem pregue;
3.5 - Não se pode pregar se não há quem envie.

A imagem na mente do apóstolo, sem dúvida, é daqueles que ainda não ouviram: os povos não alcançados; e creio ser explícito na teologia Paulina a prioridade de tais povos no ministério da Igreja.

Conclusão

Passos para o envio de missionário (Algumas sugestões):

1 - Formação de obreiros de acordo com a realidade do campo a ser atingido;

2 - Despertamento e conscientização da igreja para um envolvimento integral, pessoal, financeiro e espiritual, com o obreiro ou projeto missionário.

3 - Contato com prováveis agências missionárias no campo em questão para traçar um perfil do “modo de vida” dos obreiros a ser enviados;

4 - Providenciar documentos: passaportes, vistos, vacinações, permissões especiais etc.;

5 - Analisar a melhor forma de recolher e enviar o sustento financeiro;

6 - Votar um sustento realista. Lembrar-se de despesas adicionais como “imposto a estrangeiros”, passagens, vistos, taxas para permissões especiais de residência, circunstâncias especiais para educação dos filhos etc.;

7 - Providenciar o material básico a ser levado pelo obreiro ao campo em questão. Um “enxoval missionário” para regiões de difícil acesso deve conter itens tais como barraca, coletes salva¬ vidas, sacos de dormir, bússola, ferramentas, remédios e material de primeiros socorros etc. Em geral todo missionário, urbano, rural ou tribal necessitará de apoio quanto à formação de uma boa biblioteca pessoal.

8 - Estabelecer o modo mais fácil de contato entre Igreja local e o obreiro questão. Solicitar informações mensais ou relatórios periódicos.

9 - Definir a sistematização do envio deste(s) missionário(s), através da Junta de Missões de sua denominação, em convênio com uma Agência Missionária como integrante de um projeto missionário já estabelecido naquela região, como profissional liberal com contrato com alguma instituição governamental ou particular no país em questão etc.


10 - Estabelecer critérios de assistência pastoral quanto aos missionários e suas famílias, por parte da Igreja. Lembrar-se de que grande parte dos missionários é de mulheres solteiras que necessitam de apoio pastoral condizente com seu chamado.

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