A armadura de Deus é
a completa virtude espiritual provida por Deus aos crentes a fim de
capacitá-los para a guerra contra as forças do mal. A ordem bíblica é para que
os cristãos estejam revestidos de toda a armadura de Deus. Através do estudo
bíblico do capítulo 6 da Epístola aos Efésios, podemos estar conhecendo a
armadura de Deus da forma correta (Efésios 6.10 a 20).
O significado da armadura de Deus
A expressão “armadura de Deus” traduz uma palavra grega que
se refere ao equipamento completo de um soldado de infantaria. A palavra para
armadura no texto é o grego panóplia que vem de pan, que significa “toda”, e
hopla, que significa “armas”. Por isso o apóstolo Paulo enfatiza que os crentes
devem tomar “toda a armadura de Deus”. Essa armadura espiritual é formada por
diferentes elementos, mas é também uma perfeita unidade.
Isso significa que no ensino bíblico não faz sentido usar
apenas uma ou outra arma espiritual e desprezar as demais. Ou alguém está
vestido com toda a armadura de Deus ou está completamente vulnerável aos
ataques de Satanás.
Por que devemos vestir a armadura de Deus?
Devemos estar vestidos de toda a armadura de Deus porque
cada cristão verdadeiro está envolvido em uma intensa batalha espiritual. Antes
de falar especificamente sobre a batalha espiritual que todo crente está
envolvido, Paulo já havia falado algumas coisas fundamentais que nos ajudam a
entender por que é necessário que o crente esteja vestido de toda armadura de
Deus.
Primeiro, ele falou sobre a beleza do plano eterno e
soberano de Deus para a salvação. Depois, ele falou sobre a posição da Igreja
em Cristo; destacando as bênçãos e os privilégios desfrutados pelo salvos, bem
como os deveres em sua caminhada na fé em direção à santidade em todas as
esferas da vida através da capacitação do Espírito Santo.
Mas Paulo também explica que tudo isso não seria algo fácil
e sem oposição. Os crentes seriam desafiados e teriam que provar dia após dia
que realmente foram chamados por Deus. A vida cristã não se resume apenas às
bênçãos da salvação, mas também inclui nossa posição contra os desejos
pecaminosos da carne e as forças espirituais das trevas.
Satanás e seu exército demoníaco se dedicam completamente a
fazer oposição a Cristo e seu povo. As forças do mal querem destruir a obra de
Deus. A realidade dessa guerra não pode ser subestimada. Não se trata de uma
simples luta contra meros seres humanos. O apóstolo Paulo diz que “nossa luta
não é contra carne e sangue, e sim contra os principados e potestades, contra
os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas
regiões celestiais” (Efésios 6.12).
Isso explica perfeitamente por que devemos estar vestidos
com a armadura de Deus. Sem essa armadura providenciada pelo Senhor não temos
qualquer chance nessa guerra. O texto bíblico explica a importância fundamental
dessa armadura para a vida cristã.
Por duas vezes o texto diz: “Revesti-vos de toda a armadura
de Deus, para poderes ficar firmes contra as ciladas do diabo”; e: “Portanto,
tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois
de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis” (Efésios 6.11 e 13).
O que significa vestir toda a armadura de Deus?
A Bíblia diz que estar vestido de toda a armadura de Deus
significa estar fortalecido no Senhor e na força do seu poder (Efésios 6.10).
Revestir-se da armadura de Deus implica em viver a vida cristã da forma correta
e plena; significa estar de pé no poder sustentador de Deus.
À parte de Cristo, o cristão nada pode fazer. A fonte do
poder do cristão é o próprio poder de Deus (João 15.1 a 5). As Escrituras
revelam claramente o quão infinito é o poder de Deus. Mas o que Paulo quer
dizer com “a força do seu poder”? Nessa expressão o apóstolo basicamente usa as
mesmas palavras de quando ele fala sobre o poder que ressuscitou Jesus dentre
os mortos; bem como ressuscitou os crentes de seu estado de morte espiritual
(Efésios 1.19, 2.4 a 6).
Então vestir toda a armadura de Deus é buscar esse poder de
Deus, e ser infundido por ele. O mesmo apóstolo certa vez disse: “Posso todas
as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13). Esta declaração explica
de forma prática o que significa revestir-se da armadura de Deus. Somente
alguém vestido com toda a armadura de Deus pode dizer algo assim.
Usando a armadura de Deus
Dissemos que vestir a armadura de Deus significa estar apto,
pelo poder e virtude do Senhor, a resistir aos ataques malignos. Essa verdade
reforça a ideia de que precisamos conhecer muito bem o contexto em que usamos a
armadura de Deus.
