14/09/2017

O Cristão e a tentação


Tiago 1.12 a 18

“Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: "Estou sendo tentado por Deus". Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte. Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou”.

Introdução

Tentação na Bíblia tem o sentido de colocar uma pessoa em prova, de submetê-la a um teste árduo e espinhoso com o objetivo de mostrar a sua fraqueza, induzindo-a a um procedimento negativo.
A Bíblia apresenta satanás como o tentador, ou seja, como aquele que sabe usar como ninguém mais as circunstâncias existenciais para induzir a pessoa na concretização de objetivos maléficos.
A maior intenção do diabo não é, na verdade, nos fazer pecar, mas sim a de criar em nós uma sensação de ausência, de distanciamento, de Deus. Ao nos fazer sentir uma espécie de alienação espiritual em relação a Deus o diabo nos escraviza no pecado.

Marcos 1.13 “E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras, e os anjos o serviam”

1 Coríntios 2.5 “Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”

Apocalipse 2.10 “Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida”

João 8.34 “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado”

Romanos 6.17 a 23 “Mas, graças a Deus, porque, embora vocês tenham sido escravos do pecado, passaram a obedecer de coração à forma de ensino que lhes foi transmitida. Vocês foram libertados do pecado e tornaram-se escravos da justiça. Falo isso em termos humanos por causa das suas limitações humanas. Assim como vocês ofereceram os membros dos seus corpos em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade, ofereçam-nos agora em escravidão à justiça que leva à santidade. Quando vocês eram escravos do pecado, estavam livres da justiça. Que fruto colheram então das coisas das quais agora vocês se envergonham? O fim delas é a morte! Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna. Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”

Romanos 7.17 “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim”

Em Mateus 6.13 o termo tentação tem o sentido de ação satânica para nos fazer pecar. Este termo aparece 21 vezes no Novo Testamento e sempre tem o sentido de comprovar a qualidade, submeter à prova ou teste, com a intenção de induzir ao pecado.

Creio ser importante ressaltar sobre a tentação o seguinte.

A tentação surge da nossa presunção de força:

A tentação se torna mais eficaz quando presumimos ter forças suficientes para não cairmos em pecado, ou para vencê-la quando assim bem entendermos.
A autoconfiança é um atalho para a derrota. Precisamos aprender a nos afastarmos da aparência do mal, bem como do próprio mal.
O autoconhecimento e de nossas limitações, associado ao conhecimento de Deus e de sua Palavra nos ajuda para evitarmos a presunção de força em relação à tentação. Além disso, 1 Coríntios 10.12 (“Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia”) nos alerta e nos ajuda para evitarmos a presunção de força que nos deixa vulneráveis à tentação.

A tentação nos cega:

Quando somos tentados fazemos coisas que em circunstâncias normais jamais faríamos. A tentação obscurece a nossa visão e a nossa mente, nos fazendo enxergar as coisas sob um único prisma, o da satisfação pessoal e do prazer.

Vemos no Salmo 73.1-3 que enquanto a visão do salmista estava presa na prosperidade dos ímpios ele se consumia de inveja (“Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração. Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei. Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios”).

Em 2 Samuel vemos que enquanto a visão de Davi estava fixada na beleza física de Bate-Seba e no prazer sexual, ele não enxergou a maldição que cometera contra Deus, 2 Samuel 11.27 (“Passado o luto, Davi mandou que a trouxessem para o palácio; ela se tornou sua mulher e teve um filho dele. Mas o que Davi fez desagradou ao Senhor”). Somente depois de exortado espiritualmente pela Palavra de Deus, através do profeta Natã, foi que as vendas caíram de seus olhos e, arrependido, Davi confessou o seu pecado, 2 Samuel 12.13 (“Então Davi disse a Natã: "Pequei contra o Senhor! " E Natã respondeu: "O Senhor perdoou o seu pecado. Você não morrerá”).

Somente a Palavra de Deus nos faz recuperar a visão espiritual e nos auxilia a identificarmos a tentação e suas conseqüências em nossas vidas. Vale à pena ler os Salmos 32, 38 e 51, que Davi escreveu no momento de seu arrependimento, após ter recobrado a visão e consciência espiritual.

A tentação visa destruir a Palavra de Deus em nós:

Não seria diferente. Se é a Palavra que nos esclarece, a tentação, que obscurece, atua contra ela. Na parábola do semeador fica evidente este aspecto da tentação, pois o texto mostra claramente que na hora da tentação as pessoas que não estão enraizadas na Palavra se desviam.
Quando a Palavra de Deus não esta enraizadas em nossos corações, e nós nela, temos as nossas próprias soluções para os problemas e os nossos próprios projetos para a vida. Consideramos-nos senhores do nosso destino e acreditamos que os nossos métodos são melhores do que os de Deus.
A tentação nos ataca fazendo com que a Palavra de Deus deixe de ser o manual de compreensão da realidade e do direcionamento para a nossa vida. Neste caso, a Palavra de Deus perde a relevância existencial e vivencial para nós e, por isso, cedemos às tentações.

