16/05/2021

17 - A motivação do amor - Parte 2

 


 

Filemom 1.17 a 25 Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de próprio punho: Eu pagarei, para não dizer que você me deve a sua própria pessoa. Sim, irmão, eu gostaria de receber de você algum benefício por estarmos no Senhor. Reanime o meu coração em Cristo! Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do lhe que peço. Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês. Epafras, meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia-lhe saudações, assim como também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de todos vocês”.

Cartas da Prisão

Na aula anterior nó vimos o testemunho de John Bunyan: que por 12 anos se viu privado de sua liberdade por se recusar a dizer que nunca mais pregaria o evangelho. Na prisão, conquanto estivesse mentalmente massacrado por saber que sua família estava privada de sua presença, provisão e proteção, Bunyan não desperdiçou seu tempo, mas nos abençoou com a composição de nada menos do que nove livros, dentre os quais se destaca O Peregrino.

A inspiração para aquele puritano, escritor e pastor batista era o apóstolo Paulo, o qual, durante seu primeiro encarceramento em Roma, escreveu nada menos que Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. A carta a Filemom tem sido nosso objeto de estudo, e nesta que é a 17ª lição da série, nós concluiremos o tema: a motivação do amor. Concluiremos também o estudo expositivo desta carta.

Há no texto que lemos pelo menos cinco motivações para se perdoar:

A visibilidade do evangelho (vs. 17 a 19); a possibilidade de abençoar (v. 20); a necessidade de obediência (v. 21); a importância de se manter comunhão (vs. 22 a 24); a medida da graça que recebemos de Cristo (v. 25).

As duas primeiras nós já estudamos. Agora nós nos debruçaremos sobre as três últimas.

3 - A necessidade de obediência

O terceiro motivo para se amar a tal ponto de perdoar é o reconhecimento de que o cristão é chamado a ser obediente ao Senhor Jesus Cristo. Com efeito, o discipulado cristão consiste, essencialmente, em se guardar ou se obedecer a tudo quanto o Senhor nos ordenou (Mateus 28.20). Quem ama Jesus, obedece a Jesus e quem não o ama, não o obedece (João 14.23 e 24). Uma das coisas que o Senhor nos ordenou foi que perdoássemos aos que nos ofendem (Mateus 6.14 e 15). Então, sabedor de que Filemom era um discípulo fiel do Senhor Jesus Cristo, Paulo pôde lhe escrever, versículo 21 “Escrevo-lhe certo de que você me obedecerá, sabendo que fará ainda mais do lhe que peço”.

O apóstolo está tocando novamente no coração de Filemom sobre a necessidade de se obedecer a Deus. Paulo não está falando sobre Filemom ser obediente a ele mesmo, Paulo. No início da carta, você se lembrará, o apóstolo já tinha escrito, versículo 8 “Por isso, mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever”, que nunca forçaria imporia obediência a Filemom, mesmo estando investido de toda a autoridade apostólica. Para o apóstolo bastava saber que Filemom era um crente fiel. Ele conhecia as características daquele irmão (vs. 4 a 7). Portanto, estava confiante de que Filemom agiria de maneira correta e obedeceria a ordem de Deus para se perdoar.

Àquela altura, o bom discípulo de Paulo já conhecia o mandamento do Senhor sobre a quantidade de vezes que se deve perdoar: “setenta vezes sete” (Mateus 18.21 e 22). Jesus, aliás, disse assim: “Mesmo que ele peque contra você sete vezes por dia e, a cada vez, se arrependa e peça perdão, perdoe-o” (Lucas 17.4). Diante desse dever, humanamente impossível, os apóstolos desabafaram: “Faça nossa fé crescer”! (Lucas 17.5). O Senhor, então, os ensinou a dar pequenos passos de fé, mesmo que apenas do tamanho de um grão de mostarda, nessa tarefa de perdoar (Lucas 17.6).