Em primeiro lugar, foi Cristo quem derrotou definitivamente
Satanás e conquistou na cruz o poder do pecado e da morte (Romanos 5.18 a 21, 1
Coríntios 15.56 e 57, Hebreus 2.14). Portanto, lutamos numa guerra cuja vitória
já foi conquistada.
Em segundo lugar, apesar de ser um exército derrotado, as
forças das trevas se empenham em causar o máximo de estrago possível antes de
sua ruína final no dia do glorioso retorno de Cristo. Satanás e os demônios não
podem escapar do destino que já lhes foi decretado por Deus. Por onde quer que
vão eles arrastam sobre si a maldição do juízo divino. Mas enquanto eles
caminham para o local de sua condenação eterna, eles atacam os soldados do
Reino de Deus.
Então vestidos da armadura de Deus, nosso papel é semelhante
a um soldado que monta guarda num território conquistado. A luta do crente é
fundamentada na vitória conquistada por Cristo. Por isso Paulo é enfático ao
falar: Estais firmes! Resistam! Vigiem e perseverem! (Efésios 6.10, 13, 14 e
18). Mas não confunda isto com um papel meramente passivo e defensivo. Em sua
resistência os crentes se defendem, mas também atacam. É uma resistência
ofensiva que faz com que o inimigo fuja em retirada (Tiago 4.7).
Além disso, vestir-se da armadura de Deus também é algo que
inclui tanto a soberana graça de Deus como a responsabilidade humana. É o
crente quem deve vestir-se com essa armadura; é o crente quem deve usá-la
completamente em sua vida diária. Contudo, Deus é quem providenciou essa
armadura; Ele é quem forjou essas armas e como uma dádiva Ele entregou sua
armadura aos seus filhos. Por isso sem o poder divino, ninguém é capaz de usar
a armadura de Deus.
Conhecendo a armadura de Deus
O apóstolo Paulo usou certas armas que equipavam um soldado
da infantaria nos tempos antigos como figura das armas espirituais que equipam
os crentes. É possível que ele tivesse em mente um soldado romano; embora o
equipamento pessoal de guerra dos romanos em sua época tivesse algumas pequenas
diferenças da armadura que ele descreve.
Por isso que alguns comentaristas dizem que provavelmente
Paulo tenha combinado essa figura do soldado romano com algumas referências do
Antigo Testamento que retratam Deus, ou o Messias, como um guerreiro. Por
exemplo: o profeta Isaías fala de Deus vestido de justiça como de uma couraça,
e com o capacete da salvação na cabeça (Isaías 59.17, Isaías 11.5, 49.2). De
forma maravilhosa e extraordinária, Paulo explica que agora Deus dá aos crentes
essas armas.
Outra questão discutida sobre a armadura de Deus é como
devemos entender o seu caráter. Há duas interpretações.
A primeira diz que a
armadura de Deus deve ser vista como sendo o próprio Cristo e tudo aquilo que
Ele conquistou na cruz em nosso favor. Então a armadura de Deus são os méritos
de Cristo imputado por Deus em nós.
Nesse aspecto vestir a armadura de Deus é vestir-se do
próprio Cristo. Por exemplo: vestir a couraça da justiça é vestir-se da justiça
de Cristo; vestir o cinturão da verdade é vestir-se da verdade de Cristo etc.
A segunda interpretação diz que a armadura de Deus deve ser
vista como um conjunto de virtudes morais que os crentes devem demonstrar em
suas vidas a fim de não dar ocasião ao diabo. Por exemplo: vestir a couraça da
justiça significa ter uma conduta de vida reta e justa.
A primeira interpretação sem dúvida parece ser a que melhor
se harmoniza ao contexto; afinal, Paulo diz que os crentes devem ser
fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Contudo, a segunda
interpretação não deve ser completamente anulada. Isto porque aquele que está
vestido da justiça de Cristo, por exemplo, necessariamente procurará ter uma
vida caracterizada pela retidão. Então a segunda pode ser vista como uma
consequência da primeira.
Cinturão da verdade
O primeiro elemento da armadura de Deus citado por Paulo é o
cinturão da verdade. Ele diz: “Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade”
(Efésios 6.14). Aqui o apóstolo tinha em mente o cinturão de couro que os
soldados usavam. Esse cinturão protegia a região do baixo abdômen e tinha papel
fundamental para todo restante da armadura. Ele prendia a túnica do soldado,
sustentava a couraça e servia de suporte para a espada.
Na armadura de Deus, essa verdade não é outra senão a
verdade de Cristo; a veracidade do Evangelho. O próprio Jesus declara:
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará“; e ainda: “Eu sou o caminho
a verdade e a vida“ (João 8.33, 14.6).
Vestir o cinto da verdade é se vestir da verdade de Cristo.