A tentação visa a enfraquecer a nossa fé:

Este aspecto é uma decorrência do anterior, pois quando a Palavra de Deus perde o significado para nós perdemos a fé, visto que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus. (Romanos 10.17 “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” e Efésios 2.8 “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus”).
Essa questão se confirma na expressão de Davi, no Salmo 13.1 (“Até quando, Senhor? Para sempre te esquecerás de mim? Até quando esconderás de mim o teu rosto?”), quando ele se lamenta do sentimento de ausência de Deus. Qual o Cristão sincero que, passando por um longo período de crise, não sentiu esse “abandono” de Deus? O segredo para não sucumbirmos é não perder a fé. O clamor angustiado de Davi revela a sua fé de forma vivida. Ele se dirige a Deus em seu lamento. Davi não busca auxilio humano. Apesar das perdas humanas ele permanece na fé.
Satanás utiliza-se de todos os recursos para abater a nossa fé e para nos enfraquecer espiritualmente, induzindo-nos para direções erradas e nos desviando de Jesus, o autor e consumidor da fé, Hebreus 12.2 “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus”.
Com relação a este tópico, recomendo a leitura do livro do profeta Habacuque e de Hebreus 10.19 a 11.40.

A tentação nos entristece:

A tentação dói, gera tensão violenta e toca em questões vitais da nossa existência. O processo tentatório e a luta interior para não cedermos a tentação nos fazem chorar lágrimas amargas, o mesmo ocorrendo quando caímos e chegamos a consciência de que não resistimos. Porém, a tristeza produzida pela tentação e temporária, embora amargurante e cruel, Gênesis 3.4 a 6 “Disse a serpente à mulher: Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também”, Salmo 32.3 “Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer”, Salmo 51.1, 8 e 12 “Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões, Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão, Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer” e Mateus 27.1 a 5 “De manhã cedo, todos os chefes dos sacerdotes e líderes religiosos do povo tomaram a decisão de condenar Jesus à morte. E, amarrando-o, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador. Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. E disse: Pequei, pois traí sangue inocente. E eles retrucaram: Que nos importa? A responsabilidade é sua. Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se”.

A tristeza promovida pela tentação e tão intensa que pode desembocar numa depressão profunda, como no caso de Judas Iscariotes, que cometeu suicídio, mas, em contra partida, essa tristeza não pode ser comparada a alegria e a exultação espiritual que nos advém quando resistirmos à tentação, 

Tiago 1.2 a 3 “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança”, 1 Pedro 1.6 e 7 “Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado”, 1 Pedro 4.12 e 13 “Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria” e Tiago 1.12 “Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam”.
Podemos usar a tristeza provocada pela tentação de maneira positiva, glorificando e louvando a Deus por participarmos dos sofrimentos de Cristo.

Conclusão:

Para encerrar, ao invés de recapitular tudo, apenas desejo fazer algumas considerações que creio relevantes sobre este tema. São elas:

A tentação é universal e inevitável. Todos, sem exceção, em todo o lugar, passam pelo crivo da tentação, João 17.15 “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno”.
Apesar de Satanás nos tentar com a intenção de nos fazer sucumbir, devemos crer que os propósitos de Deus podem reverter a situação, Gênesis 50.20 “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos”.

A tentação é sempre uma prova, um teste muito difícil, que testa a nossa resistência, a nossa fé, a nossa firmeza na Palavra de Deus, bem como a nossa própria concupiscência, Tiago 1.14 e 15 “Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte”.

Devemos orar como Jesus nos ensinou em Mateus 6.13 (“E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”)diuturnamente, ou seja, 1440 minutos por dia, se desejamos resistir e vencer a tentação.
Dentro do processo tentatório não existe o “não posso” ou o “eu resisto”, ou ainda o “eu venço essa”. Não podemos nada contra a tentação. É Deus quem nos capacita e não permite que o diabo nos destrua, 1 Coríntios 1.13 “Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo”.

Devemos parar com a atitude de fixarmos os olhos nas crises e na tentação, passando a fixar os nossos olhos em Deus e em Jesus Cristo, Salmo 3 “Senhor, muitos são os meus adversários! Muitos se rebelam contra mim! São muitos os que dizem a meu respeito: "Deus nunca o salvará! Mas tu, Senhor, és o escudo que me protege; és a minha glória e me fazes andar de cabeça erguida. Ao Senhor clamo em alta voz, e do seu santo monte ele me responde. Eu me deito e durmo, e torno a acordar, porque é o Senhor que me sustém. Não me assustam os milhares que me cercam. Levanta-te, Senhor! Salva-me, Deus meu! Quebra o queixo de todos os meus inimigos; arrebenta os dentes dos ímpios. Do Senhor vem o livramento. A tua bênção está sobre o teu povo” e Hebreus 12.2 “tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus”.

Não temos como evitar a tentação, porém, podemos resisti-la e vencê-la, em nome de Jesus, Tiago 4.7 a 10 “Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará”.


Que Deus nos ajude nesta intensa batalha contra a tentação e o nosso próprio desejo de ceder a ela.

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