Filemom também já estava familiarizado com a convicção do apóstolo Paulo, impressa em 2 Corintos 2.7 e 8, de que o perdão, o conforto e a reafirmação do amor são essenciais ao pecador quebrantado e arrependido. Ele certamente tinha certeza do que Paulo dissera aos efésios e também aos colossenses:

Efésios 4.31 e 32 “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo”.

Colossenses 3.12 a 15 “Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seus corações, visto que vocês foram chamados a viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos”.

Filemom sabia que Deus ordena o perdão. Paulo tinha certeza de que ele tinha conhecimento desse dever, por isso que ele não escreve expressamente sobre o perdão nesta carta pessoal. Filemom, por exemplo, já teria lido Colossenses 3 (cf. Colossenses 4.7 a 18), e Paulo, com base no que conhecia de Filemom (Filemom 4 a 7) estava certo de que ele obedeceria e perdoaria Onésimo, estou “certo de que você fará (obedecerá) o que lhe peço, e até mais” (Filemom 21). Paulo estava certo de que Filemom obedeceria de forma a tornar visível o evangelho e a abençoar a todos os envolvidos, especialmente a Paulo e a igreja em Colossos.

Note ainda que ele diz: “Filemom, estou certo de que você será obediente e perdoará Onésimo, mas eu sei também que você fará até mais do que lhe peço” (v. 21). Até mais o quê, Paulo? Talvez, concedendo liberdade ao agora irmão em Cristo, matando um bezerro cevado e fazendo uma festa de celebração pela vida que fora alcançada pelo amor de Deus Pai, transformada pela graça de Deus Filho e que agora desfrutava da comunhão e da consolação de Deus Espírito Santo.

A necessidade de se obedecer a tudo que Jesus nos ordenou é uma motivação para amarmos e perdoarmos com fé. Essa obediência promove libertação e celebração.

4 - A importância de se manter comunhão

Outra motivação para se perdoar em amor é a importância de se manter comunhão com o corpo de Cristo. Paulo deixa isso tudo muito claro, como se segue, versículos 22 a 24 “Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês. Epafras, meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia-lhe saudações, assim como também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores”.

Paulo tinha a certeza de que o processo legal contra ele era muito fraco e que seria, em breve, posto em liberdade (cf. Filipenses 2.23 e 24), tanto que pede a Filemom que fique na expectativa de em breve recebê-lo em sua casa e, assim, em favor dele, permanecesse em oração (v. 22). Temos aqui um apelo muito sutil por parte de Paulo, “Por favor, prepare um quarto para mim, pois espero que minhas orações sejam respondidas e eu possa voltar a visitá-lo em breve” (v. 22).

Comentando sobre esse versículo, J. B. Lightfoot escreveu que “há um leve constrangimento nessa menção de uma visita pessoal a Colossos. O apóstolo poderia, assim, checar por si mesmo se Filemom não havia decepcionado suas expectativas”. (Citado por John MacArthur, p. 229). Para que essa doce comunhão não fosse quebrada, melhor seria se Filemom atendesse ao apelo de Paulo. O apóstolo, inclusive, menciona que estava orando por tudo isso, “espero que minhas orações sejam respondidas” (v. 22), e Filemom jamais seria capaz de orar no mesmo sentido, caso não estivesse disposto a perdoar Onésimo.

É importante, de passagem, falarmos um pouquinho sobre o meio pelo qual Paulo esperava que tudo aquilo acontecesse: a oração dos santos. John MacArthur Jr., pregando sobre este texto, fez o seguinte comentário a respeito de Filemom 22:

“Isso é maravilhoso. Ele sabe que a soberania de Deus realiza seus propósitos, mas também sabe que a soberania de Deus realiza seus propósitos por meio da oração. Ninguém pode estudar sobre a oração sem estudar esse versículo. Paulo diz “minha esperança é que eu seja liberto e possa visitar, e o meio de eu voltar a visitá-lo será através de suas orações”.

