13/11/2017

Evangelho, uma proposta transcultural


Texto básico: 1 Coríntios 9.18 “Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho”

Introdução

É profundamente preocupante a posição de Missões dentro da Igreja Evangélica Brasileira. Este tema, Missões, tem sido debatido em congressos, expostos em palestras e discutido nas Igrejas. Porem preocupa-me a possibilidade deste tema estar se tornando em grande parte um mero ‘’modismo’’ em nosso meio.

‘’Modismo’’ é algo que causa um grande agitamento em determinadas épocas, porém, não possui raízes e nem deixa marcas. E pior: é improdutivo.
Somente de aborígenes, ainda não alcançados pelo evangelho, possuímos no mundo hoje cerca de 300 milhões. Isto é quase o dobro da população brasileira. Perante isto devemos indagar:

1 - Onde estão os que têm se levantado para ir, movidos por uma ardente paixão pelas almas?

2 - Onde estão os que têm se levantado, dispostos a se desgastarem para levar o evangelho até o ultimo povo perdido sobre a terra?

3 – Onde estão os crentes de corações vibrantes que desejam se envolver?
Necessitamos compreender que não fazem Missões com sensacionalismo, quando ficamos comodamente sentados nos bancos de nossas igrejas emocionados com narrações românticas do campo missionário. O mundo necessita mais de trabalho do que de lagrimas. Quando entendermos isto talvez passemos a nos importar mais em alcançar almas e menos em construir templos. E, neste dia também, descobriremos que milhões já morreram sem conhecer o Evangelho, enquanto nos ainda não sentíamos a urgência da proclamação; e então choraremos, porque para eles é tarde demais.

Exposição

1 - Evangelho: Recipiente dos Valores de Deus Para a Igreja Germinante

O ponto central da Missiologia do N.T é o Evangelismo.
O evangelismo é o ato de proclamar o evangelho (Euangélion), ação esta realizada pelo evangelista (Euangelistes). Vamos, portanto analisar e entender melhor este Evangelho, já que ele é o conteúdo do Evangelismo.

Voltemos há cerca de 2.000 anos no tempo, especificamente na região da Palestina, nos lugares onde Cristo passaria. Imagine um homem forte, vestido de peles de camelo, sandálias gastas, barbas sujas, cabelos longos, carregando em sua bolsa apenas um pouco de mel. Seu nome era João Batista e ele prega ao povo. Seus sermões eram duros; ele falava sobre o “fogo consumidor”, o “machado posto à raiz das arvores” e da “palha queimada em fogo inextinguível”, durante seus apelos ele usava termos fortes como “raça de víboras”.

De repente aparece perante o povo outro homem, vestido simplesmente, rodeado por um grupo de homens também simples e com uma voz suave. Era Jesus. Ele, ao contrario de João, vem falando sobre “boas novas” (evangelho) e “boas novas do reino”. Sua mensagem é estranha; ele vem falando sobre uma forma diferente de viver, uma forma “evangélica”. Uma vida em que o marido não domina sua esposa, ama-a;na qual o perseguido ano odeia aquele que o persegue, antes ora por ele; em que o líder cristão não exerce domínio sobre seu rebanho, mas serve-o; em que a comunidade dos santos não organiza revoluções contra as más autoridades, porem, intercede por elas; em que o menor é o maior, em que morrer é um ganho; na qual só se tornam fortes os que reconhecem a fraqueza; em que se obriga a andar uma; em que não há apego a este mundo, pois todos são peregrinos; na qual a terra natal é desconhecida, a garantia é uma promessa e só alcança a vida de quem primeiro morre. Isto é Evangelho, um recipiente de valores a um povo, os “do caminho”.

E dentro dessas pregações Jesus enfatizava muito o “reino” e até quando falava sobre Evangelho, falava sobre o “evangelho do reino”. Há uma ligação entre duas coisas que veremos depois. Porém, o mais importante agora é entendermos que o Evangelho nos primeiros séculos era um “recipiente dos valores de Deus, os quais reivindicavam um modo transformado de vida”. Era pratico.
Homens ricos paravam de roubar devolveram o dinheiro até quatro vezes mais aos que foram por eles ludibriados; mulheres adulteras largavam suas vidas de promiscuidade e transformavam-se instantaneamente em testemunhas; pescadores largavam suas redes para seguirem um carpinteiro de Nazaré; muitos vendiam tudo o que tinham para distribuírem entre os que nada possuíam; milhares morriam crucificados ou queimados por se recusarem a negar ao seu Senhor, que nunca havia visto a face a face. Isto é vida pratica!!!

Infelizmente, após os séculos, ser “evangélico” passou a significar apenas um estado denominacional. Gostaria, portanto que entendêssemos que o Evangelho, desta forma, não era apenas “boas novas”, “boas noticias”, mas “boas novas que reivindicam um modo de vida transformado, segundo os valores de Deus”.

