Atos 13.1 a 3 “E na igreja que estava em Antioquia havia
alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio,
Cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo
eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a
Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo
sobre eles as mãos, os despediram”
Introdução
Não é necessário ser um matemático para perceber que há algo
errado com os números abaixo:
Campos já alcançados onde há pleno testemunho do evangelho e
Igreja autóctones: População: 2.900.000.000 - Força de trabalho: 97% dos
obreiros evangélicos mundiais.
Campos não alcançados onde não há qualquer testemunho do
evangelho e/ou Igrejas autóctones com for expressão social: População:
2.800.000.000 - Força de trabalho: 3% dos obreiros evangélicos mundiais.
Por que 97% dos obreiros evangélicos mundiais atuam na meta
já alcançada do nosso planeta, enquanto apenas 3% atuam na metade não
alcançada? Creio que é um problema vocação. Ou cremos que Deus vocacionou 97%
para os alcançados somente 3% para os não alcançados ou então cremos que há
milhares de vocacionadas trabalhando no lugar errado. Se admitimos esta segunda
hipótese concluiremos então que há hoje por todo o Brasil milhares de membros
de igrejas, carpinteiros, estudantes, pedreiros, negociantes, gerentes de
banco, aposentados, funcionários públicos, presbíteros, diáconos, pastores,
profissionais liberais e outros que no coração de Deus foram chamados para a
obra do Senhor em campos distantes mas estão tomando navios em direções
contrárias a Nínive.
Exposição
1 - Quem são as testemunhas
Todos os salvos em Jesus Cristo são testemunhas do Senhor,
chamados a propagar o seu evangelho dentro do contexto do Marcos 16.15. “Ide
por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
A expressão “Ide” na verdade poderia ser mais literalmente
traduzida por “indo”. Isto leva-nos a duas pequenas conclusões: Que o real
imperativo (e ênfase) do versículo não é o “ide” mas sim o “pregai”; que o “ide
por todo o mundo” não é uma ordem para você sair do Brasil e ir para a China,
por exemplo, mas literalmente dá a idéia de “por onde você estiver indo”.
Sem dúvida é uma ordem a todos os salvos para proclamarmos a
mensagem do evangelho por onde estivermos indo. Todos somos chamados a isto (1
Pedro 2.9 “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o
povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz”).
Porém, no Novo Testamento há chamados especiais do Senhor a
pessoas específicas para ministérios também específicos. E dentre estes
(apóstolos, pastores, profetas, evangelistas, mestres) o Senhor separou alguns
para o ministério transcultural como Barnabé e Paulo que depois se intitulou
“apóstolo dos gentios”.
Paulo expressou este chamado específico na carta aos Gálatas
quando afirmou: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me
chamou pela Sua graça, aprouve revelar seu filho em mim para que eu o pregasse
entre os gentios, sem detença não consultei carne e sangue...” (Gálatas 1.15 e 16
“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me
chamou pela sua graça, Revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os
gentios, não consultei a carne nem o sangue”).
E falando sobre o caráter do seu ministério escreve:
“esforçando-me deste modo por pregar o evangelho não onde Cristo já fora
anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Romanos 15.20 “E desta
maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para
não edificar sobre fundamento alheio”).
Portanto é certo que como o Senhor chama e vocaciona
pastores para cuidarem do seu rebanho, também chama e vocaciona evangelistas
para plantarem suas Igrejas, seja aqui ou nos confins da terra.
2 - Como serão reconhecidas
Um problema básico (e sério) na Igreja do Senhor é
reconhecermos os que realmente estão sendo chamados. Olhemos portanto para uma
igreja que há quase 2.000 anos passados possuía centenas de membros e alguns
profetas e mestres, Esta igreja ficava na cidade de Antioquia e em Atos 13.1 a 3
temos um relato sobre o discernimento destes irmãos perante os que foram
“separados” pelo Espírito Santo para a obra missionária transcultural.
O v.1 fala a respeito de alguns dos principais líderes desta
igreja, dentre eles Barnabé e Paulo; e o v.2 se inicia com um verbo que dá toda
a força a este pequeno texto: “E servindo eles ao Senhor...”.
O que faziam eles para serem reconhecidos pela Igreja como
homens dignos de serem enviados? “Serviam”!
No Novo Testamento há pelo menos 3 formas de se servir:
2.1 - Como “diákonos” (o serviço à comunidade e serviço
social);
2.2 - Como “doulos” (o serviço diretamente ao Senhor
escravo);
2.3 - Como “Leitourgos” (o serviço litúrgico ligado ao
culto, edificação da Igreja ou à vida devocional).