Como eu disse em anos anteriores, orações movem Deus. Orações são os nervos que movem os músculos da onipotência. A oração não é um exercício de inutilidade, posto que Deus fará o que ele deve fazer; a oração é o meio pelo qual Deus fará o que ele deve fazer. “A oração de um justo tem grande poder e produz grandes resultados”, como nos diz Tiago 5.16. Paulo estava muito ciente da obra providencial de Deus. Ele se referiu a essa soberana providência no versículo 15, quando presumiu que talvez Onésimo tivesse até mesmo fugido para poder voltar a Filemom como cristão. Paulo sabia que Deus estava trabalhando em tudo isso, e ele diz: “Minha esperança é que Deus me deixe ir até você e os meios para isso serão através de suas orações”. O apóstolo não apenas disse à Filemom que estava indo, mas demonstrou o meio pelo qual ele chegaria: “Filemom, comece a orar por minha chegada”.

Enquanto Filemom orava, Deus agia para libertar Paulo da prisão em Roma, ao mesmo tempo que agia para libertar o próprio Filemom da prisão da falta de perdão. Assim, a comunhão entre ambos era preservada e cultivada. A oração é a liga da comunhão.

A vida cristã não é para ser vivida em um vácuo. Cristãos não agem sozinhos, independentes de comunhão. Filipe Fontes foi muito acertado em uma postagem que fez no Twitter (@filipecfontes) no dia, 20 de agosto de 2020. Disse ele, que é Doutor em Educação, Arte e história da Cultura pela Universidade Mackenzie: “Se o mundo todo é o ambiente de serviço a Deus e o campo de batalha, a igreja é o ambiente de preparo e o quartel general. Abandone a igreja sob a desculpa de servir a Deus no mundo e rapidamente você estará servindo, no mundo, a outro deus”.

A comunhão dos santos na igreja local é importante para a nossa sobrevivência. Paulo deixa isso muito claro, ao destacar para Filemom os homens de sua comunhão pessoal naquele momento de sua vida, ao mesmo tempo que colocava Filemom devedor a eles também, tanto quanto à Paulo. Ah, a importância de se manter comunhão! Ouça, mais uma vez, versículos 22 a 24 “Além disso, prepare-me um aposento, porque, graças às suas orações, espero poder ser restituído a vocês. Epafras, meu companheiro de prisão por causa de Cristo Jesus, envia-lhe saudações, assim como também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores”.

Cinco homens (contando Paulo eram seis). Cinco homens preciosos para Paulo. Cinco homens preciosos para Filemom. Cinco homens que Filemom conhecia muito bem. Cinco homens que conheciam Filemom muito bem. O que Paulo estava dizendo?

O apóstolo estava afirmando que Filemom não poderia tomar sua decisão, não poderia agir independentemente da comunhão dos santos. Filemom não poderia agir sozinho. Se ele agisse sozinho e não perdoasse, quebraria o vínculo de amor que existia entre ele e aqueles homens de fé. Frustraria as expectativas deles sobre a sua pessoa. Daria a eles um mau exemplo. Mancharia seu testemunho. Portanto, não poderia fazer apenas o que sentisse vontade de fazer, como se existisse ou vivesse sozinho e sem ter que dar satisfação a ninguém. Filemom não tinha um nível de responsabilidade apenas para com aquele que era seu líder espiritual (Paulo), havia também um nível de responsabilidade que o fazia ter que estabelecer um padrão de conduta para aqueles que eram seus amigos espirituais.

Cinco homens. “Eles enviam saudações, Filemom. Eles têm grandes expectativas a respeito de você”. Ah, a importância de se manter comunhão no contexto da igreja local! Um tipo de comunhão que nos fortalece em Cristo, nos encoraja pelo evangelho, nos exorta em amor, nos faz prestar contas uns aos outros e requerer contas uns dos outros, impedindo-nos de fazer o que nos dá na cabeça como se não tivéssemos que prestar contas a ninguém. Eu te pergunto: Quem são os cinco da sua vida? A quem na igreja você presta contas de sua caminhada cristã? Com quem você ora? Quem ora por você? Ah, esse momento de “igreja virtual”! Deus nos livre disso vir para ficar! Que desgraça seria para a saúde dos crentes! Você precisa da comunhão da igreja de Jesus Cristo.