1 - Evangelho: cumprimento da promessa

Há duas coisas que necessitamos entender aqui sobre o Evangelho, antes de chegarmos ao ponto principal.

Sua procedência: No N.T. confrontamo-nos repetidas vezes com a apresentação do Evangelho como 
“evangelho de Deus”, apontando para a procedência do evangelho, ou seja, ele não é invenção humana, mas sim uma revelação divina.
Seu conceito: Em 1 Coríntios 9.18, quando Paulo expressa que “evangelho” entendemos a principio que o conteúdo do evangelismo é o evangelho. Mais adiante, no capitulo 15 da mesma carta, Paulo fala à igreja sobre o evangelho que vos anunciei “(v.1) e no verso 3 ele começa a narrar sobre este evangelho dizendo:
“... Que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia...” ou seja, Jesus Cristo é o próprio evangelho! Desta forma, começamos a entender que o conteúdo do evangelismo é o evangelho e o conteúdo do evangelho é Jesus Cristo.
Creio que agora podemos expor o ponto principal deste tema: a promessa na qual entenderemos a perspectiva transcultural deste evangelho. Veja bem: Promessa N.T é o termo grego “EPANGELIA” o qual possui um sentindo literal de “prometer com antecedência” ou “criar expectativa pela mensagem” o que tem isto a ver com Missões? Vamos ver o texto de Paulo aos Romanos 1.1 a 3. Este texto fala sobre três pontos enfáticos:

Paulo foi “separado para o evangelho de Deus” (refere-se ao seu ministério).
Este evangelho foi “por Deus outrora prometido por intermédio dos profetas” (mostra que havia uma promessa sobre o evangelho).

Este evangelho prometido diz respeito ao “Seu Filho” (Jesus Cristo é o conteúdo deste evangelho).
Paulo, portanto, iniciam Romanos falando da Promessa e seu comprimento: Jesus Cristo. Se esta promessa é “Expectativa do Evangelho” e o conteúdo do Evangelho é Jesus Cristo, a promessa portanto é a “Expectativa por Jesus”.

A parte principal, porem, deste estudo é descobrirmos biblicamente a extensão desta Promessa no A.T. Se a promessa da vinda do Salvador no A.T. tiver sido dirigida apenas a Israel, somente este povo estaria impregnado por esta “expectativa do evangelho” somente este povo estaria imbuído desta “expectativa do evangelho”; somente eles viveriam sob a promessa. Se porem, a Promessa de um Salvador tiver sido dirigida a todos os povos da terra, em todas as épocas viveram e vivem numa expectativa, a expectativa das boas novas de Jesus Cristo.
Tomando Isaias 42.5 a 6 como um dos textos mais claros que falam sobre a Promessa central do A.T., a vinda do “Servo do Senhor”, veremos o “destino” de tal promessa.

Logo no verso 1 deste texto, Deus apresenta o servo, o “escolhido” que possui o seu “Espírito” e enfatiza que “ele promulgará o direito aos gentios”, expressando a quem é dirigida a Promessa, não só a Israel, mas também aos “gentios”.
Nos versos 2 e 3 Ele continua expondo sobre o Seu Servo e no verso 4 Ele afirma que:
“As terras do mar aguardarão a sua doutrina” o que deixa claro que Ele não se refere somente aos gentios que estão perto do seu povo de Israel, mas também os que estão em terras longínquas, além-mar. No verso 6 Deus diz que fará do seu servo o “mediador da aliança com o povo” (referindo-se a Israel) e “luz para os gentios”, referindo-se aos povos de longe.
No verso 10, em resultado da Promessa Ele diz:
“Cantai ao Senhor um cântico novo, e o seu louvor até as extremidades da terra...vós terras do mar e seus moradores”.

Conclusão

Creio ser explicito neste texto, como em tantos outros, que a Promessa messiânica é plenamente transcultural; a “Epangelia” estende-se até “as extremidades da terra” onde haja terras do mar e povos de longe; e creio também que isto implica no fato de que todos os povos da terra, em todas as épocas, vivem em expectativa quanto a uma mensagem que possa saciar a sua sede do evangelho.


Há uma amável Igreja no noroeste da África, localizada em um arquipélago (Cabo Verde) que em seus templos possui um emblema pintado ao alto, para que todos possam ver. Neste emblema esta escrito: Santidade ao Senhor. Talvez por causa desta preocupação eles tem trabalhado tanto e feito tanto para a glória de Deus. Algo que precisamos entender agora é que não se consegue proclamar realmente evangélico, no conceito de Deus. Começaremos a fazer Missões à medida que formos santos perante o Senhor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário