Você sabe qual a origem da palavra “engano”? Significa
“plane”: peregrinação é raiz de “planeta”. Eu nunca tinha parado para refletir
sobre essa palavrinha de três silabas até ler na epístola de Judas: “Ai deles,
porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de
Balaão, e pereceram na contradição de Coré” (Judas 11). Caim agiu enganosamente
porque ao invés de cuidar do irmão, o matou. Balaão foi tentado a aceitar
dinheiro e recompensas de Balaque para amaldiçoar Israel e Coré foi “engolido”
pelo chão, após liderar uma rebelião contra Moisés (Números 16.1 a 24).
Judas compara a ação dos três aos falsos
mestres.
O engano faz com que cometamos coisas terríveis! Engano
torna o homem peregrino, andando em círculos, “planeteando”. Andar em círculos
não é algo agradável, nem próspero porque faz com que passemos pelos mesmos
lugares muitas vezes sem nunca chegar a um destino. Ou melhor: o destino do
peregrino é o abismo (a exemplo de Coré).
Por quê? De tanto caminhar em círculos acaba por formar uma
depressão bem abaixo de seus pés, vindo a ser “engolido” por ela. Foi isso que
aconteceu com a maioria dos Israelitas quando da caminhada de 40 anos pelo
deserto. Uma caravana de 600 mil homens (sem contar mulheres e crianças) saiu
do Egito rumo à terra prometida e somente dois conseguiram chegar lá: Josué e
Calebe.
Josué e Calebe não se deixaram enganar pelas propostas do
mundo nem pelas dúvidas lançadas por Satanás. Os demais murmuravam de tudo e
todos: “ah os alhos do Egito eram tão deliciosos! A comida de lá era muito
melhor que esse maná horrível vindo do céu! Não Moisés, não queremos esse seu
Deus que faz mar se abrir e monte fumegar, queremos um bezerrinho de ouro que
não fala, nem vê, nem ouve, sabe? É melhor porque ele não nos corrige, para ele
tá tudo bem! Oh vida, Deus disse que nossa terra era a melhor de todas, mas só
estamos vendo gigantes! Eles vão acabar conosco, afinal somos muito fraquinhos.
Não queremos esses cachos de uvas enormes, nem as graúdas azeitonas, queremos
alho, alho do Egito, será que nos entende?!”.
De uma congregação de digamos três mil e quinhentas pessoas,
apenas duas não estavam enganadas. Como disse Charles Chaplin: “A multidão é
mesmo um monstro sem cabeça”. Quer dizer que Josué e Calebe nunca se enganaram?
Deus disse que todo coração é enganoso, não existe nada no mundo que seja mais
enganoso que o coração. E fazendo uso da etimologia da palavra “engano”: Não há
nada no mundo que peregrine mais que o coração, ele anda por todos os lugares
do planeta! E quem é capaz de conhecer todo o planeta? Só Deus. Só Deus é capaz
de conhecer o coração de cada homem, “Ele sonda o profundo e o escondido, conhece
o que está em trevas e com Ele mora a luz” Daniel 2.22.
Interessante: Deus sonda o coração através da peregrinação,
Deus sonda através do engano! Como saber se escolhemos a Deus ou ao engano?
Exatamente quando o engano se apresenta para nós: “Muito prazer, sou o engano
quero te fazer uma proposta”! O engano por ser mentiroso, usa disfarce. Ele se
apresenta como verdade, como algo que faz bem para o ego, para as vontades da
carne e quando se percebe (ou nunca se percebe) já se andou tanto em círculos
que foi parar no abismo: de dose em dose, de passo em passo. Josué e Calebe
resistiram ao engano porque escolheram Deus, em toda e qualquer circunstância:
Tinha gigante? Deus é conosco para nos fazer vencer! Tinha
multidões de inimigos? Um com Deus vence um exército!
Josué e Calebe desvendavam os disfarces do engano porque
estavam na Luz, onde tudo se revela. O segredo desses dois homens estava
justamente no coração, centro do agir! Em determinado momento da vida os dois
se arrependeram dos pecados e se entregaram a Deus na certeza de que estavam
seguindo a direção certa, não andando em círculos, mas rumo a um alvo! Josué e
Calebe desejaram a Terra Prometida, eles contemplaram essa terra e nada nem
ninguém era mais importante que o objetivo de chegar lá! Vejam como Deus é
perfeito em tudo: se engano significa peregrinar, andar em círculos como um
planeta, “arrepender-se” é andar para o alvo, acertar na marca, caminhar para
um objetivo. Por isso que Jesus veio anunciando a salvação dizendo:
“Arrependei-vos porque é chegado o Reino de Deus” Mateus 3.2.
Arrependei-vos = metanoeo. Ou seja: mudem de direção, rumem
a um objetivo!
Jacó peregrinou na terra de Cam (Salmo 105.23) até ser
provado e aprovado. Deus mudou seu nome de Jacó para Israel quando seu coração
se converteu a verdade. Abraão peregrinou no deserto sendo provado por Deus até
enfim, ser transformado de Abrão para Abraão, pai dos que têm fé.
Ou seja: Pai dos que não se entregam ao engano, não andam em
círculos. Quem não se deixa dominar pelo
engano, rejeita o mal. Tem por meta chegar a Terra Prometida, a morada eterna.
Assim falou apóstolo Paulo: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana
vocação em Cristo Jesus” Filipenses 3.14. Paulo estava se negando a andar em
círculos até ser engolido pelo abismo. Escolher Jesus é seguir para o alvo, é
entrar pela porta estreita e pelo apertado caminho da salvação Lucas 3.24.
Escolhi Jesus porque estava cansado de ser enganado. Cansado
das muitas voltas pelos mesmos caminhos, do destino incerto, da infidelidade
dos “deuses do Egito” que me escravizavam com promessas de felicidade: enganos
e mais enganos. Jesus é a Verdade que destrona e detona a mentira. Escolhamos
Jesus que nos liberta de uma vez por todas dos enganos do Egito, que nos faz
seguir avante e para o alvo!
Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Jeremias 17.9
E agora? Mesmo andando com Jesus meu coração continuará
enganoso ou enganando-me? É interessante perceber que quando se trata de
coração, não há nada na Bíblia que afirme que temos total controle sobre ele.
Ou seja: não há corações perfeitos e absolutamente livres do engano! O homem lida
diariamente com a necessidade de preencher o coração com Deus, com tudo que é
bom e perfeito. Por isso que o provérbio Bíblico diz: "Sobre tudo o que se
deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem às fontes da vida”.
Provérbios 4.23.
Guardar o coração consiste em não abrir o coração para que o
mal habite nele: vícios, mentiras, roubos, rebeldias, distanciamento de Deus. O
coração não deve peregrinar por terras estranhas ao Evangelho. Se o coração é o
centro da vontade humana, Deus deve reinar no centro de nossas vontades. Dizer
não ao pecado e procurar seguir a Deus, diariamente é um meio de purificar o
coração do engano.
Guardemos nosso coração.