Portanto, submeta-se aos seus líderes, como está dito em Hebreus 13.17 “Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês”.

Submeta-se também aos irmãos de fé, como Paulo colocou em Efésios 5.15 a 21 “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor. Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo”.

Ah, a importância da comunhão e da prestação de contas, a importância de se manter comunhão na igreja local! Sem a igreja, sem os irmãos e a comunhão da igreja, ou ainda, com um pé na igreja e outro sabe-se lá onde, o risco que se corre é o de se perder de forma irreversível. Considere comigo a lista de cinco nomes dos homens de Paulo. Preste bastante atenção na importância da igreja local na perseverança dos santos para a salvação.

Os cinco homens citados por Paulo em Filemom 23 a 24 também são mencionados em Colossenses 4.9 a 14. Além deles (Epafras, Marcos, Aristarco, Demas e Lucas), Paulo citou também na outra carta os seguintes: Tíquico (Colossenses 4.9) e Jesus, chamado Justus (Colossenses 4.11). Sobre esse último, nada se sabe. Provavelmente fosse um nativo de Roma e desconhecido de Filemom. Tíquico, que foi mencionado em Colossenses, não é mencionada na carta a Filemom. Servindo como o carteiro que entregaria as duas cartas (Colossenses e Filemom), certamente que ele mesmo entregaria sua saudação, pessoalmente, a Filemom. (Fonte: MacArthur, p. 230).

A lista de nomes a Filemom começa com Epafras, que foi mencionado em Colossenses 4.12 e 13, onde se lê a seu respeito “Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações. Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em toda a vontade de Deus. Dele dou testemunho de que se esforça muito por vocês e pelos que estão em Laodiceia e em Hierápolis”. Epafras deve ter se convertido sob o ministério de Paulo. É provavelmente o organizador da igreja de Colossos e das outras duas igrejas mencionadas pelo apóstolo: em Laodiceia e em Hierápolis (Colossenses 4.13). Ele próprio era de Colossos, certamente bem conhecido de Filemom. Deveria ser o presbítero ou pastor titular da igreja (Colossenses 1.7 e 8) que se reunia na casa de Filemom, que também era presbítero. Paulo fala muito bem dele aos colossenses (1.7 e 8; 4.12 e 13): servo fiel de Jesus, homem de serviço incansável, doutrinador de mão cheia e muito fervoroso na oração. A tradição nos dá conta de que morreu como mártir na cidade onde serviu como pastor a vida toda, Colossos. (MacArthur, p. 230).

O segundo nome da lista é Marcos. Ele é mencionado em Colossenses 4.10 como o primo de Barnabé. A igreja colossense é instruída a, caso ele fosse até eles, recebê-lo bem. A informação de que João Marcos era primo de Barnabé talvez nos ajude a explicar algo do conflito em Atos 15. Você deve se lembrar: quando Paulo e Barnabé estavam em viagem missionária (Atos 13.13), João Marcos os acompanhava. O problema era que, aparentemente, o jovem temia dificuldades, e decidiu os abandonar. Quando mais tarde a dupla missionária decidiu que viajaria para visitar as igrejas organizadas, Paulo se recusou a atender o desejo de Barnabé, que queria levar com eles João Marcos. Desentenderam-se e se separaram (Atos 15.36 a 39). O fato de ser primo de João Marcos talvez explique por que Barnabé tomou as dores e saiu em defesa do jovem que antes os havia abandonado no campo missionário. Graças a Deus, porém, Marcos melhorou muito nessa época. Por meio daquela forte disciplina de Paulo, ele aprendeu grandes lições e amadureceu. Provavelmente o tenha ajudado a forte influência de Pedro sobre sua vida, que o chama de filho na fé, “meu filho Marcos” em 1 Pedro 5.13. Conta a tradição que, sob os cuidados de Pedro em Roma, Marcos escreveu seu Evangelho a partir de sermões que eram pregados pelo apóstolo. Então, sob a tutela de Barnabé e de Pedro, Marcos deu a volta por cima e se tornou outro homem. Era tamanha a transformação que em 2 Timóteo 4.11, quando Paulo estava no fim de sua vida e escreveu a Timóteo, ele disse: “Traga Marcos com você, pois ele me será útil no ministério”. A comunhão sob a qual Marcos plantou sua vida o ajudou a crescer e perseverar até o final. Conta a tradição que ele foi pastor na cidade de Alexandria no Egito, e que, em 68 d.C., perseguidores do evangelho amarraram corda em seu pescoço e o arrastaram pelas ruas da cidade até que ele morresse enforcado e esfolado. (Por que 4 Evangelhos? David Allan Black. Editora Vida: 2004).