É ter sua vida sustentada pela verdade da Palavra de Deus. Consequentemente,
aquele que está vestido da verdade de Cristo também terá uma vida marcada pela
autenticidade, pela sinceridade. Ele jamais apoiará o engano.
Couraça da justiça
Após falar do cinturão da verdade, Paulo diz que o crente
deve vestir a couraça da justiça (Efésios 6.14). A couraça era um traje feito
de metal ou um combinado de couro duro, e que protegia o tronco do soldado,
onde estavam o coração e outros órgãos vitais.
Como já foi exemplificada aqui, a couraça da justiça fala da
própria justiça de Cristo imputada no crente. Mas essa justiça imputada
obviamente irá conduzir o crente a uma justiça prática e diária.
Calçados com o Evangelho da paz
Paulo diz: “Calçai os pés com a preparação do Evangelho da
paz” (Efésios 6.15). Os soldados romanos usavam calçados feitos de couro duro
com o solado cravejado com pregos agudos. Esses calçados davam estabilidade ao
soldado, pois se prendiam ao chão.
Ao usar a analogia do calçado do soldado como figura da
prontidão do Evangelho da paz, o apóstolo fala da segurança, da confiança e do
conforto que há nas boas novas da reconciliação com Deus pela obra de Cristo. O
crente só pode lutar na batalha espiritual se tiver em paz com Deus através de
Cristo.
Escudo da fé
O crente deve estar embraçando sempre o escudo da fé, com o
qual ele poderá apagar os dardos inflamados do Maligno (Efésios 6.16). Paulo
aqui usa a figura do escudo romano retangular que tinha pouco mais de um metro
de altura. Ele era grande o suficiente para cobrir todo o corpo do soldado que
se escondia atrás dele.
Esses escudos muitas vezes eram umedecidos para poder apagar
as flechas incendiárias lançadas pelos inimigos. Paulo compara essas flechas
que causavam grande estrago com as tentações lançadas por Satanás contra os
crentes. Mas a plena confiança em Deus e em Sua Palavra é um escudo eficaz
contra essas setas. A fé salvadora é o escudo forte do crente.
Capacete da salvação
O texto bíblico diz que o crente deve tomar o capacete da
salvação (Efésios 6.17). Nem é preciso explicar o quão importante é o capacete
para um soldado num campo de batalha. Na armadura de Deus, o capacete é o
capacete da salvação.
Um dos principais intentos de Satanás é lançar dúvidas
quanto à salvação do crente. Mas equipado com o capacete da salvação, o Cristão
permanece firme nas promessas de Deus acerca da segurança eterna de sua
salvação.
Espada do Espírito
Vestido com o capacete da salvação, o crente também deve
estar empunhando a espada do Espírito. Naquele tempo, a espada era a arma mais
eficaz de um soldado da infantaria. Nenhum soldado ia para o campo de batalha
sem portar uma espada.
Assim também deve ser o crente na batalha espiritual. O tipo
de espada usada por Paulo em sua analogia era uma arma curta e letal, usada
tanto para se defender quanto para atacar. O próprio apóstolo claramente
explica que a espada do Espírito é a Palavra de Deus (Efésios 6.17).
Como vestir e usar a armadura de Deus?
O apóstolo Paulo termina sua analogia sobre a armadura de
Deus ensinando como o cristão pode vestir essa armadura. Ele diz que é somente
por meio de ter uma vida de oração que o crente pode estar devidamente equipado
com a armadura de Deus e pronto para a guerra espiritual.
Já dissemos que o cristão nada pode fazer por suas próprias
forças. A fonte de sua força é o poder do próprio Deus. Assim como um soldado
deve estar em completa comunhão com seu comandante através de uma comunicação
apropriada, o crente deve estar em plena comunhão com Deus através da oração.
O apóstolo ainda é bem específico em falar sobre como deve
ser a vida de oração do soldado de Deus. Ela deve incluir orações e súplicas,
isto é, uma variedade que inclui adoração, ação de graças, confissão,
intercessão e petição. Quanto à frequência, ela deve ser em todo tempo.
A vida de oração daquele que veste a armadura de Deus deve
ser no Espírito. Isso significa que a oração do crente deve estar submissa e
alinhada à vontade de Deus. Paulo ainda aponta a vigilância como o modo que
caracteriza a vida de oração do cristão, e fala da necessidade da perseverança.
Então vestido da armadura de Deus, os alvos da oração do
crente deve ser “todos os santos” (Efésios 6.18). Num campo de batalha, um bom
soldado sempre deve ser solidário, encorajador e comprometido aos companheiros
que lutam ao seu lado. Então que possamos entender esta urgente verdade
bíblica, e que tomemos posse cada vez mais da armadura de Deus que nos foi
providenciada por Ele.