No nosso texto o termo usado no original diz respeito
justamente à terceira forma apresentada: eles serviam como “Leitourgos” e isto
faziam “ao Senhor”: eles eram santos, o povo notava isto e suas vidas e
ministérios. Edificavam o povo. Creio estar aqui a principal característica que
servirá para direcionar a Igreja quanto aos que alegam o chamado do Senhor:
serem santos, terem vidas aos pés do Senhor, serem “abençoadores”.
No v.2 vemos que não é a Igreja quem chama tais servos, é o
Espírito Santo. “...disse o Espírito Santo: separai-¬me agora a Barnabé e a
Saulo...” e no v.3 vemos o papel da Igreja, “impondo sobre eles as mãos”,
significando o compromisso da Igreja com tais servos; e “os despediram” ou
seja, eles foram chamados pelos Senhor, separados pelo Espírito Santo e
enviados pela Igreja local; eles, Barnabé e Paulo, o melhor que a Igreja tinha.
Isto é Missões.
3 - Para onde serão enviadas
A Igreja Brasileira precisa ter uma visão do mundo pelo
simples fato de que esta é a visão de Deus. Comumente nossa visão “acha-se” em
torno daquele país ou povo com o qual temos maior afinidade: conhecemos
missionários que ali trabalham, sabemos de detalhes sobre a língua, cultura,
política etc. Não podemos ter apenas visão de África ou Ásia; é necessário
termos visão do mundo! Buscarmos sempre as novas fronteiras, os povos ainda
ocultos, os grupos de resistência e os bolsões ainda intocados pelo evangelho;
não nos conformarmos com o envolvimento atual e restrito da Igreja: precisamos
de mais, sempre mais, até o último povo.
Gostaria de enfatizar, porém, que é necessário olharmos de
forma especial para os 8.000 PNAs (Povos não Alcançados) espalhados pelo mundo.
Creio que a síntese de Paulo a este respeito em Romanos. 10 expõe a crise de
tais povos: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como
porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada
ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem
enviados? Como está escrito: quão formosos são os pés dos que anunciam cousas
boas” (Romanos 10.13 a 15 “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele
de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se
não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o
evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas”).
3.1 - Ele fala da salvação para todo que invocar o Senhor;
3.2 - Não se pode invocar sem crer;
3.3 - Não se pode crer sem ouvir;
3.4 - Não se pode ouvir se não há quem pregue;
3.5 - Não se pode pregar se não há quem envie.
A imagem na mente do apóstolo, sem dúvida, é daqueles que
ainda não ouviram: os povos não alcançados; e creio ser explícito na teologia Paulina
a prioridade de tais povos no ministério da Igreja.
Conclusão
Passos para o envio de missionário (Algumas sugestões):
1 - Formação de obreiros de acordo com a realidade do campo
a ser atingido;
2 - Despertamento e conscientização da igreja para um envolvimento
integral, pessoal, financeiro e espiritual, com o obreiro ou projeto
missionário.
3 - Contato com prováveis agências missionárias no campo em
questão para traçar um perfil do “modo de vida” dos obreiros a ser enviados;
4 - Providenciar documentos: passaportes, vistos,
vacinações, permissões especiais etc.;
5 - Analisar a melhor forma de recolher e enviar o sustento
financeiro;
6 - Votar um sustento realista. Lembrar-se de despesas
adicionais como “imposto a estrangeiros”, passagens, vistos, taxas para
permissões especiais de residência, circunstâncias especiais para educação dos
filhos etc.;
7 - Providenciar o material básico a ser levado pelo obreiro
ao campo em questão. Um “enxoval missionário” para regiões de difícil acesso
deve conter itens tais como barraca, coletes salva¬ vidas, sacos de dormir,
bússola, ferramentas, remédios e material de primeiros socorros etc. Em geral
todo missionário, urbano, rural ou tribal necessitará de apoio quanto à
formação de uma boa biblioteca pessoal.
8 - Estabelecer o modo mais fácil de contato entre Igreja
local e o obreiro questão. Solicitar informações mensais ou relatórios
periódicos.
9 - Definir a sistematização do envio deste(s)
missionário(s), através da Junta de Missões de sua denominação, em convênio com
uma Agência Missionária como integrante de um projeto missionário já
estabelecido naquela região, como profissional liberal com contrato com alguma
instituição governamental ou particular no país em questão etc.
10 - Estabelecer critérios de assistência pastoral quanto
aos missionários e suas famílias, por parte da Igreja. Lembrar-se de que grande
parte dos missionários é de mulheres solteiras que necessitam de apoio pastoral
condizente com seu chamado.