O terceiro da lista é Aristarco. Foi um dos pouquíssimos judeus convertidos ao cristianismo (Colossenses 4.10 e 11) a servir ao lado de Paulo. Era natural de Tessalônica (Atos 20.4; 27.2). Esteve com Paulo em Éfeso durante sua terceira viagem missionária e sua longa permanência por lá, ensinando o evangelho. Foi, juntamente com Gaio, capturado pelos desordeiros efésios em Atos 19.29, e estava com Paulo na viagem que resultou em naufrágio em Atos 27.4. Colossenses 4.10 nos informa de que esteve com Paulo na prisão, talvez voluntariamente, colocando-se em cativeiro para servir ao apóstolo em suas necessidades. De acordo com a tradição, foi martirizado em Roma, sob a perseguição de Nero.

A lista de Paulo também traz o nome de Lucas, “o médico amado” (Colossenses 4.14). É assim que ele é conhecido: “Lucas, o médico amado”. Crente, cheio de amor e autor do terceiro Evangelho, esse foi Lucas. Note um fato interessante: desses cinco, dois deles escreveram Evangelhos: Marcos e Lucas, e eles estavam juntos com Paulo. Lucas costumava ser o companheiro de viagem de Paulo, pelo que escreveu também o livro de Atos dos Apóstolos. Sempre ao lado de Paulo, até o final (2 Timóteo 4.11), certamente cuidou com muito carinho da saúde do apóstolo aos gentios. Conta-se que ele morreu servindo a Cristo na Grécia, com idade já avançada, contando cerca de 85 anos.

O último da lista de Paulo é Demas (Colossenses 4.10). Escrevendo a Filemom, Paulo o cita como colaborador em penúltimo lugar, antes do nome de Lucas (Filemom 24). Pouco se sabe sobre Demas, e a única coisa que se sabe é muito triste. Em 2 Timóteo 4.10, Paulo escreveu: “Demas me abandonou, pois ama as coisas desta vida e foi para Tessalônica”. Lamentável! O apóstolo João escreveu assim em sua epístola, 1 João 2.15 “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele”. Demas, por amar o mundo, apostatou da fé. Apesar de que aqui, tanto em Colossenses como em Filemom, ele aparece como colaborador de Paulo no evangelho. Meu Deus! Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe! Tão familiar, mas tão perdido! Totalmente perdido. Perdido dentro da casa de Deus! Demas, ao contrário dos outros quatro, não perseverou. Não soube desfrutar da comunhão. Amou mais o mundo. Deixou tudo e todos e abraçou o mundo para a sua perdição. Demas serve de advertência para nós todos. Até mesmo líderes na cabeça de ministérios podem ser verdadeiros apóstatas, ao que parece. Devemos ler sobre a história de Demas como um aviso, um ultimato para não abusarmos da graça de Deus nem pensarmos que por termos algum lastro de qualquer natureza na engrenagem ou na tradição da igreja estejamos seguros por causa de nosso perfil, reputação, serviços prestados ou mesmo posição privilegiada que ocupamos dentro da igreja de Jesus Cristo. Ouça a advertência da história de Demas!

