Narra-se
antiga lenda de um rabino muito dedicado, que vivia feliz com sua esposa e dois
filhos queridos.
Certa vez,
por imperativos da religião, ele empreendeu longa viagem, ausentando-se do lar
por várias semanas. No período em que estava ausente, um grave acidente
provocou a morte dos dois meninos.
Apesar da
imensurável dor da perda dos filhos e da ausência de seu companheiro, sua
mulher encontrou forças em Deus para suportar com bravura aquele choque e
preparar-se para dar a notícia ao marido, que era cardíaco.
Alguns dias
depois, num final de tarde, o rabino retornou ao lar. Abraçou longamente a
esposa e perguntou pelos filhos. Ela pediu que ele não se preocupasse com as
crianças, que tomasse logo o seu banho, pois queria conversar com ele.
Alguns
minutos depois estavam ambos sentados à mesa. Ela lhe perguntou sobre a viagem,
e logo ele perguntou novamente pelos filhos. A esposa, numa atitude um tanto
embaraçada, respondeu ao marido:
– Deixe os
meninos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero
grave.
O marido, já
um pouco preocupado perguntou:
– O que
aconteceu? Notei você abatida! Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus”.
– Enquanto
você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou comigo jóias de valor
incalculável, para que as guardasse. São jóias muito preciosas! Jamais vi algo
tão belo! E o problema é esse: Ele vem buscá-las hoje e eu não estou disposta a
devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?
– Ora
mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!
Por que isso agora?
– É que
nunca havia visto jóias assim! São maravilhosas!
– Podem até
ser, mas não lhe pertencem! Terá que devolvê-las.
– Mas eu não
consigo aceitar a idéia de perdê-las!
E o rabino
respondeu com firmeza:
– Ninguém
perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo! Vamos devolvê-las, eu a
ajudarei.
Faremos isso juntos, hoje mesmo.
– Pois bem,
meu querido, vamos devolvê-las hoje mesmo. Na verdade isso já foi feito. As
jóias preciosas são os nossos filhos. Deus os confiou à nossa guarda, e durante
a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram.
O rabino
compreendeu a e aceitou a mensagem. Abraçou sua sábia esposa, e juntos
derramaram grossas lágrimas. Sem revolta nem desespero.
Salmo 116.15
“Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos”.
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