Pouco tempo depois da composição da carta aos Colossenses e a Filemom, Paulo foi liberto e deu continuidade ao seu ministério. Porém, foi preso novamente quando estava em Trôade, foi tão abrupta a prisão que nem deu tempo de ele colocar na mala sua capa, livros e pergaminhos (2 Timóteo 4.13). O apóstolo foi martirizado em Roma por volta de 67 d.C. Foi quando estava nessa segunda prisão, e da qual ele nunca mais saiu, senão para ser morto, que o apóstolo lamentou a apostasia de Demas, afirmando que ele, movido pelo amor ao presente século, foi para Tessalônica (2 Timóteo 4.10). Ora, Tessalônica era uma cidade portuária, o maior e mais movimentado centro comercial da Macedônia. Lá Demas certamente encontrou tudo de que precisava para satisfazer suas paixões.

Uma pergunta não me saía da cabeça neste ponto: como saber se estamos amando o presente século, a ponto de abandonar tudo como Demas apostatou? Bem, penso que estamos amando este mundo quando começamos a ver as coisas de forma distorcida.

Primeiro: as ofensas que cometemos contra Deus. A respeito desses pecados, nós apenas racionalizamos, pensando que não são tão sérios assim, argumentando que todos fazem a mesma coisa, achando que Deus não os leva tão a sério assim.

Segundo: as ofensas que os outros comentem contra nós. Essas coisas tomam um tamanho desproporcionalmente maior do que o devido, “Como a pessoa foi capaz de fazer isso comigo”! Simplesmente não nos importamos mais tanto assim com a santidade de Deus e não praticamos o perdão.

Resultado: nosso amor não perdura, nosso amor por Deus e pelo próximo não persevera; é sinal de que estamos apaixonados pelo mundo, por este presente século! Cuidado, crente! Muito cuidado! Pare de amar este mundo.

As cinco pessoas sobre as quais aprendemos eram muito próximas e queridas de Filemom, sem contar o próprio apóstolo Paulo. Havia comunhão entre eles todos. Se Filemom não perdoasse Onésimo, aquela atitude destruiria o vínculo da paz com aqueles homens. Veja você, nossas atitudes sempre estão interligadas. Se você guarda rancor, você quebra sua comunhão, com Deus e com o próximo. O perdão é importante para se manter comunhão, sem a qual, o caminho para a perdição se abre a tal ponto de nos engolir. Lembre-se da história de Demas.

5 - A medida da graça que recebemos de Cristo

Já neste ponto da carta, Filemom certamente estaria convencido de sua necessidade de perdoar Onésimo. No entanto, como é comum a qualquer um de nós, mortais pecadores, ele poderia estar pensando: “Mas eu não consigo perdoar! Preciso de força para perdoar”! Paulo, então, artesão de palavras, anota sua bênção apostólica tradicional na forma de uma oração por Filemom (e por toda a igreja que estava envolvida em ajudar Filemom, preste atenção no pronome que está no plural). Versículo 25 “A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito de todos vocês”.

Essas são as palavras finais de Paulo a Filemom. O apóstolo sabia que o que ele havia orientado Filemom a fazer era impossível de se fazer sozinho e na força da carne. A natureza humana não perdoaria aquela ofensa. Assim, Filemom, sua família e a igreja toda em Colossos precisariam se unir para, com a força que vem da “graça de nosso Senhor Jesus Cristo”, perdoar Onésimo. Aquilo que não era possível apenas pela força de vontade, posto que a vontade humana inclinaria para a vingança. Não era possível apenas pela lei, posto que a lei faria justiça. Seria possível pela graça, a graça do Senhor Jesus Cristo, trabalhando com o espírito, o homem interior, inclinando o coração de todos para a possibilidade do perdão, fazendo-os lançar as dívidas de Onésimo na cruz de Cristo.

Povo de Deus, em Cristo, somente em Cristo, nós somos perdoados por Deus e recebemos poder para perdoar aqueles que nos têm ofendido. O amor de Deus Pai nos encontra na cruz de Cristo. Também na cruz, justiça é feita. Esse amor que provamos de Deus em Cristo nos constrange a perdoar, e o preço que Jesus pagou nos convida a lançar sobre ele todas as dívidas de nossos devedores, porque é lá na cruz o lugar do pecado, tanto o nosso como o dos outros. Portanto, a medida da graça que recebemos de Cristo nos motiva a perdoar.

A motivação do amor

Paulo, que estava preso injustamente, escreveu a Filemom para o instruir na prática do perdão. Que forma maravilhosa de aproveitar seus dias amargos! Que forma amorosa de servir ao irmão. O apóstolo, então, escreve e diz: Você deve perdoar Onésimo, Filemom. A motivação para você perdoar está em que o seu amor na forma de perdão, além de ser necessário (uma vez que você é cristão), torna visível o evangelho através de sua vida, possibilita você a abençoar, é importante para você manter comunhão, e também por causa da medida da graça que você recebeu de Cristo. Perdoe Onésimo, Filemom. Perdoe.

Começamos esta mensagem citando John Bunyan. Vamos termina-la com a história do que aconteceu com ele após sua libertação definitiva da prisão em 1675. Bunyan se tornou o pastor de sua igreja, Igreja Batista, em Bedford. Ensinou com fidelidade a palavra de Deus ao seu rebanho, além de ter escrito, debatido e evangelizado bastante.

Os anos correram e em 1688 um jovem vizinho de Bunyan o abordou e lhe contou que ele estava brigado com o pai. O rapaz implorou ao pastor que fosse com ele até o pai e mediasse a reconciliação. O problema é que o pai do moço morava em Reading, cerca de 80 km de Londres, aonde Bunyan deveria estar no domingo para pregar. Lembre-se, estamos falando de fins do século XVII, Bunyan já contava quase 60 anos, cansado e viajando no lombo do cavalo. Persuadido de que deveria ajudar, ignorou os sacrifícios e foi assim mesmo. Foi bem-sucedido em sua missão e obteve a reconciliação entre pai e filho.

Cavalgando de volta para Londres, onde deveria pregar no domingo, Bunyan foi pego por uma chuva muito forte, um verdadeiro temporal. Não estava se sentindo bem, quando chegou ao seu compromisso. Mesmo assim pregou, com a mesma desenvoltura de sempre. Após terminar a mensagem, ele estava se sentindo miseravelmente doente. Desenvolveu uma pneumonia e nos dias seguintes veio a falecer, aos 31 de agosto de 1688.

Eu amo o fato de que John Bunyan gastou suas últimas energias trabalhando pela reconciliação. É muito parecido com Paulo, muito parecido com seu mestre! O homem que havia injustamente passado 12 anos na prisão, uma vez livre, atuou incansavelmente para promover reconciliação: entre o homem com Deus, e o homem com seu próximo.

O último sermão que ele pregou, lá em Londres, após a viagem de reconciliação, baseado em João 1.13 “os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (ARA), levantou um ponto que merece nossa atenção:

“Se vocês são filhos de Deus, vivam juntos com amor; se o mundo briga com você, não importa; mas é triste se vocês brigam uns com os outros na comunhão; se estiver acontecendo entre vocês, é um sinal de má educação; não está de acordo com as regras que vocês têm na palavra de Deus. Você vê uma alma que tem a imagem de Deus nela? Ame essa pessoa, ame-a; diga: esta pessoa e eu devemos ir juntos para o céu um dia. Sirvam uns aos outros, façam o bem uns aos outros; e se alguém cometeu algum mal contra você, ore a Deus para corrigir você e ame a irmandade”. (John Bunyan, Bunyan’s Last Sermon, vol. 2, Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2006, p. 758).

Que maneira maravilhosa de gastar suas últimas energias nesta vida: sem amargura no coração (mesmo que tenham lhe privado de 12 anos felizes de sua vida com sua família!), sem rancor ou amargura na alma, servindo e promovendo a reconciliação em Cristo, pregando e instruindo o povo santo a viver, pregar e praticar o amor de Cristo. Assim foi com John Bunyan, com o apóstolo Paulo, com Jesus Cristo, nosso Senhor.

Será com você?